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Cultura do mundo árabe quer se afirmar
ESPECIAL PARA A FOLHA
Jean Sarzana, diretor do Salão do Livro de Paris, conversou com a Folha sobre a biblioteca.
(BM)
Folha - Por que Mubarak investiu tanto dinheiro na construção
de uma biblioteca real quando
existem bibliotecas virtuais?
Jean Sarzana - Porque a conservação do texto virtual ainda
é problemática. Ninguém sabe
por quanto tempo se mantém.
A dúvida basta para nós não renunciarmos ao papel, que pode
ser conservado por séculos.
Folha - Mas a biblioteca de Alexandria queimou..
Sarzana - Porque nela o que
havia era rolo de papiro, não o
texto encadernado. Desde que
o livro existe, a biblioteca não
queima ou queima raramente,
porque o livro dificilmente pega fogo.
Folha - Que relação existe entre o empreendimento de Mubarak e o de Mitterrand ao fazer a
pirâmide do Louvre?
Sarzana - Os dois queriam se
projetar como construtores
através dos monumentos, mas
a diferença é que a cultura francesa não precisa se afirmar, enquanto a do Egito e dos outros
países do mundo árabe precisa.
A França não está às voltas com
a questão da identidade nacional. O Egito e os países do mundo árabe estão. Considerando
que o Egito tem um grande
passado, que em Alexandria ficava uma das sete maravilhas
do mundo e que a biblioteca é o
símbolo do saber eterno, é preciso elogiar a iniciativa de Mubarak, que pode ser considerado um pacificador do Oriente
Médio. Ao construir a Biblioteca de Alexandria, cuja inutilidade é maravilhosa, ele promove o saber, que é contrário à ignorância e à violência. Com isso, reaparece como um "portador de paz". Indiretamente
mostra a via ao povo do Egito,
onde há 40% de analfabetos.
Folha- Qual a importância do
ato de Mubarak para o resto do
mundo?
Sarzana - Mubarak construiu
uma imensa biblioteca numa
espécie de deserto econômico.
Mostrou que não é só o armamento ou a construção de estradas que importa. Ou seja,
que a valorização da cultura é
fundamental. Veja o que acontece na Índia. Na época de Nehru, a Índia vivia em paz. Hoje,
ela está às voltas com uma luta
sanguinária entre hindus e muçulmanos, quase em guerra
com o Paquistão. Gasta o que
tem em armas atômicas.
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