São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2010

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No pós-futuro, Lobão, 52, vê o passado

Em "Cinquenta Anos a Mil", cantor relata carreira musical e suas tentativas de suicídio; livro sai em novembro

Em fase paulista e rompido com o Rio, artista carioca termina vinil com inéditas e prepara novo álbum


J. A. Fonseca - 5.jun.1987/Folhapress
Oartista em 5 de junho de 1987, quando foi preso no Rio de Janeiro, por porte de drogas

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Quando completou 50 anos, em 2008, Lobão concluiu que não tinha mais futuro, que estava morto.
O cantor, compositor e "enfant terrible" da cena rock brasileira se viu afastado das gravadoras, do rádio e quase divorciado do sucesso.
Faltava uma "sacada" para divulgar sua música fora do esquema tradicional do mercado fonográfico, do qual abdicou em 1999.
Naquele ano, Lobão teve a ideia de vender seus discos em banca de jornal. Mas agora, dez anos depois, o recurso já não funcionava mais. Queria voltar ao esquema da grande indústria.
"Eu nunca disse que gravadora tinha que ser eliminada", diz. "Reclamava e lutava por melhores condições. A música precisa de dinheiro."
O músico então deixou o Rio de Janeiro, onde sempre se sentiu "um peixe fora d'água": "Nunca fui o esperto, nunca colei na prova. Estava totalmente fora do universo cultural carioca", afirma.

867 PÁGINAS
Em São Paulo, achou que, chegado "o tempo depois do futuro", era hora de narrar o passado. Em 867 páginas, Lobão deitou suas memórias de "Cinquenta Anos a Mil". Delas fazem parte cinco tentativas de suicídio (leia texto abaixo) e um punhado de ressurreições pela música.
O volume de memórias deve sair até novembro pela editora Nova Fronteira. Será uma autobiografia escrita a quatro mãos.
O jornalista Claudio Tognolli se encarrega de colher depoimentos e reunir documentos judiciais. É um recurso para dar lastro a passagens da vida de Lobão que, de tão mirabolantes, tornam-se inverossímeis.
Enquanto Tognolli se debruça sobre a produção de "Cinquenta Anos a Mil", Lobão acelera os projetos musicais. As faixas do compacto já estão definidas. Serão gravadas ainda neste mês pelo produtor americano Roy Cicala, que trabalhou em álbuns de John Lennon e Jimi Hendrix e agora vive em São Paulo.
Nelas, o próprio Lobão toca -sozinho- todos os instrumentos. "Nunca estive tão dentro da minha música como agora", diz.
Uma das canções novas é "Song for Sampa", em que declara amor eterno pela cidade que adotou aos 50 anos. "Essa é a minha cidade/ Gosto tanto de você/ Para sempre vou te amar/ Esse é o tempo depois do futuro".
A outra canção, ainda sem título, é homenagem ao compositor Júlio Barroso (da banda Gang 90), morto em 1984.
Depois de planejar o relançamento em CD dos nove LPs que gravou na RCA (atual Sony), entre 1982 e 1990, ele próprio abateu o projeto.
"Aquilo é a pior parte do meu trabalho", diz. "Então, selecionei, em três CDs, apenas as músicas que considero imprescindíveis."


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