São Paulo, quarta, 11 de março de 1998

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Edifícios são símbolos da arquitetura de SP

LUCIO GOMES MACHADO
especial para a Folha

Os dois edifícios que abrigam a FAU marcaram as gerações que neles estudaram e são símbolos da arquitetura paulista.
Fundada em 1948, a FAU inicia suas atividades ocupando as instalações da Politécnica, dando continuidade ao curso de "engenheiros-arquitetos". No ano seguinte, o pequeno grupo de jovens da primeira turma passaria a ocupar a antiga Vila Penteado.
Armando Alvares Penteado doou à USP a antiga residência, com a finalidade de ali instalar um curso de artes. Encomendada, em 1902, por seu pai ao arquiteto Carlos Ekman, a Vila Penteado seria durante décadas o centro da vida familiar e um dos centros da vida econômica de São Paulo.
O conde Antônio havia conhecido o "Art-Nouveau" em viagem que realizara com a família à Europa e desejava ter exemplar, com a mesma atualidade, para residir.
A formação de Ekman e as condições objetivas do artesanato local levaram à construção de uma mansão com linhas gerais do estilo Sezession e ornamentos com os mais variados estilos.
Boa parte da pintura mural foi recoberta por pintura branca por ocasião das obras de adaptação do edifício para abrigar a faculdade. No entanto, o edifício sempre foi tratado como um valioso patrimônio por professores e alunos. Com o aprofundamento dos estudos de história da arte e da arquitetura desenvolvidos nos anos seguintes foi possível usar o edifício de uma nova forma.
A partir de 1968 a FAU passa a funcionar em edifício projetado por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. O edifício reúne características que o tornam único. Externamente apresenta uma massa de concreto executado segundo os padrões do brutalismo, com o processo de execução das formas de concreto à vista, mas ao mesmo tempo apresenta regularidade da forma predominante e ainda uma sequência de apoios que enfatizam claramente a referência à arquitetura clássica.
Antevê-se, já do exterior, a riqueza dos espaços interiores: cada grande setor está instalado em um determinado nível, estando todas as funções interligadas por um notável sistema de rampas. A formação inicial de Artigas na linhagem de Frank Lloyd Wright está lá presente com a multiplicidade de espaços interpenetrados. Mas sua marca pessoal ultrapassa em muito as referências iniciais.
O "salão caramelo", talvez referência ao salão central da Vila Penteado, unifica com as rampas todo o espaço interior, cuja marca predominante é a introspecção, quase religiosa, consagrada ao trabalho intelectual, determinada pela inexistência de aberturas nos espaços de aulas e dos estúdios.
Infelizmente o edifício nunca foi terminado condignamente e nem tem sido tratado por seus ocupantes com o mesmo carinho com que era tratada a Vila Penteado.
Um esforço de recuperação do edifício tem início com a construção de um anexo projetado por Giancarlo Gasperini, recentemente concluído.
Neste ano que o prédio completa 30 anos de ocupação, o corpo técnico da biblioteca conquistou uma nova instalação para a mais valiosa coleção bibliográfica sobre arquitetura existente no Hemisfério Sul, com projeto (do Escritório Piratininga) e execução de alta qualidade. A USP dispõe, assim, de dois edifícios que marcam o patrimônio arquitetônico de São Paulo.


Lucio Gomes Machado é arquiteto e professor do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto da FAU-USP


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