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MÚSICA
Adelino Moreira morre como clássico, sem consagração
LUÍS NASSIF
COLUNISTA DA FOLHA
Cantor mais popular do
país dos anos 50 aos 70, não
teria havido Nelson Gonçalves
sem Adelino Moreira. Morto esta
semana, Moreira foi o autor das
mais populares músicas de fossa
do período, muitas classificadas
na categoria "brega" e algumas
obras-primas do estilo.
Sua obra é absolutamente pessoal, uma espécie de Vicente Celestino dos anos 50, explorando
um veio próprio, uma espécie de
afluente da música popular brasileira, mas sem pretensão do purismo que caracterizava outros
compositores. Seu compromisso
era com o público, que retribuiu à
altura. Ainda hoje, suas músicas
são clássicos de um tipo específico
de boemia, a chamada "música de
zona".
Adelino Moreira nasceu em
Porto, Portugal, em 1918, mas
com um ano de idade a família se
mudou para Campo Grande, subúrbio do Rio de Janeiro. Seu primeiro instrumento foi bandolim,
o segundo, a guitarra portuguesa,
ambos primos-irmãos.
O pai tinha posses e patrocinava
o programa "Seleções Portuguesas", na Rádio Clube do Brasil. Diretor do programa, o maestro
Carlos Campos foi o primeiro
professor de guitarra de Moreira.
Seu primeiro produtor musical
foi Braguinha, através do qual
gravou seis discos na Continental,
fados como "Olhos d'Alma" e
"Anita", o samba "Mulato Artilheiro" e a marcha "Nem Cachopa, nem Comida".
Sua parceria com Nelson Gonçalves começou em 1952, com "A
Última Seresta", parceria com Sebastião Santana. Depois, seguiu-se uma fieira de composições
clássicas, a maioria de sambas-canções menos refinadas do que a
elite do gênero compunha, mas
que foram repetidas de Norte a
Sul do Brasil por uma boemia militante e fiel. Das mais conhecidas
foi "Fica Comigo Esta Noite", assinada por ambos. A campeã de
vendas foi a "A Volta do Boêmio",
de 1956, que teria vendido 1 milhão de cópias. Mas houve também "Deusa do Asfalto", um clássico, assim como "Meu Dilema",
"Escultura", "Meu Vício É Você",
"Flor do Meu Bairro", entre outras.
Ele não se restringiu a Nelson
Gonçalves. No final dos anos 50, a
cantora Núbia Lafayette consagraria "Devolvi" e "Solidão", Ângela Maria estouraria em todas as
paradas de sucesso com "Cinderela", um clássico imperdível do
samba-canção-brega (não se veja
nesse "brega" nenhum juízo de
valor).
Em 1964 houve o rompimento
entre Adelino e Nelson. O compositor tentou lançar um competidor de Nelson, Carlos Nobre, que
se perdeu nas dobras do tempo.
Em todo caso, foi Nobre quem
lançou uma das músicas mais famosas de Nelson, "Negue", depois regravada por Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Maria Bethânia. Depois, constou do LP
gravado por Ney Matogrosso com
o acompanhamento magistral de
Raphael Rabello.
Morre como um clássico, mesmo sem ter tido ainda o reconhecimento póstumo de seu irmão
mais velho, Vicente Celestino.
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