São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2004

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OUTROS LANÇAMENTOS

Prince volta à realeza black

Musicology
    
As mudanças de nome, as brigas com gravadoras e os lançamentos prolíficos dos anos 90 causaram um dano considerável à imagem e à música de Prince. Mas esses escorregões são facilmente esquecidos ouvindo apenas "Musicology", primeira faixa do álbum de mesmo nome, produzido, arranjado e composto por Prince. Um groove mortal, cortado por um riff de guitarra certeiro e uma batida para não deixar ninguém parado são os elementos que recepcionam o ouvinte em "Musicology". No fim da música, ao fundo, começam a ser ouvidos ecos e trechos de sucessos passados, como "Kiss" e "Sign O" the Times". É uma brincadeira, mas também uma afirmação de que esse álbum é puro Prince e de que as novas músicas estão no ponto para figurar entre os maiores acertos do cantor. Na seqüência, "Illusion, Coma, Pimp & Circumstance" é uma daquelas faixas em que métrica da letra e batida se complementam à perfeição, à la George Clinton, e em que o funk flui como no melhor do Parliament, eterna fonte de Prince. Impossível não se render às quebras do vocal e à guitarra insinuante que pontua cada fim de frase. Como em outros discos, o ponto mais fraco aparece quando o cantor fica mais meloso. É o caso de "A Million Days", com seus timbres de guitarra um tanto cafonas. Mas logo vem a recuperação do clima festivo com "Life "o" the Party". Já o Prince mais roqueiro está todo em "Cinnamon Girl", que recupera o clima de balada dançante dos anos 80, com sua batida reta e sua alegria contagiante. É uma espécie de irmã mais contida de "Hey Ya!", do Outkast. A ligação é óbvia, já que o último disco da dupla de rap respira Prince o tempo todo, principalmente em "The Love Bellow". É sintomático, então, que o original volte para mostrar o que sabe e faça um disco tão consistente. Embora Prince seja a mente por trás de todo o álbum e toque todos os instrumentos, as participações de Sheila E, Rhonda Smith e Maceo Parker ajudam a moldar o clima de "de volta para o futuro" que faz tão bem a "Musicology". (GUILHERME WERNECK)


ARTISTA: PRINCE; GRAVADORA: SONY; QUANTO: R$ 35, EM MÉDIA

L.M.
  
Em "L.M.", Luciana Mello volta a investir na equação de voz mansa e precisa mais arranjos elegantes e tranqüilos. Parece também viver vôos de descoberta -prova-o o sensacional visual black power que adota na arte deste novo CD Permanece válido, no entanto, um impasse que a acompanha ao menos desde 2000: o potencial exposto em carne e voz sempre vira retração quando se trata da matéria música. Poderia ser um mal comum à "geração Trama", sempre confusa entre explodir e pisar no freio (e sempre tendendo à segunda opção). Mas este já é o segundo CD pela major Universal, e a explicação não basta. Filha do explosivo Jair Rodrigues e produzida pelo irmão (mais contido) Jair Oliveira, Luciana não deixa o black power rolar. Soa desanimada no funk ("Veneno no Olhar"), tanto quanto em releituras de samba-canção antigo (a versão global modorrenta de "Da Cor do Pecado"). O freio segue puxado. (PAS)



ARTISTA: LUCIANA MELLO; GRAVADORA: UNIVERSAL; QUANTO: R$ 30, EM MÉDIA

I Don't Want You Back
  
Eamon está bravo com a ex-namorada. Ela o mimou com presentes e gracejos, mas ele a pegou com outro e agora não há mais espaço para perdão. Para ele, agora, só com muitos palavrões. Esta é a história de "F**K It (I Don't Want You Back)", canção que tornou o americano Eamon um dos maiores fenômenos pop do ano -a música estacionou no topo da parada britânica de singles (e na de ringtones) por semanas. Eamon não é Eminem, mas é esperto o suficiente para saber que apenas despejar alguns palavrões numa música não é garantia de sucesso; ele adiciona doses de ironia e acidez, e as rimas se encaixam perfeitamente nas batidas rap/r&b. O universo pop seria uma paisagem tentadora se recheado apenas com músicas como esta, mas isso, sabemos, é impossível. Pena que no Brasil não existe o CD single, então, para ter "F**K It", é necessário comprar este álbum, que tem outras 15 músicas. (THIAGO NEY)


ARTISTA: EAMON; GRAVADORA: BMG; QUANTO: R$ 30, EM MÉDIA

Message to Love
°°   
O verão do amor tinha sido três anos antes, a barra das drogas estava cada vez mais pesada. Jim Morrison e Jimi Hendrix morreriam meses depois, mas mesmo assim vale ouvir esse disco que registra a terceira edição do festival da ilha de Wight (o Woodstock inglês) com a geração "paz e amor" em mente. Esse disco duplo, que tem apenas duas faixas que não foram gravadas em 1970 -"Amazing Grace", com o Great Awakening, que tocava antes dos shows, e "Desolation Row", de Bob Dylan"-, é uma boa amostra dos sonhos e desesperos da época. Se mostra o rock energético de Jethro Tull , Who, Ten Years After, apresenta também um lado mais sombrio, principalmente com a bela "Suzane", de Leonard Cohen. Fora isso, há o registro dos Doors, de Hendrix e de Kris Kristofferson cantando "Me and Bobby McGee", imortalizada por Janis Joplin. Um feito histórico, mas também fantasmagórico. (GW)


ARTISTA: VÁRIOS; GRAVADORA: BMG; QUANTO: R$ 50, EM MÉDIA

Ocean Avenue
  
Yellowcard é uma banda que vem da Flórida (EUA), tem um guitarrista chamado Ben Harper (não é aquele) e faz emocore. Em outras palavras, é uma banda "pra cima", que se parece com outras coisas e também faz a alegria de hordas de teens que gostam de sensibilidade no punk. "Ocean Avenue", o terceiro disco, marca a estréia em uma grande gravadora e traz tudo aquilo que caracteriza a esquizofrenia do emo (música já não deveria ser emotiva por natureza?; punk não era inicialmente contra o sistema?). Ou seja, as letras falam sobre questões pessoais como amadurecimento ("Twentythree"), pais ("Life of a Salesman") etc. Na tentativa de ser original -coisa quase impossível no gênero-, a banda tem um violinista (o grupo praticamente vira country em "One Year, Six Months"). O resultado é um pop ok, certinho, comportado, que sempre choca tiozinhos punk ortodoxos. (BRUNO YUTAKA SAITO)


ARTISTA: YELLOWCARD; GRAVADORA: EMI; QUANTO: R$ 27, EM MÉDIA


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