São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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HBO procura tiros e explosões no Chile

Seriado sobre narcotráfico gravada no país perde sotaque e tom local para facilitar exportação no continente

Pablo Larrain, de "Tony Manero", dirige roteiro sobre golpistas que se dão mal quando tentam levar droga para o Chile

CLARICE CARDOSO
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO

No topo dos Andes, na calmaria gelada, um som interrompe o silêncio no centro de esqui La Parva: tiros. Bandidos trocam reféns e balas no teleférico. Todos se assustam. O diretor Jonathan Jakubowicz entra: "Corta!".
Está encerrada a gravação de uma cena de "Prófugos", série que a HBO produz no Chile. É a sétima do canal na América Latina, primeira de ação fora dos EUA.
Tudo começa quando quatro malandros resolvem dar um golpe e aceitam o convite de uma traficante para levar um caminhão de cocaína líquida da Bolívia até o Chile.
Termina numa confusão perigosa entre os quatro foragidos (daí o título), a polícia e um grande cartel. "Não há silêncios", resume o produtor Rodrigo Flores.
As duas semanas que se seguem serão contadas nos 13 episódios da primeira temporada, prevista para o segundo semestre de 2011.

DROGA DE VIDA
Voltar a abordar o narcotráfico na América Latina é um tema delicado. "As coisas têm peso por uma razão, não podemos ignorá-las. É uma desgraça comum ao continente", dispara o diretor-geral Pablo Larraín (do badalado longa "Tony Manero").
"A droga que serve de mote para a ação logo desaparece e dá lugar a outros temas", diz o ator Benjamín Vicuña.
Um dos mais famosos do estrelado elenco local (participou de "Os Simuladores"), ele fez contato com traficantes reais para viver o infiltrado Tegui. Policiais também foram consultores do elenco.
As cenas foram gravadas por todo o Chile, da neve de La Parva às praias de Valparaíso (confira ao lado). "Nosso maior trunfo e dificuldade é a itinerância. Passamos só três ou quatro dias em cada local", afirma Flores. Atrás do projeto há quatro anos, esteve na linha de frente para a aprovação pelo canal.
"Convencê-los não foi fácil. Não temos o tamanho de mercado do Brasil, da Argentina, do México", diz. Ou seja: para ser exportada, a série "neutralizou" o Chile.
"Particularmente, gostaria de me aprofundar mais no país, o que não faremos", diz o ator Francisco Reyes.
"Baixamos o tom das atuações, falamos mais baixo, com menos gestos. É bem diferente da nossa TV", explica o ator Néstor Cantillana.
"Mas o universal é o local, já dizia Aristóteles", arremata Jakubowicz, que se sai bem de outra pergunta espinhosa: como tratar o tema sem cair na apologia? "Não fazemos a violência "cool" como nos filmes porque aqui ela é parte de nossas vidas."
Serão seis meses de gravação. Uma cena, que envolve tiroteio e explosões, fechou as ruas do centro de Santiago por três finais de semana seguidos para ser filmada.
Um cuidado com detalhes que apareceu nos 15 minutos a que a Folha assistiu e que agrada à emissora. E deixa pistas de que uma segunda temporada pode vir por aí.

A jornalista CLARICE CARDOSO viajou a convite da HBO.


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