INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Feriados religiosos nem sempre têm relação com filmes religiosos. "Dr. Jivago", no HBO, reza na cartilha do anticomunismo, e dá mais ou menos no mesmo: é um filme a calhar para Páscoa.
É verdade que o Telecine Classic propõe uma maratona bíblica, começando com "A Maior História de Todos os Tempos" (9h30) e terminando com "A Bíblia" (19h). "Jivago", ao contrário, é desses filmes "de feriado", porque intermináveis: são mais de três horas.
O curioso é que este "Jivago" de hoje não é o clássico de David Lean, com Omar Sharif. Trata-se aqui de uma versão para a TV, dirigida por Giacomo Campiotti. Como é que o sujeito refilma "Jivago"? Pois é, há loucos para tudo.
Foi, desde o romance de Boris Pasternak, uma poderosa arma na Guerra Fria. Pasternak virou um mito graças ao fato de renegar o comunismo. O livro, propriamente, tornou-se fato secundário.
Ora, o filme de David Lean não deixava de ser um primor de equilíbrio. Por um lado, mostrava a insânia de Stálin e, mais, deixa claro que existe ali uma perversidade que não vem só de Stálin.
Ao mesmo tempo, é preciso convir que Jivago, esse homem de boa vontade em relação às coisas do povo, não deixa de ser um homem de elite e está pouco propenso a aceitar a divisão de sua bela casa com os camponeses.
Ora, essa história de casas que tinham de ser divididas foi um cavalo de batalha da Guerra Fria. Mas, se atentarmos bem a um filme como "Alemanha, Ano Zero", de Rossellini, veremos que ali também as residências eram divididas. Não é tanto uma questão de comunismo, mas de pós-guerra.
Ficamos a ver o que essa refilmagem, com a inglesinha bonitinha Keira Knightley -essa sim, um verdadeiro bombom de Páscoa-, nos reserva.

Dr. Dolittle
Globo, 13h.

(Dr. Dolittle). EUA, 98, 85 min. Direção: Betty Thomas. Com Eddie Murphy, Ossie Davis, Oliver Platt, Peter Boyle, Richard Schiff, Kristen Wilson. "Remake" do "Dr. Dolittle" (1967) de Richard Fleischer, em que Murphy é o doutor feliz da vida, até que reencontra o especialíssimo dom que tinha na infância: o de se comunicar com animais. A partir daí, as coisas desandam. A partir daí, também, o humor deveria aparecer com mais clareza. Essencialmente, o que vale é o esforço de Eddie.

Appassionata
Cultura, 15h30.

Brasil, 53, 95 min. Direção: Fernando de Barros. Com Anselmo Duarte, Tônia Carrero, Paulo Autran, Ziembinski, Alberto Ruschell. A Vera Cruz botou na fogueira a fina flor de seu elenco, perdida em um tolo melodrama sobre pianista que, numa mesma noite, conhece a consagração e é acusada pelo assassinato do marido. Ela demonstra inocência, casa com um pintor que mora na Suécia, mas é sempre perseguida pela obsessão em relação ao ocorrido com o finado. P&B.

Moisés
Record, 18h.

(Moses). EUA, 75, 180 min. Direção: Gianfranco de Bosio. Com Burt Lancaster, Anthony Quayle, Ingrid Thulin, Irene Papas, Aharon Ipalé. Originalmente, uma minissérie sobre Moisés, um homem maior que a vida, aquele profeta que conduziria o povo judeu do Egito à terra prometida, essa que até hoje dá um rolo danado. No caminho, receberá em mãos os Dez Mandamentos.

A Flor do Meu Segredo
Bandeirantes, 20h30.

(La Flor de Mi Secreto). Espanha, 95, 101 min. Direção: Pedro Almodóvar. Com Marisa Paredes, Juan Echanove, Carmen Alías, Rossy de Palma, Chus Lampreave, Joaquín Cortés. Leo (Paredes) é uma escritora de best-sellers sentimentais que sofre com a solidão, já que o marido está no conflito da Bósnia-Herzegóvina, trabalhando nas forças de paz da ONU. Mas o sumiço de Paco não se deve só a isso: na verdade, ele tem um caso com uma amiga da escritora. Em suma, a autora de melodramas vê sua vida tornar-se um, a certa altura. Pedro Almodóvar deixava aqui o registro um tanto inconseqüente de trabalhos imediatamente anteriores e passava a assumir mais plenamente a influência do melô hispânico.

Desfile de Páscoa
Bandeirantes, 23h30.

(Easter Parade). EUA, 48, 109 min. Direção: Charles Walters. Com Fred Astaire, Judy Garland, Ann Miller, Peter Lawford, Jules Munshin, Clinton Sundberg. Para se vingar da parceira (Miller) que o abandona, Fred Astaire decide que pode transformar qualquer uma em estrela. Não será tão fácil assim, mas no dia em que topa com Judy Garland ele percebe que seu sonho pode se realizar. Produção de Arthur Freed com música de Irving Berlin (Oscar de melhor trilha sonora) e atores do primeiro time da velha Metro. Enfim, um prato cheio para os fãs de musicais se esbaldarem.

Céu de Outubro
Globo, 1h30.

(October Sky). EUA, 99, 108 min. Direção: Joe Johnston. Com Jake Gyllenhaal, Chris Cooper, Chad Lindberg, William Lee Scott. Enquanto os jovens americanos reagem com pavor ao vôo do Sputnik, no fim dos anos 50, o adolescente Homer Hickman trata de estudar tudo sobre foguetes e similares. Baseado na autobiografia do depois engenheiro da Nasa. Inédito.

Marcas de uma Obsessão
Globo, 3h20.

(Obsessed). EUA, 92, 95 min. Direção: Jonathan Sanger. Com Shannon Doherty, William Devane, Claire Carey, James Handy. Homem rico e solteiro começa a namorar bela jovem. Aos poucos, ela começará a demonstrar a extensão de seu desequilíbrio.
(INÁCIO ARAUJO)

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