São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Macalé enxuga nome e sons em CD

Em "Macao", artista usa poucos instrumentos e grava canções de Jobim, Vanzolini, Lupicínio e Melodia

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

As músicas são apenas 11, os minutos são apenas 38, o título é apenas "Macao", "apelido íntimo" de Jards Macalé -que já é um apelido do carioca Jards Anet da Silva, 65. O novo disco do homem que comeu flores no palco, ganhou pecha de "marginal" e incorporou ruídos à sua erudição musical é econômico, talvez mais do que qualquer outro que tenha lançado.
Quatro faixas têm apenas voz e violão. Foi assim que o projeto começou, ganhando alguns acréscimos depois. "Me cobravam muito um disco voz-e-violão, mas senti falta de outros sons. Chamei [o pianista e arranjador] Cristovão Bastos para me ajudar, e as coisas foram crescendo, só que aos pouquinhos. É um disco enxuto", diz.
O CD começa e termina com Macalé cantando e tocando sozinho. A abertura, "Farinha do Desprezo" (parceria com Capinan), foi a primeira faixa do primeiro disco do artista, de 1972. "Resolvi começar pelo começo", justifica a escolha.
O encerramento, "Só Assumo Só" (de sua alma gêmea Luiz Melodia), é um retrato azedo do Rio e do mundo a partir do bairro do Estácio, que há muito não acalma mais os sentidos, por causa da violência da região. "Estácio assume a nova fase/ Neste faroeste, precisamos pão", diz a letra.
"Sempre cantei ao vivo, mas a atualidade dela ficou impressionante, infelizmente. Em vez da antiga visão romântica, Melodia traz o morro de hoje", diz.

"Corcovado"
Também só com voz e violão, um outro morro carioca é lembrado em "Corcovado", o clássico de Tom Jobim que Macalé interpretou muitas vezes no palco, nunca em estúdio.
"Eu me dei conta de que ninguém estava cantando mais, nem eu. E precisamos de "Corcovado'", prega ele, que foi ao YouTube encontrar uma versão de João Gilberto para reproduzir a harmonia acorde por acorde -na primeira passada da música, pois a segunda é "a la Macalé", como ele traduz os efeitos vocais e violonísticos.
O quarto número solo é "Um Favor", de Lupicínio Rodrigues. A gravação do sucesso maior de Paulo Vanzolini, "Ronda", também é enxuta, só violão e cello. E o registro da já tão registrada "Ne Me Quitte Pas" (Jacques Brel) é mais: só o piano sutil de Cristovão Bastos.
As outras têm mais instrumentos, sendo três inéditas e duas que fazem companhia a "Farinha do Desprezo" no time das buscadas lá nos anos 70: "Boneca Semiótica" (parceria com Rogerio Duarte, Chacal e Duda), recuperada num arranjo do grupo carioca Laptop&Violão, e a bilíngüe "The Archaic Lonely Star Blues" (com Duda), que Gal Costa gravou no disco "Legal" (1970).
"Ela agora ficou meio bossa nova, embora a letra seja pesada, nada bossa nova. Gosto muito dessa música, que andava por aí esquecida. Eu sempre dou uma zapeada nos meus discos anteriores para pinçar coisas assim", conta. Desta vez, ele não buscou a unidade temática que marca a maior parte seus trabalhos, como o último, "Real Grandeza" (2005), só de parcerias com Waly Salomão. "Não tem uma historinha. Gostei de fazer o que pintava na cabeça."


Texto Anterior: Preço em conta ajuda a divulgar novos artistas
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.