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COMENTÁRIO
Cantor foi pioneiro da "soul music"
CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Raríssimos artistas foram
tão originais e influentes na
música do último século como esse cantor, pianista e compositor
americano, considerado por vários críticos o virtual inventor da
"soul music". O codinome "The
Genius" (O Gênio), que passou a
ser associado a Ray Charles ainda
na década de 50, era merecido.
Sua grande sacada musical já vinha estampada em seu primeiro
sucesso. Lançada em 1955, a dançante "I've Got a Woman" exibia
a voz rascante e tipicamente
"bluesy" de Charles, impulsionada por seu piano marcado pelas
harmonias do gospel, o gênero
musical cultivado nas igrejas negras. Com o acréscimo das Raelettes, grupo vocal feminino que
passou a acompanhá-lo pouco
depois, Charles aproximou ainda
mais sua concepção sonora do
"feeling" dos coros gospel.
Em 1959, após o sucesso estrondoso de "What'd I Say", um longo
blues que remetia à celebração
emotiva e dançante das congregações batistas, Charles foi contratado a peso de ouro pela ABC Records. Apoiado em sua fórmula
original, criou outros dos maiores
hits de sua carreira: "Georgia on
My Mind", "Hit the Road Jack" e
"I Can't Stop Loving You".
Assim, em menos de uma década, Charles construiu uma obra
originalíssima e popular, que serviu de modelo para que intérpretes e compositores mais jovens,
como Sam Cooke, James Brown,
Otis Redding e Solomon Burke,
desenvolvessem o que se veio a
chamar de "soul music", já em
meados dos anos 60.
Mas Charles não se limitou a esse gênero musical. Em 1961, no álbum "Genius + Soul = Jazz",
mostrou seu suingue jazzístico
em arranjos de Quincy Jones e
Ralph Burns. No ano seguinte, no
álbum "Modern Sounds in
Country and Western", perpetrou uma mistura até então considerada insólita: recriou canções
country com um tratamento de
rhythm and blues.
Quem assistiu a algumas de
suas apresentações sabe que quase todas elas eram bem parecidas.
Nos momentos mais emotivos do
show, Charles conquistava de vez
a platéia com seu gesto característico: levantava-se do piano, com
aquele jeitão desengonçado, e simulava um grande abraço em todos. Atire a primeira pedra quem
disser que não sentiu um arrepio
diante dessa demonstração carinhosa de quem se dedicou por
cinco décadas a tornar mais palatável a vida de milhões de fãs.
Carlos Calado é autor de "O Jazz como
Espetáculo", entre outros livros
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