São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 2002

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TELEVISÃO

Anúncio do projeto foi feito na NAB, a maior feira de radiodifusores do mundo, que termina hoje, em Las Vegas

Globo lança emissora de TV digital piloto

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do rompimento público entre as TVs, a Globo lança mão de uma estratégia para tentar reunir as redes novamente: criará uma emissora de TV digital piloto. O canal será montado em São Paulo no segundo semestre.
O anúncio foi feito por Fernando Bittencourt, diretor de engenharia da Globo, na feira da NAB, a associação de emissoras dos EUA, em Las Vegas.
Segundo o site Pay TV Real Time, especializado em telecomunicações, o projeto está sendo tocado com o apoio da Anatel (Associação Nacional de Telecomunicações) e irá testar todos os aspectos da TV digital, desde tecnologia até programação. Bittencourt afirmou que o canal será administrado por uma entidade sem fins lucrativos e usará licença de uso experimental. Além das redes de TV, universidades, fabricantes de aparelhos e empresas de telecomunicações podem participar.
Se até julho o governo não houver definido o padrão de transmissão digital -o que é muito provável-, serão usados os três que estão disputando o mercado brasileiro: norte-americano, europeu e japonês.
A Globo sempre defendeu a adoção do sistema do Japão no Brasil, principalmente pela possibilidade de transmissão móvel (TV em celulares e carros, por exemplo). Até julho do ano passado, contava com o apoio de todas as concorrentes, reunidas no grupo SET/Abert (Sociedade de Engenharia de Televisão e Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV). Mas a Bandeirantes abandonou a parceria e adotou um discurso mais próximo do lobby norte-americano, defendendo a prioridade do aspecto econômico e não do tecnológico.
Com o rompimento público entre as redes, em fevereiro deste ano, e a criação de uma associação paralela entre Band, Record e SBT, a Globo passou a se preocupar com a questão da TV digital.
Fontes ouvidas pela Folha acreditam que o projeto da emissora de TV digital piloto seja uma maneira de amenizar a "guerra" e de pressionar a Anatel e o governo para a definição do padrão.
Antonio Teles, vice-presidente da Bandeirantes e um dos diretores da nova entidade de TVs, disse que não sabia do projeto da TV digital piloto. "Até podemos participar, mas é bom que fique claro que será uma experiência estritamente técnica", disse.

Vitrine digital
A Globo não poderia ter escolhido vitrine melhor para o anúncio do projeto da emissora piloto. Este ano, mais ainda que em 2001, a feira da NAB é o principal palco das discussões sobre TV digital do mundo. É também a maior oportunidade de reforçar o lobby pela adoção do sistema dos EUA.
"A NAB é uma vitrine para a ATSC [associação criadora do padrão norte-americano de TV digital". É quando podemos demonstrar o desenvolvimento da tecnologia. Este ano mostraremos que a transmissão está melhor do que a que foi vista pelos testes das TVs no Brasil em 99 e 2000", disse Robert Graves, presidente da ATSC.
"Esperamos que os debates da feira convençam emissoras e governo do Brasil de que nosso padrão é o melhor para o cidadão brasileiro", afirmou Graves à Folha, por e-mail, já dando o tom do lobby que permeia a NAB.
A feira, que começou sábado e termina hoje, contou com 1.350 expositores e deve receber cerca de 90 mil visitantes, sendo que cerca de 30% são estrangeiros. Entre eles, representantes de emissoras de 130 países. E o Brasil costuma ser um dos visitantes mais esperados da feira. "O Brasil e a América Latina são muito importantes para a NAB", afirma Dennis Wharton, vice-presidente de comunicações da NAB. Segundo ele, é difícil calcular o valor total que gira nas negociação da feira, mas "é certo que movimenta dezenas de milhões de dólares".


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