São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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MÚSICA

Adelino Moreira morre como clássico, sem consagração

LUÍS NASSIF
COLUNISTA DA FOLHA

Cantor mais popular do país dos anos 50 aos 70, não teria havido Nelson Gonçalves sem Adelino Moreira. Morto esta semana, Moreira foi o autor das mais populares músicas de fossa do período, muitas classificadas na categoria "brega" e algumas obras-primas do estilo.
Sua obra é absolutamente pessoal, uma espécie de Vicente Celestino dos anos 50, explorando um veio próprio, uma espécie de afluente da música popular brasileira, mas sem pretensão do purismo que caracterizava outros compositores. Seu compromisso era com o público, que retribuiu à altura. Ainda hoje, suas músicas são clássicos de um tipo específico de boemia, a chamada "música de zona".
Adelino Moreira nasceu em Porto, Portugal, em 1918, mas com um ano de idade a família se mudou para Campo Grande, subúrbio do Rio de Janeiro. Seu primeiro instrumento foi bandolim, o segundo, a guitarra portuguesa, ambos primos-irmãos.
O pai tinha posses e patrocinava o programa "Seleções Portuguesas", na Rádio Clube do Brasil. Diretor do programa, o maestro Carlos Campos foi o primeiro professor de guitarra de Moreira. Seu primeiro produtor musical foi Braguinha, através do qual gravou seis discos na Continental, fados como "Olhos d'Alma" e "Anita", o samba "Mulato Artilheiro" e a marcha "Nem Cachopa, nem Comida".
Sua parceria com Nelson Gonçalves começou em 1952, com "A Última Seresta", parceria com Sebastião Santana. Depois, seguiu-se uma fieira de composições clássicas, a maioria de sambas-canções menos refinadas do que a elite do gênero compunha, mas que foram repetidas de Norte a Sul do Brasil por uma boemia militante e fiel. Das mais conhecidas foi "Fica Comigo Esta Noite", assinada por ambos. A campeã de vendas foi a "A Volta do Boêmio", de 1956, que teria vendido 1 milhão de cópias. Mas houve também "Deusa do Asfalto", um clássico, assim como "Meu Dilema", "Escultura", "Meu Vício É Você", "Flor do Meu Bairro", entre outras.
Ele não se restringiu a Nelson Gonçalves. No final dos anos 50, a cantora Núbia Lafayette consagraria "Devolvi" e "Solidão", Ângela Maria estouraria em todas as paradas de sucesso com "Cinderela", um clássico imperdível do samba-canção-brega (não se veja nesse "brega" nenhum juízo de valor).
Em 1964 houve o rompimento entre Adelino e Nelson. O compositor tentou lançar um competidor de Nelson, Carlos Nobre, que se perdeu nas dobras do tempo. Em todo caso, foi Nobre quem lançou uma das músicas mais famosas de Nelson, "Negue", depois regravada por Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Maria Bethânia. Depois, constou do LP gravado por Ney Matogrosso com o acompanhamento magistral de Raphael Rabello.
Morre como um clássico, mesmo sem ter tido ainda o reconhecimento póstumo de seu irmão mais velho, Vicente Celestino.


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