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Macalé enxuga nome e sons em CD
Em "Macao", artista usa poucos instrumentos e grava canções de Jobim, Vanzolini, Lupicínio e Melodia
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
As músicas são apenas 11, os
minutos são apenas 38, o título
é apenas "Macao", "apelido íntimo" de Jards Macalé -que já
é um apelido do carioca Jards
Anet da Silva, 65. O novo disco
do homem que comeu flores no
palco, ganhou pecha de "marginal" e incorporou ruídos à sua
erudição musical é econômico,
talvez mais do que qualquer outro que tenha lançado.
Quatro faixas têm apenas voz
e violão. Foi assim que o projeto começou, ganhando alguns
acréscimos depois. "Me cobravam muito um disco voz-e-violão, mas senti falta de outros
sons. Chamei [o pianista e arranjador] Cristovão Bastos para me ajudar, e as coisas foram
crescendo, só que aos pouquinhos. É um disco enxuto", diz.
O CD começa e termina com
Macalé cantando e tocando sozinho. A abertura, "Farinha do
Desprezo" (parceria com Capinan), foi a primeira faixa do primeiro disco do artista, de 1972.
"Resolvi começar pelo começo", justifica a escolha.
O encerramento, "Só Assumo Só" (de sua alma gêmea
Luiz Melodia), é um retrato
azedo do Rio e do mundo a partir do bairro do Estácio, que há
muito não acalma mais os sentidos, por causa da violência da
região. "Estácio assume a nova
fase/ Neste faroeste, precisamos pão", diz a letra.
"Sempre cantei ao vivo, mas a
atualidade dela ficou impressionante, infelizmente. Em vez
da antiga visão romântica, Melodia traz o morro de hoje", diz.
"Corcovado"
Também só com voz e violão,
um outro morro carioca é lembrado em "Corcovado", o clássico de Tom Jobim que Macalé
interpretou muitas vezes no
palco, nunca em estúdio.
"Eu me dei conta de que ninguém estava cantando mais,
nem eu. E precisamos de "Corcovado'", prega ele, que foi ao
YouTube encontrar uma versão de João Gilberto para reproduzir a harmonia acorde
por acorde -na primeira passada da música, pois a segunda
é "a la Macalé", como ele traduz
os efeitos vocais e violonísticos.
O quarto número solo é "Um
Favor", de Lupicínio Rodrigues. A gravação do sucesso
maior de Paulo Vanzolini,
"Ronda", também é enxuta, só
violão e cello. E o registro da já
tão registrada "Ne Me Quitte
Pas" (Jacques Brel) é mais: só o
piano sutil de Cristovão Bastos.
As outras têm mais instrumentos, sendo três inéditas e
duas que fazem companhia a
"Farinha do Desprezo" no time
das buscadas lá nos anos 70:
"Boneca Semiótica" (parceria
com Rogerio Duarte, Chacal e
Duda), recuperada num arranjo do grupo carioca Laptop&Violão, e a bilíngüe "The
Archaic Lonely Star Blues"
(com Duda), que Gal Costa gravou no disco "Legal" (1970).
"Ela agora ficou meio bossa
nova, embora a letra seja pesada, nada bossa nova. Gosto
muito dessa música, que andava por aí esquecida. Eu sempre
dou uma zapeada nos meus discos anteriores para pinçar coisas assim", conta. Desta vez, ele
não buscou a unidade temática
que marca a maior parte seus
trabalhos, como o último, "Real
Grandeza" (2005), só de parcerias com Waly Salomão. "Não
tem uma historinha. Gostei de
fazer o que pintava na cabeça."
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