São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 2002

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ARTES CÊNICAS

DANÇA

Ganhadora da mais concorrida premiação do gênero na Espanha, bailarina faz últimas apresentações no Brasil

Yerbabuena encena requinte do flamenco

ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Aos 31 anos, Eva Yerbabuena é a estrela do momento da dança flamenca. O prestígio, no entanto, não afetou sua simplicidade. Avessa a estrelismos, Yerbabuena tem como foco a consistência de seu trabalho e a manutenção de seu grupo, que ela formou em 1988. Esse elenco, formado por quatro casais de bailarinos, sete músicos e uma cantora, acompanha Yerbabuena na turnê brasileira que já percorreu quatro capitais e que se encerra a partir de hoje em São Paulo, com apresentações no Teatro Municipal e no teatro Alfa.
Falar de estrelismos ganha sentido com relação à dança flamenca da atualidade quando se considera a quantidade de bailarinos que perseguem a fama rápida, embalados em estratégias de marketing. É o caso, por exemplo, de Joaquín Cortés, cuja repercussão meteórica já está sendo substituída pelo esquecimento.
Vigoroso em qualquer época, o flamenco chegou ao terceiro milênio como expressão da moda. Cultuado na Europa, América e Ásia, continua contando com legiões de adeptos, sejam espectadores ou intérpretes, na nova geração. Com isso, também se proliferaram os "falsos brilhantes" que com frequência também chegam aos palcos brasileiros.
Com Yerbabuena, entretanto, é possível contar com o requinte legado de bailarinas como Cristina Hoyos. Embora premiações não atestem talentos, o cobiçado Prêmio Nacional da Dança, até então concedido na Espanha apenas para Hoyos, Antonio Gades e Antonio Canales, acaba de ser conquistado por Yerbabuena. Com isso, a bailarina se equiparou às maiores personalidades produzidas pelo flamenco no século 20.
"Fama é a última coisa que me passa pela cabeça", diz Yerbabuena, que também chamou a atenção de Pina Bausch, cujo festival de dança na cidade alemã de Wuppertal já contou com a presença da bailarina espanhola. "No futuro quero me dedicar ao ensino, mas até lá tenho muito o que aprender. Por enquanto, procuro viver minhas inquietudes, desfrutar cada segundo de minha carreira e também depurar um método de trabalho que possa ser transmitido aos novos intérpretes."
Na temporada brasileira, Yerbabuena está apresentando "5Mujeres5" e "Flamenco de la Cava". O primeiro, eleito o melhor espetáculo da Bienal de Sevilha de 2000, foi concebido pela própria bailarina com a intenção de expressar a evolução emocional de uma mulher. "Pode ser que eu ainda encarne personagens femininos como Carmen ou Medéia. Mas, por enquanto, prefiro me voltar para as experiência cotidianas e interpretar nossas relações com o amor, a solidão, a ambição."
Para encenar o emocional feminino em fases diversas, Yerbabuena optou por um cenário despojado, cujas transformações se valem essencialmente da iluminação em tons de branco, preto e vermelho. "Para associar tradição e modernidade, procuro estar em sintonia com as raízes da dança flamenca. É preciso se enriquecer com o passado para atingir a renovação, que depende de autenticidade e dom pessoal."
Depois de "5Mujeres5", o espetáculo se encerra com demonstração de flamenco puro, na coreografia sem roteiro específico de "Flamenco de la Cava". "Quando há cumplicidade entre bailarinos, cantores e músicos, surge uma sensação de liberdade infinita. Em meio ao desprendimento desses momentos, me sinto viajando no tempo."
Com sobrenome que remete a uma planta aromática utilizada na culinária típica da Espanha, Yerbabuena ganha peculiaridade biográfica por ter nascido em Frankfurt. No entanto, ela viveu em solo alemão somente por 15 dias. Migrando de volta para o país natal, seus pais se estabeleceram em Granada, onde Yerbabuena cresceu.
Hoje, morando em Sevilha com a filha e o marido -Paco Jarana, responsável pela direção musical de seus espetáculos-, Yerbabuena lembra que sua formação ocorreu por meio da convivência com professores e artistas, sem as etapas tradicionais seguidas em academias.
"Quando comecei a andar, já me interessava pelo flamenco que ouvia no rádio", diz.
Em fase de desemprego, seu pai chegou a escrever uma carta para o rei Juan Carlos pedindo subvenção para os estudos da filha. "Como tínhamos casa própria, o governo não nos deu esse apoio."
Em 1985, quando iniciou carreira profissional, Yerbabuena acumulava experiências com bailarinos como Mariquilla e Mario Maya e estudos de arte dramática em Sevilha, além de um estágio em Cuba, onde afirma ter aprimorado seus conhecimentos coreográficos com Johanes Garcia.
Hoje, embora já tenha participado do filme "Hotel", sob direção do britânico Mike Figgis e ao lado de atores como John Malkovich, Yerbabuena não pretende ter atividades paralelas à dança que, como legítima andaluza, ela assume como parte de sua natureza.


EVA YERBABUENA - quando: hoje, às 20h30; de 15 a 17, às 21h. Onde: hoje no Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 0/xx/11/ 222-8698); de 15 a 17 no teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 0800-558191). Quanto: de R$ 20 a R$ 110 (Municipal) e de R$ 45 a R$ 110 (Alfa).



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