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Nova receita
Programas de culinária na TV abandonam formato clássico celebrizado por Ofélia
e tratam da gastronomia de modo mais amplo; reality shows e viagens ganham espaço
LUIZA FECAROTTA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Certa vez, Marcelo Pingarilho pediu ao avô, "muito modestamente", para comemorar
o aniversário de dez anos no caríssimo restaurante Le Pré Catelan, na época sob o comando
do carismático -e talentoso-
Claude Troisgros, 53. Lá, ele se
deliciou com um inesquecível
pato com laranja. Hoje, 30 anos
depois, os dois se (re)encontram na filmagem do reality
show "Que Marravilha!", que
estreia na quinta no GNT.
Nesse episódio, a estrela não
é nem um, nem outro. É o pato
com laranja, que fez o garoto,
hoje à beira dos 40, nunca mais
esquecer o chef. Agora é a vez
de Pingarilho, que trabalha na
área comercial, tem banda de
rock e "pegava onda", aprender
a receita, que será ensinada, em
detalhes, pelo "mestre".
A Folha acompanhou, no
Rio, as gravações de dois blocos. No primeiro, professor (de
bermuda e All Star) e aprendiz
(um tanto ansioso) se conhecem num mercado, onde compram ingredientes -"laranjas
doces, com bastante suco e
pouca acidez", recomenda. Na
butique de carnes, compram o
pato, "com um pouco de gordura, para que derreta e infiltre
na carne enquanto assamos".
Na segunda etapa, Claude
ensina a receita, em sua cozinha. O bloco derradeiro, no entanto, é a grande aposta do canal. O personagem recebe o
chef para comer em sua própria casa e coloca em prática o
que aprendeu. Os demais convidados e o chef, que vez ou outra vai espiar o trabalho do cozinheiro, fazem uma avaliação
ao final da refeição.
"A ideia é aproximar Claude
da audiência. O [extinto] "Menu Confiança" era voltado para
quem tinha interesse muito específico; esse tem apelo maior,
gera curiosidade, você transforma uma história numa coisa
maior que uma receita", diz o
diretor Ric Ostrower, 41.
Não é só o antigo amante da
cozinha que aparece no reality
show. Tem a vegetariana que
tapeia o marido carnívoro com
o estrogonofe de soja, a moça
que não arruma namorado
porque não sabe cozinhar, a
grávida que está com desejo de
comer peixe com goiaba.
Cultura gastronômica
Essa diversidade também
aparece estampada na programação que hoje está na TV.
"Durante anos, era só culinária.
Num segundo momento, entra
a gastronomia, programas de
cozinha mais sofisticados. Hoje, há produções de cultura gastronômica, não dedicados exclusivamente à culinária", diz o
crítico da Folha, Josimar Melo,
que também protagoniza "O
Guia", lançado no ano passado
pelo NatGeo, no qual percorre
vários países unindo comida e
culturas locais.
"O Guia", aliás, hoje está no
ar na América Latina. "Era para passar só no Brasil", diz o diretor da Pródigo, produtora
que desenvolveu a atração,
Giuliano Cedroni, 36. "Mas,
quando mostramos para o canal, resolveram passar na América Latina inteira, e a ideia é,
depois, transmitir em outros
países do mundo."
Segundo Cedroni, a área vai
crescer. "O mercado está muito
aquecido." Na Argentina e nos
Estados Unidos, conta, há canais dedicados 24 horas à gastronomia, "isso deve chegar no
Brasil", diz. "É um assunto amplo. Se antigamente pensávamos em formatos como o da
Ofélia, hoje temos vários olhares e cada um pode ser muito
interessante."
Estão no ar: Anthony Bourdain, que viaja o mundo; o mal-ajambrado Paulo Oliveira, do
"Larica Total"; o carismático
Jamie Oliver.
Há também o bonitão australiano Curtis Stone, que
aborda de surpresa pessoas no
supermercado e cozinha para
elas; o temido Gordon Ramsay,
de "Hell's Kitchen"; a sensual
Nigella Lawson, musa inglesa
do "food porn". Há ainda Andrew Zimmern, com suas "comidas exóticas" e o fazendeiro
Jimmy Doherty, que estreou
na última quinta, no GNT, programa no qual mostra como os
alimentos são produzidos.
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