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ARTES CÊNICAS
DANÇA
Ganhadora da mais concorrida premiação do gênero na Espanha, bailarina faz últimas apresentações no Brasil
Yerbabuena encena requinte do flamenco
ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Aos 31 anos, Eva Yerbabuena é a
estrela do momento da dança flamenca. O prestígio, no entanto,
não afetou sua simplicidade.
Avessa a estrelismos, Yerbabuena
tem como foco a consistência de
seu trabalho e a manutenção de
seu grupo, que ela formou em
1988. Esse elenco, formado por
quatro casais de bailarinos, sete
músicos e uma cantora, acompanha Yerbabuena na turnê brasileira que já percorreu quatro capitais e que se encerra a partir de hoje em São Paulo, com apresentações no Teatro Municipal e no
teatro Alfa.
Falar de estrelismos ganha sentido com relação à dança flamenca da atualidade quando se considera a quantidade de bailarinos
que perseguem a fama rápida,
embalados em estratégias de marketing. É o caso, por exemplo, de
Joaquín Cortés, cuja repercussão
meteórica já está sendo substituída pelo esquecimento.
Vigoroso em qualquer época, o
flamenco chegou ao terceiro milênio como expressão da moda.
Cultuado na Europa, América e
Ásia, continua contando com legiões de adeptos, sejam espectadores ou intérpretes, na nova geração. Com isso, também se proliferaram os "falsos brilhantes" que
com frequência também chegam
aos palcos brasileiros.
Com Yerbabuena, entretanto, é
possível contar com o requinte legado de bailarinas como Cristina
Hoyos. Embora premiações não
atestem talentos, o cobiçado Prêmio Nacional da Dança, até então
concedido na Espanha apenas para Hoyos, Antonio Gades e Antonio Canales, acaba de ser conquistado por Yerbabuena. Com isso, a
bailarina se equiparou às maiores
personalidades produzidas pelo
flamenco no século 20.
"Fama é a última coisa que me
passa pela cabeça", diz Yerbabuena, que também chamou a atenção de Pina Bausch, cujo festival
de dança na cidade alemã de
Wuppertal já contou com a presença da bailarina espanhola. "No
futuro quero me dedicar ao ensino, mas até lá tenho muito o que
aprender. Por enquanto, procuro
viver minhas inquietudes, desfrutar cada segundo de minha carreira e também depurar um método
de trabalho que possa ser transmitido aos novos intérpretes."
Na temporada brasileira, Yerbabuena está apresentando
"5Mujeres5" e "Flamenco de la
Cava". O primeiro, eleito o melhor espetáculo da Bienal de Sevilha de 2000, foi concebido pela
própria bailarina com a intenção
de expressar a evolução emocional de uma mulher. "Pode ser que
eu ainda encarne personagens femininos como Carmen ou Medéia. Mas, por enquanto, prefiro
me voltar para as experiência cotidianas e interpretar nossas relações com o amor, a solidão, a ambição."
Para encenar o emocional feminino em fases diversas, Yerbabuena optou por um cenário despojado, cujas transformações se valem
essencialmente da iluminação em
tons de branco, preto e vermelho.
"Para associar tradição e modernidade, procuro estar em sintonia
com as raízes da dança flamenca.
É preciso se enriquecer com o
passado para atingir a renovação,
que depende de autenticidade e
dom pessoal."
Depois de "5Mujeres5", o espetáculo se encerra com demonstração de flamenco puro, na coreografia sem roteiro específico de
"Flamenco de la Cava". "Quando
há cumplicidade entre bailarinos,
cantores e músicos, surge uma
sensação de liberdade infinita.
Em meio ao desprendimento desses momentos, me sinto viajando
no tempo."
Com sobrenome que remete a
uma planta aromática utilizada
na culinária típica da Espanha,
Yerbabuena ganha peculiaridade
biográfica por ter nascido em
Frankfurt. No entanto, ela viveu
em solo alemão somente por 15
dias. Migrando de volta para o
país natal, seus pais se estabeleceram em Granada, onde Yerbabuena cresceu.
Hoje, morando em Sevilha com
a filha e o marido -Paco Jarana,
responsável pela direção musical
de seus espetáculos-, Yerbabuena lembra que sua formação
ocorreu por meio da convivência
com professores e artistas, sem as
etapas tradicionais seguidas em
academias.
"Quando comecei a andar, já
me interessava pelo flamenco que
ouvia no rádio", diz.
Em fase de desemprego, seu pai
chegou a escrever uma carta para
o rei Juan Carlos pedindo subvenção para os estudos da filha. "Como tínhamos casa própria, o governo não nos deu esse apoio."
Em 1985, quando iniciou carreira profissional, Yerbabuena acumulava experiências com bailarinos como Mariquilla e Mario Maya e estudos de arte dramática em
Sevilha, além de um estágio em
Cuba, onde afirma ter aprimorado seus conhecimentos coreográficos com Johanes Garcia.
Hoje, embora já tenha participado do filme "Hotel", sob direção do britânico Mike Figgis e ao
lado de atores como John Malkovich, Yerbabuena não pretende
ter atividades paralelas à dança
que, como legítima andaluza, ela
assume como parte de sua natureza.
EVA YERBABUENA - quando: hoje, às
20h30; de 15 a 17, às 21h. Onde: hoje no
Teatro Municipal de São Paulo (pça.
Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 0/xx/11/
222-8698); de 15 a 17 no teatro Alfa (r.
Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel.
0800-558191). Quanto: de R$ 20 a R$ 110
(Municipal) e de R$ 45 a R$ 110 (Alfa).
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