São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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Cultura do mundo árabe quer se afirmar

ESPECIAL PARA A FOLHA

Jean Sarzana, diretor do Salão do Livro de Paris, conversou com a Folha sobre a biblioteca. (BM)

Folha - Por que Mubarak investiu tanto dinheiro na construção de uma biblioteca real quando existem bibliotecas virtuais?
Jean Sarzana -
Porque a conservação do texto virtual ainda é problemática. Ninguém sabe por quanto tempo se mantém. A dúvida basta para nós não renunciarmos ao papel, que pode ser conservado por séculos.

Folha - Mas a biblioteca de Alexandria queimou..
Sarzana -
Porque nela o que havia era rolo de papiro, não o texto encadernado. Desde que o livro existe, a biblioteca não queima ou queima raramente, porque o livro dificilmente pega fogo.

Folha - Que relação existe entre o empreendimento de Mubarak e o de Mitterrand ao fazer a pirâmide do Louvre?
Sarzana -
Os dois queriam se projetar como construtores através dos monumentos, mas a diferença é que a cultura francesa não precisa se afirmar, enquanto a do Egito e dos outros países do mundo árabe precisa. A França não está às voltas com a questão da identidade nacional. O Egito e os países do mundo árabe estão. Considerando que o Egito tem um grande passado, que em Alexandria ficava uma das sete maravilhas do mundo e que a biblioteca é o símbolo do saber eterno, é preciso elogiar a iniciativa de Mubarak, que pode ser considerado um pacificador do Oriente Médio. Ao construir a Biblioteca de Alexandria, cuja inutilidade é maravilhosa, ele promove o saber, que é contrário à ignorância e à violência. Com isso, reaparece como um "portador de paz". Indiretamente mostra a via ao povo do Egito, onde há 40% de analfabetos.

Folha- Qual a importância do ato de Mubarak para o resto do mundo?
Sarzana -
Mubarak construiu uma imensa biblioteca numa espécie de deserto econômico. Mostrou que não é só o armamento ou a construção de estradas que importa. Ou seja, que a valorização da cultura é fundamental. Veja o que acontece na Índia. Na época de Nehru, a Índia vivia em paz. Hoje, ela está às voltas com uma luta sanguinária entre hindus e muçulmanos, quase em guerra com o Paquistão. Gasta o que tem em armas atômicas.


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