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Antes de falar, neandertal criou rave
Em livro, arqueólogo britânico defende que os hominídeos desenvolveram a comunicação musical antes da linguagem
Lançada nos EUA e na Europa, a obra traz teorias que mostram a música como elemento essencial no processo evolutivo
DA REPORTAGEM LOCAL
A festa nunca termina. E já
está rolando há mais de 50 mil
anos, de acordo com os estudos
de um cientista britânico.
Para o arqueólogo Steven
Mithen, professor de Pré-História da Universidade de Reading, na Inglaterra, antes mesmo de desenvolver um padrão
de linguagem, os hominídeos
que viviam entre 50 mil e 100
mil anos atrás utilizavam a música como forma de comunicação e socialização.
Para ilustrar, ele exemplifica
com a imagem de homens de
Neandertal em cavernas em
Dordogne, na França, cantando, pulando, fazendo sons com
os pés e com as mãos -claro,
não havia tomada para eles ligarem toca-discos, o sistema de
iluminação era precário e DJ
ainda era uma profissão desconhecida, mas o mantra proporcionava uma noção comunitária, um "transe coletivo" semelhante ao visto nas atuais raves.
As idéias de Mithen estão no
livro "The Singing Neanderthals: The Origins of Music,
Language, Mind and Body"
(384 págs.; Harvard University
Press), lançado no Reino Unido
no ano passado e nos Estados
Unidos há algumas semanas.
"A música criava um senso
coletivo, de estarem juntos na
mesma situação, enfrentando
os mesmos problemas", disse
Mithen ao diário americano
"The Wall Street Journal".
"Oferecia uma identidade social, e não apenas individual."
O arqueólogo se apóia em outros estudos, de neurocientistas, antropólogos e paleontólogos, para reforçar a idéia da co-evolução de música e linguagem. Para Mithen, o homem de
Neanderthal desenvolveu uma
comunicação que ele chama de
HMMMM -holística (não
composta de elementos segmentados), manipulativa (influenciava emocionalmente a si próprio e aos outros), multimodal (utilizava sons e movimentos), musical (rítmica) e mimética (com gestos).
"Estou tentando utilizar o
maior número possível de fontes de evidência. Algumas são
mais tênues e controversas do
que outras, mas, juntando todas, é possível apresentar uma
hipótese sobre a evolução da
música e da linguagem", afirmou à agência Reuters.
A pesquisadora Ellen Dissanayake, em texto para a "Human Nature Review", aponta
que a teoria de Mithen diverge
de teses conhecidas, como a do
lingüista canadense Steven
Pinker, para quem a música seria uma derivação do sistema
de linguagem e sem característica adaptativa. "Música poderia existir no cérebro mesmo
com a ausência da linguagem",
diz o arqueólogo britânico.
Polêmicas à parte, ainda segundo "Singing Neanderthals",
a comunicação musical funcionava como forma de as mulheres selecionarem os homens.
Além disso, para Mithen, "o ato
de fazer música é, antes de tudo, uma tarefa realizada em
grupo, não apenas no mundo
ocidental, mas presente em toda a nossa história".
(THIAGO NEY)
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