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ANÁLISE
Mostra não é a mesma de anos atrás
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Festivais não são eternos,
mas fazem o que podem para
sobreviver. O Festival de Curitiba, quase vinte anos depois de
sua primeira edição, luta para
manter a aura de principal festival do teatro brasileiro. Depois de ter se descaracterizado
nos últimos anos, nota-se na
programação de 2010 um esforço de recuperação da importância que ele já teve no panorama teatral do país.
Quando nasceu, como um
projeto arrojado de jovens empresários curitibanos, o festival
pretendia reunir em sua mostra principal o que houvesse de
mais importante na cena brasileira daquele ano, de preferência propiciando a alguns grupos
e artistas de ponta que estreassem em Curitiba. Ser convidado para o festival em seus primeiros anos era já um reconhecimento, e vários artistas ganharam notoriedade nacional a
partir dele.
A programação deste ano não
chega a impressionar pelas estreias prometidas, mas não deixa de representar uma seleção
criteriosa de parte do que de
melhor veio sendo apresentado
no eixo Rio-São Paulo, desde o
ano passado. Seleções são sempre reflexos da visão dominante entre os curadores e, no caso
deste festival, transparece uma
aposta em espetáculos que alcançam o grande público, ainda
que se permitam algumas exceções mais experimentais.
Parece coerente que a direção do festival venha optando
por uma curadoria menos
preocupada com o radicalmente novo ou provocante, como
era a perspectiva nos primeiros
anos, já que, como um empreendimento que visa o lucro
e é administrado empresarialmente, o evento foi se tornando
mais uma grande feira do que
propriamente um espaço de experimentação estética.
É um mérito dos organizadores que o festival seja autossustentável financeiramente, sem
depender de subsídio direto do
poder público, mas essa situação traz alguns riscos. Um deles
é subverter o espírito que presidia o projeto original, de torná-lo um fomentador da qualidade
artística e de formação de público para o teatro.
Onde esse perigo aparece de
forma mais clara é no chamado
Fringe, mostra que é aberta a
qualquer um que queira trazer
seu espetáculo e esteja disposto
a financiar seu próprio risco.
Inspirado em mostra semelhante, abrigada pelo Festival
de Edimburgo, na Escócia, o
Fringe de Curitiba foi se tornando uma arapuca para jovens artistas com projetos experimentais, e um paraíso para
empresários teatrais com espetáculos populares, dispostos a
aproveitar o mercado aquecido
durante o festival.
Este ano, parece que os organizadores se preocuparam em
garantir um mínimo de condições a alguns espetáculos do
Fringe sem vocação comercial,
mas promissores artisticamente. Estabeleceu duas curadorias
para selecionar uma programação especial em dois espaços da
cidade, em que se têm melhores condições de produção para
companhias iniciantes e foca-se no caráter experimental.
Se o festival já não é o mesmo, cabe especular se esse enfraquecimento reflete uma fase
menos vigorosa do nosso teatro. Afinal, os artistas que estarão em Curitiba são inequívocas expressões do que há de
melhor na criação teatral brasileira. Mudou o festival ou é o
teatro que está em baixa, meio
andando de lado?
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