São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Caça de xarás passou por três continentes

Depois de alguns "nãos", Jim Killeen reduziu a seis os entrevistados de seu filme

"Google Me: The Movie", documentário dirigido por ex-jogador profissional de pôquer, já foi visto mais de 35 mil vezes na internet


Divulgação
Jim Killeen teve aval do Google para usar o nome da empresa no filme, mas nega patrocínio

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Jim Killeen, como milhões de pessoas que têm acesso à internet, um dia fez uma busca no Google com o próprio nome.
A pesquisa conduziu o ex-ator americano ao site Ur Not Alone (você não está só), em que Jim Killeen se descrevia como um "homem atraído por transexuais". Em outra página, Jim Killeen era um padre numa cidadezinha no sul da Irlanda.
Curioso, o primeiro Jim Killeen dessa história encontrou 24 homônimos dispersos por América do Norte, Europa e Oceania. E resolveu ir atrás de um por um para documentar suas histórias em um filme.
Há duas semanas, a jornada produzida, dirigida e co-roteirizada pelo ex-ator teve estréia virtual no YouTube e real no Newport Beach Film Festival, em Miami. Desde então, "Google Me: The Movie" está disponível no canal on-line youtube.com/googlemethemovie.
Killeen não foi bem-sucedido na tentativa de localizar todos os xarás -uma parte não tinha contatos na rede, outra disse "não". "Teve um que justificou: "Não posso correr o risco de parecer um tolo". Eu não pretendia fazer isso com ele!", conta Killeen, 40, à Folha, por telefone, de Los Angeles, onde mora com sua namorada brasileira.
Seis toparam participar, incluindo o namorado da transexual Eryn, que se revelou ainda um praticante de troca de casais, e o pároco irlandês, crítico da postura inflexível do papa em relação aos homossexuais.
"Não me importei [com as recusas]. Os que disseram "não" provavelmente estariam pouco abertos a revelar histórias mais pessoais. Não seriam bons entrevistados", acredita o diretor.
Entre os que aceitaram, está ainda um detetive aposentado que combatia a pirataria em Nova York e que, desconfiado, aceitou encontrar o diretor só à luz do dia, em ambiente aberto, acompanhados por várias testemunhas, ou melhor, amigos.
("Eu vi gente [criminosos] pulando pela janela", conta o detetive em seu depoimento, ao que Killeen pergunta: "E daí você correu atrás deles?". "Era a janela do 56º andar!")
Outro, um gerente de vendas pai de oito filhos, surpreende ao definir como "corajoso e lutador" o presidente americano George W. Bush.

Regras
Antes de sair à caça, o diretor estipulou suas regras. Elas incluíam a idéia de os homônimos se submeterem a um teste de DNA (para revelar um eventual parentesco) e que só valeriam, como personagens, Jim Killeens localizados via Google.
"Estamos no século 21. Quero encontrar pessoas usando a última tecnologia, não pesquisando em catálogos ou bibliotecas", diz ele no filme, no que alguns podem entender como uma alfinetada a Dave Gorman, o inglês que, em 2000, com a ajuda da lista telefônica, partiu para uma busca por dezenas de xarás (leia ao lado).
Com tal discurso, o diretor logo conseguiu o aval do Google. A empresa deu entrevista e autorizou o uso de seu logotipo, mas, segundo ele, não ajudou financeiramente.
O filme arrisca um debate sobre a relação entre internautas e o excesso de informações na rede. "Não vemos Jim Killeen como um nome. Vemos Jim Killeen como um conceito", tenta explicar Douglas Merrill, então vice-presidente de engenharia do Google. (Como se vê, a discussão não avança muito.)
Por mais que o diretor alardeie como tema a "possibilidade de conectar pessoas", "Google Me" é, acima de tudo, um filme sobre ele próprio -e, por vezes, até sentimentalóide.
Killeen teve a clássica frustração com Hollywood. "Estudei muito, fiz poucos testes, trabalhei menos ainda", diz. Virou também adepto da religião de Tom Cruise, a cientologia.
De resto, colecionou pontas como o papel de um cabeleireiro no filme "The Sex Monster", de 1999, sobre um homem que convence sua mulher a dormir com outras mulheres -depois, ela não consegue mais parar.
A cruel realidade da cidade dos sonhos o levou a trabalhar com vendas e como jogador profissional de pôquer antes de descobrir a rentável atividade de gerir uma rede de cadeiras de massagem.
Rentável, desconfia-se, pelo número de viagens que Killeen faz no filme, sempre acompanhado por sua equipe de três pessoas. "Como diz o padre, há aspectos da vida de um homem que não são para conhecimento público", desconversa Killeen, quando questionado sobre gastos. Diz apenas que "estourou todos os limites dos cartões".

"Novo conceito"
Até a última quinta-feira, "Google Me" (apenas em inglês, sem legendas) tinha sido visto mais de 35 mil vezes na rede.
"Na internet, temos uma exposição que não teríamos num lançamento tradicional", diz o diretor, antes de avisar que o documentário ficará no ar por apenas mais duas semanas ou até completar 100 mil visualizações -o que vier antes. "Estamos felizes com os acessos e tudo, mas, sabe como é, não temos vendido muitos DVDs..."
O DVD, vendido pelo site por US$ 29,85 (cerca de R$ 50) nos EUA, inclui a história de um oitavo Jim Killeen, morto "após se envolver em um culto", segundo (não) explica o diretor. Pedidos de outros países podem ser feitos pelo e-mail info@googlemethemovie.com, com preço a ser definido.


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.