São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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Crítica

Thriller político faz discussão requentada sobre imprensa

"Intrigas de Estado" é versão genérica de "Todos os Homens do Presidente" (1976)

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Intrigas de Estado" é um filme adulto. Numa época em que o adjetivo virou sinônimo de pornográfico, a constatação é menos evidente e mais elogiosa do que aparenta.
Isso significa dizer que, diferentemente da maioria das produções hollywoodianas atuais, a produção trata seu tema com a complexidade que ele merece e, com a exceção de uma ou outra sequência, não subestima o espectador.
Baseado em uma minissérie da BBC de 2003 e dirigido pelo escocês Kevin Macdonald ("O Último Rei da Escócia"), "Intrigas de Estado" é um thriller político sobre as relações entre poder e imprensa.
Na trama, Cal McCaffrey (Russell Crowe), repórter de um jornal de Washington, investiga a morte da amante de seu amigo Stephen Collins (Ben Affleck), congressista que denuncia a privatização do sistema de segurança nacional e que vê a carreira ameaçada pela divulgação do caso.
De modo relutante, Cal aceita a ajuda da blogueira Della Frye (Rachel McAdams) na apuração da história, que aponta não para um crime comum, e sim para uma conspiração político-corporativa. O filme foi concebido como um entretenimento à moda antiga, que baseia sua força antes em elementos artesanais bem cuidados (de roteiro, direção, atuações e montagem) do que em extravagâncias industriais.
Mas uma série de problemas abala a solidez do resultado final. O primeiro deles é que a trama de toda uma minissérie foi empacotada para caber em pouco mais de duas horas. Isso leva a uma certa pressa para avançar a história, prejudica o desenvolvimento dos personagens e origina uma reviravolta excessiva no final.
Uma falha mais grave é o fato de não estabelecer uma personalidade própria. "Intrigas de Estado" soa, na maior parte do tempo, como um filme genérico sobre o jornalismo investigativo, uma versão competente, porém requentada, de "Todos os Homens do Presidente" (1976), de Alan Pakula.
Para ser justo, é preciso dizer que existe ao menos uma discussão nova levantada pelo filme: a crise dos grandes jornais norte-americanos e a ascensão dos blogs -refletida na tensão entre os personagens do veterano Cal e da novata Della.
"Intrigas de Estado" tem uma opinião clara sobre o assunto: o mundo ainda precisa da investigação aprofundada do jornalismo impresso, e a internet ainda não está apta a assumir esse papel. O ponto de vista é digno, mas apresentado de maneira um tanto simplista. O filme coloca sua mensagem na boca de Cal, como se ele falasse diretamente (e de forma professoral) ao público, e não com os personagens à sua volta.
Num filme em geral bastante maduro, este é um momento de infantilização do espectador -que recebe a lição já pronta, em vez de ser estimulado a concluí-la por conta própria.


INTRIGAS DE ESTADO

Direção: Kevin Macdonald
Produção: EUA/Inglaterra/França, 2009
Com: Russell Crowe, Ben Affleck
Onde: em cartaz nos cines Jardim Sul, Pátio Higienópolis e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular




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