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ANÁLISE
Da culinária à gastronomia e de volta à boa comida
BIA ABRAMO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os programas de TV sobre
comida superaram a fase da culinária doméstica, nos quais
mostrava-se um passo a passo
para donas de casa sem tempo
ou imaginação para variar o trivial. É claro, ainda há resquícios disso em várias roupagens:
da pseudossofisticação gulosa
de Ana Maria Braga à tosqueira
involuntariamente cômica de
Palmirinha.
O desenvolvimento da cultura gastronômica no Brasil, de
dez anos para cá, expulsou as
donas de casa do cenário. O reino da cozinha, para uma certa
classe média abonada e informada, deixou de ser o do arroz
com feijão e tornou-se um playground de adultos, de ambos os
sexos, viajados, cultivados e
que gostam de ostentar cultura
gastronômica.
A TV acompanhou e passou a
exibir programas de gastronomia em vez de culinária. Comer
e cozinhar passaram a ser sinônimos de conhecer novos e
exóticos ingredientes, aprender técnicas clássicas, recusar o
mexidinho de vagem em favor
de omeletes trufadas. Isso sem
falar na apreciação de vinhos.
Interessante e pedagógico,
mas um tantinho pedante. Sintoma muito brasileiro desse pedantismo é a criação, nos apartamentos de alto luxo, dos espaços gourmet: aos subordinados, a cozinha; aos proprietários, uma sala de estar onde se
pode cozinhar.
O que se observa agora é uma
espécie de movimento de descida desse salto alto. Combinando história e geografia à fome e à vontade de comer, ensaiam uma ideia da gastronomia como prazer, informação,
cultura -e boa comida. Como
diria Claude Trogrois, "que
marravilha"!
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