São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Galpão ressalta atualidade de "Tio Vânia", de Anton Tchékov

LUIZ FERNANDO RAMOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Saudades do futuro. "Tio Vânia (aos que vierem depois de nós)", novo espetáculo do grupo Galpão, busca no texto de Tchékov, de 1897, o augúrio de tempos menos miseráveis. A peça, que expõe as agruras e o tédio da vida interiorana na Rússia pré-revolucionária, atualiza-se nas ansiedades contemporâneas.
Seja por ser um contista exímio ou por querer exacerbar a solidão das personagens, Anton Tchékov (1860-1904) faz de suas criaturas narradoras das próprias desgraças. O vazio em que se encontram atoladas transparece, mais do que no embate dramático entre elas, por meio de suas vozes isoladas. A fúria com que se expõem e se analisam depõe a favor de sua dignidade.
Evidenciar isso foi uma opção feliz de Yara Novaes na encenação que construiu com a sempre aplicada trupe.
Encenadora que tem realizado trabalhos relevantes, ela encontra aqui a oportunidade de afirmar seu estilo, marcado pela delicadeza no trato com a matéria cênica.
O cenário de Márcio Medina -torres móveis que são híbridos de mobília e de paredes manchadas pelas marcas atrozes do tempo e as sutilezas da luz de Pedro Pederneiras e da trilha sonora de Dr. Morris colaboram para instaurar um fundo ondulante em que se destacam as atuações.
O elenco é homogêneo na calma tensa com que se entrega à dissecação proposta pelo autor.
Isso fica bem evidente no Vânia de Antônio Edson, bem como no médico de Eduardo Moreira. Mas sucede também com as figuras femininas a sensual Helena de Fernanda Vianna e a angelical Sônia de Mariana Lima Muniz, esta, atriz convidada.
Teuda Bara, perfeita como a mãe sóbria e quase ausente, Arildo de Barros, sensível no papel do mais medíocre entre os medíocres e Paulo André, intenso como o ridículo professor especialista em artes que escreve para ninguém, completam o quadro em cena.
Dramaturgias sobrevivem se resistem aos confrontos com os séculos que as sucedem. A montagem do Galpão projeta, no presente, um "Tio Vânia" com ares longevos.

TIO VÂNIA

AVALIAÇÃO ótimo

O crítico LUIZ FERNANDO RAMOS viajou a convite do evento


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