São Paulo, domingo, 11 de abril de 2010

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Nova receita

Programas de culinária na TV abandonam formato clássico celebrizado por Ofélia e tratam da gastronomia de modo mais amplo; reality shows e viagens ganham espaço

LUIZA FECAROTTA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Certa vez, Marcelo Pingarilho pediu ao avô, "muito modestamente", para comemorar o aniversário de dez anos no caríssimo restaurante Le Pré Catelan, na época sob o comando do carismático -e talentoso- Claude Troisgros, 53. Lá, ele se deliciou com um inesquecível pato com laranja. Hoje, 30 anos depois, os dois se (re)encontram na filmagem do reality show "Que Marravilha!", que estreia na quinta no GNT.
Nesse episódio, a estrela não é nem um, nem outro. É o pato com laranja, que fez o garoto, hoje à beira dos 40, nunca mais esquecer o chef. Agora é a vez de Pingarilho, que trabalha na área comercial, tem banda de rock e "pegava onda", aprender a receita, que será ensinada, em detalhes, pelo "mestre".
A Folha acompanhou, no Rio, as gravações de dois blocos. No primeiro, professor (de bermuda e All Star) e aprendiz (um tanto ansioso) se conhecem num mercado, onde compram ingredientes -"laranjas doces, com bastante suco e pouca acidez", recomenda. Na butique de carnes, compram o pato, "com um pouco de gordura, para que derreta e infiltre na carne enquanto assamos".
Na segunda etapa, Claude ensina a receita, em sua cozinha. O bloco derradeiro, no entanto, é a grande aposta do canal. O personagem recebe o chef para comer em sua própria casa e coloca em prática o que aprendeu. Os demais convidados e o chef, que vez ou outra vai espiar o trabalho do cozinheiro, fazem uma avaliação ao final da refeição.
"A ideia é aproximar Claude da audiência. O [extinto] "Menu Confiança" era voltado para quem tinha interesse muito específico; esse tem apelo maior, gera curiosidade, você transforma uma história numa coisa maior que uma receita", diz o diretor Ric Ostrower, 41.
Não é só o antigo amante da cozinha que aparece no reality show. Tem a vegetariana que tapeia o marido carnívoro com o estrogonofe de soja, a moça que não arruma namorado porque não sabe cozinhar, a grávida que está com desejo de comer peixe com goiaba.

Cultura gastronômica
Essa diversidade também aparece estampada na programação que hoje está na TV. "Durante anos, era só culinária. Num segundo momento, entra a gastronomia, programas de cozinha mais sofisticados. Hoje, há produções de cultura gastronômica, não dedicados exclusivamente à culinária", diz o crítico da Folha, Josimar Melo, que também protagoniza "O Guia", lançado no ano passado pelo NatGeo, no qual percorre vários países unindo comida e culturas locais.
"O Guia", aliás, hoje está no ar na América Latina. "Era para passar só no Brasil", diz o diretor da Pródigo, produtora que desenvolveu a atração, Giuliano Cedroni, 36. "Mas, quando mostramos para o canal, resolveram passar na América Latina inteira, e a ideia é, depois, transmitir em outros países do mundo."
Segundo Cedroni, a área vai crescer. "O mercado está muito aquecido." Na Argentina e nos Estados Unidos, conta, há canais dedicados 24 horas à gastronomia, "isso deve chegar no Brasil", diz. "É um assunto amplo. Se antigamente pensávamos em formatos como o da Ofélia, hoje temos vários olhares e cada um pode ser muito interessante."
Estão no ar: Anthony Bourdain, que viaja o mundo; o mal-ajambrado Paulo Oliveira, do "Larica Total"; o carismático Jamie Oliver.
Há também o bonitão australiano Curtis Stone, que aborda de surpresa pessoas no supermercado e cozinha para elas; o temido Gordon Ramsay, de "Hell's Kitchen"; a sensual Nigella Lawson, musa inglesa do "food porn". Há ainda Andrew Zimmern, com suas "comidas exóticas" e o fazendeiro Jimmy Doherty, que estreou na última quinta, no GNT, programa no qual mostra como os alimentos são produzidos.


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