São Paulo, sexta-feira, 11 de maio de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

"LENDAS DA VIDA"

Diretor se apóia em elenco jovem e produção esmerada para contar a história de um "herói surrado"

Redford reedita velha história de purgação

CRÍTICO DA FOLHA

Rannulph Junuh (Matt Damon) é um "herói surrado": depois de ter trocado o campo de golfe de sua terra natal pelos campos de batalha europeus na Primeira Guerra Mundial, o garoto de ouro de Savannah se tornou um niilista.
Sua mulher esquecida (vivida por Charlize Theron), cujo pai empresário engrossou as estatísticas de suicídio do período da Grande Depressão, decide promover um grande torneio de golfe para não ser obrigada a vender o campo que herdou.
Sedutora, ela alicia duas figuras lendárias do esporte para a competição, enquanto um garoto da localidade (Michael Moncrief, cujo personagem, da criança idólatra, é recorrente no cinema americano) tenta convencer Junuh de que o auto-exílio não irá levá-lo a lugar nenhum.
Nessa velha história de purgação e redenção que é "Lendas da Vida", o diretor Robert Redford pretendeu encontrar uma preciosa metáfora: retomando, no grande torneio, tanto o gosto pelo esporte quanto pela mulher (na base de "jogo é jogado, lambari é pescado"), Junuh redescobre, numa espécie de "vontade de potência", o sentido da vida.
Trata-se apenas, no final das contas, de retornar à grande competição da vida. Uma questão hormonal -o que Junuh readquire, enfim, é seu nível normal de testosterona- que Robert Redford transforma em missão mística.
É aí que entra o personagem de Will Smith, Bagger Vance, o carregador de tacos que se consagra como conselheiro espiritual do golfista. Todo o (des)propósito do filme está nesse personagem(-título). A aura sobre-humana que o roteiro lhe dá e a petulância que Smith lhe empresta podem tornar irrelevante o fato de o personagem, negro, propor-se voluntariamente a servir um playboy sulista, nos Estados Unidos dos anos 30 -Smith tem ao menos o mérito, nesse sentido, de transformar (involuntariamente) a figura clássica do "bom negro" num "mala sem alça". Mas as lições místicas que o personagem reserva ao jogo de golfe já são difíceis de engolir.
Vance pretende salvar a alma de Junuh, fazendo-o recuperar o seu "suingue autêntico", isto é, o ponto em que o corpo (do golfista) entra em harmonia com o todo (do campo de golfe). Na verdade, o tal "suingue autêntico" é o Rosebud (isto é, um pseudo-argumento) de Redford.
Convencional, o diretor, cujas preocupações não são místicas, mas financeiras, aposta aqui mais uma vez na dobradinha "produção esmerada/jovem elenco de talento".
Ao menos ele descobriu o garoto Moncrief e confirmou Theron, uma bem-sucedida mistura de Jean Harlow com Marilyn Monroe, como a starlet do momento. (TIAGO MATA MACHADO)


Lendas da Vida
The Legend of Bagger Vance
  
Direção: Robert Redford
Produção: EUA, 2000
Com: Matt Damon, Charlize Theron, Will Smith
Quando: a partir de hoje nos cines Jardim Sul, Belas Artes, Anália Franco, SP Market, Pátio Higienópolis e circuito




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