|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Thriller político faz discussão requentada sobre imprensa
"Intrigas de Estado" é versão genérica de "Todos os Homens do Presidente" (1976)
RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Intrigas de Estado" é
um filme adulto. Numa época em que o
adjetivo virou sinônimo de pornográfico, a constatação é menos evidente e mais elogiosa do
que aparenta.
Isso significa dizer que, diferentemente da maioria das
produções hollywoodianas
atuais, a produção trata seu tema com a complexidade que ele
merece e, com a exceção de
uma ou outra sequência, não
subestima o espectador.
Baseado em uma minissérie
da BBC de 2003 e dirigido pelo
escocês Kevin Macdonald ("O
Último Rei da Escócia"), "Intrigas de Estado" é um thriller político sobre as relações entre
poder e imprensa.
Na trama, Cal McCaffrey
(Russell Crowe), repórter de
um jornal de Washington, investiga a morte da amante de
seu amigo Stephen Collins
(Ben Affleck), congressista que
denuncia a privatização do sistema de segurança nacional e
que vê a carreira ameaçada pela
divulgação do caso.
De modo relutante, Cal aceita a ajuda da blogueira Della
Frye (Rachel McAdams) na
apuração da história, que aponta não para um crime comum, e
sim para uma conspiração político-corporativa.
O filme foi concebido como
um entretenimento à moda antiga, que baseia sua força antes
em elementos artesanais bem
cuidados (de roteiro, direção,
atuações e montagem) do que
em extravagâncias industriais.
Mas uma série de problemas
abala a solidez do resultado final. O primeiro deles é que a
trama de toda uma minissérie
foi empacotada para caber em
pouco mais de duas horas.
Isso leva a uma certa pressa
para avançar a história, prejudica o desenvolvimento dos
personagens e origina uma reviravolta excessiva no final.
Uma falha mais grave é o fato
de não estabelecer uma personalidade própria. "Intrigas de
Estado" soa, na maior parte do
tempo, como um filme genérico sobre o jornalismo investigativo, uma versão competente, porém requentada, de "Todos os Homens do Presidente"
(1976), de Alan Pakula.
Para ser justo, é preciso dizer
que existe ao menos uma discussão nova levantada pelo filme: a crise dos grandes jornais
norte-americanos e a ascensão
dos blogs -refletida na tensão
entre os personagens do veterano Cal e da novata Della.
"Intrigas de Estado" tem
uma opinião clara sobre o assunto: o mundo ainda precisa
da investigação aprofundada
do jornalismo impresso, e a internet ainda não está apta a assumir esse papel.
O ponto de vista é digno, mas
apresentado de maneira um
tanto simplista. O filme coloca
sua mensagem na boca de Cal,
como se ele falasse diretamente (e de forma professoral) ao
público, e não com os personagens à sua volta.
Num filme em geral bastante
maduro, este é um momento de
infantilização do espectador
-que recebe a lição já pronta,
em vez de ser estimulado a concluí-la por conta própria.
INTRIGAS DE ESTADO
Direção: Kevin Macdonald
Produção: EUA/Inglaterra/França,
2009
Com: Russell Crowe, Ben Affleck
Onde: em cartaz nos cines Jardim
Sul, Pátio Higienópolis e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular
Texto Anterior: Crítica: Longa troca riso inteligente por narrativa previsível Próximo Texto: Osesp interpreta Sofia Gubaidulina Índice
|