|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Obra defende biomassa como alternativa a petróleo
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Em 1991, os donos de carros a álcool tiveram mais um motivo para amaldiçoar sua escolha, além
da dificuldade para ligar o motor
em manhãs frias. Naquele ano, o
preço do açúcar subiu tanto no
mercado internacional que os usineiros pararam de produzir álcool combustível. O país mergulhou num desabastecimento que
sinalizaria o ocaso do Proálcool, o
maior e mais bem-sucedido programa de energia renovável do
mundo -hoje abandonado.
O fracasso mercadológico do
programa governamental, no entanto, não tirou do Brasil a sua vocação para produzir energia por
meio da biomassa, a matéria vegetal aproveitável como combustível. O cientista social Gilberto
Felisberto Vasconcellos traz de
volta a questão do álcool em "Biomassa - A Eterna Energia do Futuro" (editora Senac São Paulo).
Diante da perspectiva daquilo
que chama de "apagão fóssil",
com a morte anunciada das reservas mundiais de petróleo, ele propõe que o Brasil assuma o papel
de gigante da energia renovável.
A mudança da matriz energética brasileira para a biomassa (álcool de cana, carvão e óleos vegetais) produziria o que o autor chama de "aurora vegetal dos trópicos", com o fim da dependência
tecnológica externa, o fim do êxodo rural -a produção de plantas
para combustível fixaria o homem no campo- e a descentralização de renda e poder que costuma vir no pacote das fontes energéticas alternativas ao petróleo.
Isso sem falar, é claro, no maior
milagre prometido pela biomassa: a obtenção de energia limpa,
sem as emissões de gás carbônico
(CO2) produzidas pela queima de
combustíveis fósseis que prometem deixar o planeta até 5,8C
mais quente no fim deste século.
Num tempo de guerras no
Oriente Médio, efeito estufa e crise energética generalizada, essa
visão parece alentadora. Mas, claro, as coisas não são tão simples.
De início, a idéia de que o petróleo irá acabar é falaciosa. Seu declínio foi vaticinado já no começo
do século, quando previa-se que
as reservas se esgotariam em 1940.
O que ocorreu? A tecnologia de
prospecção aumentou as reservas
conhecidas, e hoje temos petróleo
cada vez mais abundante e barato,
por incrível que pareça.
Um outro problema da proposta do autor é que sua era da biomassa pode criar mais problemas
ambientais do que resolvê-los.
Vasconcellos arrisca-se a ressuscitar o ciclo da cana ao defender
"a produção de biomassa em escala extensiva, ocupando com
gentes brasileiras os grandes espaços vazios do território" -semelhanças com o bordão "terra
sem homens para homens sem
terra", com o qual militares justificavam o avanço sobre a Amazônia, é uma perigosa coincidência.
E "plantations" de cana não combinam muito com conservação.
Seja como for, Vasconcellos
acerta em cheio ao dizer que "inexiste predestinação energética da
biomassa se não houver a força
política dos interesses nacionais e
populares". Um país que quer escapar da ditadura do petróleo
precisa de um Estado forte. Quem
acha isso pouco moderno pode
continuar respirando fumaça.
BIOMASSA - A ETERNA ENERGIA DO
FUTURO. Autor: Gilberto Felisberto
Vasconcellos. Editora: Senac São Paulo.
Quanto: R$ 20 (142 págs.).
Texto Anterior: Cultura do mundo árabe quer se afirmar Próximo Texto: Livro/Lançamento - "Os Trabalhadores do Mar": Edição traz Machado como tradutor de Victor Hugo Índice
|