São Paulo, Terça-feira, 11 de Maio de 1999
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NOVOS RUMOS
Academia de Dança leva modernidade a Moscou

da enviada a Moscou

Se antes da perestroika as referências únicas em Moscou eram o Bolshoi e o grupo Moisseiev, de dança folclórica, agora já existem opções que apontam novas perspectivas para a dança russa.
Nas imediações da rua Arbat, a antiga e celebrada avenida de pedestres da capital russa, funciona desde 1992 a Academia de Dança de Moscou, uma das pioneiras no desenvolvimento de uma linguagem moderna.
"Acredito que estou construindo o futuro. Não pretendo imitar ninguém. A partir da diversidade das técnicas contemporâneas, quero desenvolver algo com fisionomia russa", diz Nikolai Ogryskov, fundador e diretor da Academia de Dança de Moscou.
Ex-bailarino do Moisseiev e ex-professor do Bolshoi, Ogryskov tem 43 anos e é pai de duas bailarinas que vivem na Holanda, onde se dedicam à dança moderna.
Em sua escola, independente e autofinanciada, ele dá aulas para cerca de 150 alunos. Dois anos atrás, oito de suas alunas, entre 12 e 15 anos, brilharam no Festival Internacional de Dança de Montpellier, na França, que as convidou para interpretar obras de coreógrafos franceses contemporâneos, como Karine Saporta, Odile Duboc e Daniel Larrieu.
Transferindo para a linguagem moderna o virtuosismo inerente à escola russa, elas esbanjam domínio técnico, graça e arrojo. Com padrão compatível aos grupos profissionais, representam uma promessa estimulante no atual panorama moscovita.
"Na Rússia, a dança clássica sempre foi prioridade, seguida das danças populares. Com isso, criaram-se estereótipos, mas hoje o público não mais se assusta com a dança moderna", explica Ogryskov.
Depois de enfrentar resistências no Bolshoi, onde um professor anunciou que não mais daria aulas para alunos que insistissem em estudar as técnicas modernas por ele ministradas, Ogryskov é ávido por novas informações.
Felizmente, ele diz, hoje já circulam por Moscou grupos de coreógrafos modernos, como Angelin Preljocaj e Maguy Marin. Por intermédio de fitas de vídeo, Ogryskov pôde conhecer o grupo Corpo, do Brasil, que ele já visitou a convite do Festival de Joinville.
Com sólida formação clássica, que ele acha indispensável, Ogryskov apaixonou-se por dança moderna depois de assistir, nos anos 70, a um espetáculo do Alvin Ailey American Dance Theatre.
Sobre a principal companhia de Moscou, Ogryskov é enfático: "O Bolshoi recusa-se a perceber que está doente. Trata-se de uma companhia cristalizada, cujo elenco pratica a dança como um esporte, que faz do exibicionismo físico o ponto dominante".
Com a ajuda do Ministério das Relações Exteriores da França, Ogryskov tem convidado pedagogos europeus para desenvolver o intercâmbio em sua escola. (AFP)


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