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TELEVISÃO
Anúncio do projeto foi feito na NAB, a maior feira de radiodifusores do mundo, que termina hoje, em Las Vegas
Globo lança emissora de TV digital piloto
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois do rompimento público
entre as TVs, a Globo lança mão
de uma estratégia para tentar reunir as redes novamente: criará
uma emissora de TV digital piloto. O canal será montado em São
Paulo no segundo semestre.
O anúncio foi feito por Fernando Bittencourt, diretor de engenharia da Globo, na feira da NAB,
a associação de emissoras dos
EUA, em Las Vegas.
Segundo o site Pay TV Real Time, especializado em telecomunicações, o projeto está sendo tocado com o apoio da Anatel (Associação Nacional de Telecomunicações) e irá testar todos os aspectos da TV digital, desde tecnologia
até programação. Bittencourt
afirmou que o canal será administrado por uma entidade sem fins
lucrativos e usará licença de uso
experimental. Além das redes de
TV, universidades, fabricantes de
aparelhos e empresas de telecomunicações podem participar.
Se até julho o governo não houver definido o padrão de transmissão digital -o que é muito
provável-, serão usados os três
que estão disputando o mercado
brasileiro: norte-americano, europeu e japonês.
A Globo sempre defendeu a
adoção do sistema do Japão no
Brasil, principalmente pela possibilidade de transmissão móvel
(TV em celulares e carros, por
exemplo). Até julho do ano passado, contava com o apoio de todas
as concorrentes, reunidas no grupo SET/Abert (Sociedade de Engenharia de Televisão e Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV). Mas a Bandeirantes
abandonou a parceria e adotou
um discurso mais próximo do
lobby norte-americano, defendendo a prioridade do aspecto
econômico e não do tecnológico.
Com o rompimento público entre as redes, em fevereiro deste
ano, e a criação de uma associação paralela entre Band, Record e
SBT, a Globo passou a se preocupar com a questão da TV digital.
Fontes ouvidas pela Folha acreditam que o projeto da emissora
de TV digital piloto seja uma maneira de amenizar a "guerra" e de
pressionar a Anatel e o governo
para a definição do padrão.
Antonio Teles, vice-presidente
da Bandeirantes e um dos diretores da nova entidade de TVs, disse
que não sabia do projeto da TV
digital piloto. "Até podemos participar, mas é bom que fique claro
que será uma experiência estritamente técnica", disse.
Vitrine digital
A Globo não poderia ter escolhido vitrine melhor para o anúncio
do projeto da emissora piloto. Este ano, mais ainda que em 2001, a
feira da NAB é o principal palco
das discussões sobre TV digital do
mundo. É também a maior oportunidade de reforçar o lobby pela
adoção do sistema dos EUA.
"A NAB é uma vitrine para a
ATSC [associação criadora do padrão norte-americano de TV digital". É quando podemos demonstrar o desenvolvimento da tecnologia. Este ano mostraremos que a
transmissão está melhor do que a
que foi vista pelos testes das TVs
no Brasil em 99 e 2000", disse Robert Graves, presidente da ATSC.
"Esperamos que os debates da
feira convençam emissoras e governo do Brasil de que nosso padrão é o melhor para o cidadão
brasileiro", afirmou Graves à Folha, por e-mail, já dando o tom do
lobby que permeia a NAB.
A feira, que começou sábado e
termina hoje, contou com 1.350
expositores e deve receber cerca
de 90 mil visitantes, sendo que
cerca de 30% são estrangeiros.
Entre eles, representantes de
emissoras de 130 países. E o Brasil
costuma ser um dos visitantes
mais esperados da feira. "O Brasil
e a América Latina são muito importantes para a NAB", afirma
Dennis Wharton, vice-presidente
de comunicações da NAB. Segundo ele, é difícil calcular o valor total que gira nas negociação da feira, mas "é certo que movimenta
dezenas de milhões de dólares".
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