São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2001

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"A Hora Marcada" pretende ser thriller sobre decadência do país

DA REPORTAGEM LOCAL

Até chegar hoje às telas de São Paulo, Rio e Brasília, o longa-metragem nacional "A Hora Marcada" arrastou-se no tempo.
A idéia de produzir uma ficção "meio underground" sobre sua "obsessão -os critérios ilógicos da morte"- ocorreu ao diretor Marcelo Taranto, 44, em 1994, na sequência de anos de tentativas frustradas de produzir outro longa, "A Árvore".
Esse último teria roteiro de Chico Azevedo, irmão de Taranto, um ex-repórter cinematográfico da TV Globo, e versa sobre assunto que o cineasta acha "complicado explicar". "É a respeito da existência, se a gente tem vontade própria ou se alguém escreve nossos roteiros", arrisca-se.
"A Hora Marcada" ganhou forma como um "thriller psicológico", na definição de seu diretor, a partir de 98, quando o projeto recebeu R$ 1 milhão em patrocínio, aproximadamente metade do valor com que foi produzido. "Uma coisa que vejo como problema no cinema brasileiro é essa descontinuidade de financiamento", diz Taranto, que rodou os cem minutos do filme em duas etapas -uma em 98 e a final em 99.
O ator Gracindo Jr. interpreta Mário Velasquez, um milionário de poucos escrúpulos e muitas mulheres. Ester Góes faz o papel da titular, enquanto Cássia Kiss e Beth Goulart desempenham algumas de suas eventuais.
Durante uma festa, como resultado de uma abordagem de conquista, Velasquez recebe, pela voz de misteriosa dama, o vaticínio da morte para dali a sete anos.
Transcorrido esse tempo exato, o empresário é vítima de um sequestro, em que entram em cena os atores Tonico Pereira, Fábio Assunção e Shimon Nahmias, como integrantes da quadrilha.
A essa altura, Osmar Prado, nome que completa o elenco, já terá sido apresentado ao espectador como um submisso funcionário do autoritário Velasquez.
E o filme faz um desvio de seu retrato das "altas rodas" (recheado de mulheres que exibem longos e jóias e homens que apostam em cavalos) em direção ao que o diretor qualifica como "thriller psicológico". Concretamente, uma série de desentendimentos e atos violentos entre o grupo sequestrador, forjada pelo conflito das distintas motivações criminosas de cada um.
Taranto imagina ter construído, com seu pequeno conto pincelado de realismo fantástico, além da crônica cinematográfica de uma morte anunciada, "o painel de um país que está meio perdido, com uma elite extremamente egoísta e um outro lado muito violento".
Autor de três curtas e um "quase longa", o "doc-drama" "O Espiritismo - De Alan Kardec aos Dias de Hoje", Taranto é responsável também por boa parte da grandiloquente e indesviável música de "A Hora Marcada", que tem ainda a assinatura de Paulo Baiano.
"Vejo a música muito como elemento narrativo, e não de ilustração. Não posso negar que fui influenciado por cineastas como Visconti, Bergman, Antonioni, mas tenho um caminho próprio, uma busca", diz.


A HORA MARCADA - Direção: Marcelo Taranto. Produção: Brasil, 2001. Com: Gracindo Jr., Cássia Kiss, Osmar Prado. Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Central Plaza, Jardim Sul, Lumière e circuito.



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