São Paulo, domingo, 11 de abril de 2010

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ANÁLISE

Da culinária à gastronomia e de volta à boa comida

BIA ABRAMO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os programas de TV sobre comida superaram a fase da culinária doméstica, nos quais mostrava-se um passo a passo para donas de casa sem tempo ou imaginação para variar o trivial. É claro, ainda há resquícios disso em várias roupagens: da pseudossofisticação gulosa de Ana Maria Braga à tosqueira involuntariamente cômica de Palmirinha.
O desenvolvimento da cultura gastronômica no Brasil, de dez anos para cá, expulsou as donas de casa do cenário. O reino da cozinha, para uma certa classe média abonada e informada, deixou de ser o do arroz com feijão e tornou-se um playground de adultos, de ambos os sexos, viajados, cultivados e que gostam de ostentar cultura gastronômica.
A TV acompanhou e passou a exibir programas de gastronomia em vez de culinária. Comer e cozinhar passaram a ser sinônimos de conhecer novos e exóticos ingredientes, aprender técnicas clássicas, recusar o mexidinho de vagem em favor de omeletes trufadas. Isso sem falar na apreciação de vinhos.
Interessante e pedagógico, mas um tantinho pedante. Sintoma muito brasileiro desse pedantismo é a criação, nos apartamentos de alto luxo, dos espaços gourmet: aos subordinados, a cozinha; aos proprietários, uma sala de estar onde se pode cozinhar.
O que se observa agora é uma espécie de movimento de descida desse salto alto. Combinando história e geografia à fome e à vontade de comer, ensaiam uma ideia da gastronomia como prazer, informação, cultura -e boa comida. Como diria Claude Trogrois, "que marravilha"!


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