São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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Antes de falar, neandertal criou rave

Em livro, arqueólogo britânico defende que os hominídeos desenvolveram a comunicação musical antes da linguagem

Lançada nos EUA e na Europa, a obra traz teorias que mostram a música como elemento essencial no processo evolutivo

DA REPORTAGEM LOCAL

A festa nunca termina. E já está rolando há mais de 50 mil anos, de acordo com os estudos de um cientista britânico.
Para o arqueólogo Steven Mithen, professor de Pré-História da Universidade de Reading, na Inglaterra, antes mesmo de desenvolver um padrão de linguagem, os hominídeos que viviam entre 50 mil e 100 mil anos atrás utilizavam a música como forma de comunicação e socialização.
Para ilustrar, ele exemplifica com a imagem de homens de Neandertal em cavernas em Dordogne, na França, cantando, pulando, fazendo sons com os pés e com as mãos -claro, não havia tomada para eles ligarem toca-discos, o sistema de iluminação era precário e DJ ainda era uma profissão desconhecida, mas o mantra proporcionava uma noção comunitária, um "transe coletivo" semelhante ao visto nas atuais raves.
As idéias de Mithen estão no livro "The Singing Neanderthals: The Origins of Music, Language, Mind and Body" (384 págs.; Harvard University Press), lançado no Reino Unido no ano passado e nos Estados Unidos há algumas semanas.
"A música criava um senso coletivo, de estarem juntos na mesma situação, enfrentando os mesmos problemas", disse Mithen ao diário americano "The Wall Street Journal". "Oferecia uma identidade social, e não apenas individual."
O arqueólogo se apóia em outros estudos, de neurocientistas, antropólogos e paleontólogos, para reforçar a idéia da co-evolução de música e linguagem. Para Mithen, o homem de Neanderthal desenvolveu uma comunicação que ele chama de HMMMM -holística (não composta de elementos segmentados), manipulativa (influenciava emocionalmente a si próprio e aos outros), multimodal (utilizava sons e movimentos), musical (rítmica) e mimética (com gestos).
"Estou tentando utilizar o maior número possível de fontes de evidência. Algumas são mais tênues e controversas do que outras, mas, juntando todas, é possível apresentar uma hipótese sobre a evolução da música e da linguagem", afirmou à agência Reuters.
A pesquisadora Ellen Dissanayake, em texto para a "Human Nature Review", aponta que a teoria de Mithen diverge de teses conhecidas, como a do lingüista canadense Steven Pinker, para quem a música seria uma derivação do sistema de linguagem e sem característica adaptativa. "Música poderia existir no cérebro mesmo com a ausência da linguagem", diz o arqueólogo britânico.
Polêmicas à parte, ainda segundo "Singing Neanderthals", a comunicação musical funcionava como forma de as mulheres selecionarem os homens. Além disso, para Mithen, "o ato de fazer música é, antes de tudo, uma tarefa realizada em grupo, não apenas no mundo ocidental, mas presente em toda a nossa história". (THIAGO NEY)


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