|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VANESSA VÊ TV
VANESSA BARBARA - vanessa.barbara@uol.com.br
Detetives pouco selvagens
ELE TEM medo de germes, agulha,
leite, morte, cogumelos, altura, multidões, elevadores, coisas redondas,
lençóis e filhotes (nessa ordem).
Também evita o contato com liquidificadores e abelhas -e com abelhas em liquidificadores.
Adrian Monk, o detetive menos
destemido de San Francisco, finalmente desvendou seu principal caso
após oito temporadas tentando descobrir quem matou a mulher, Trudy,
em "Monk" (Record, às sextas, à
0h15; 14 anos).
Nesse período, mesmo sendo dependente de lencinhos de limpeza e
sofrendo de um severo transtorno
obsessivo-compulsivo, ele conseguiu resolver 125 crimes. Venceu os
meliantes mais durões e encarou sérias ameaças, embora tivesse pânico de joaninhas. ("Tem natureza
nas minhas mãos!", ele grita, após
se sujar com terra.)
Adrian Monk é a prova televisiva
de que as limitações pessoais podem ser contornadas e até transformadas em qualidades -"é um dom
e uma maldição", afirma.
Monk usa sua patológica fixação
pelos detalhes para identificar o que
ele chama de "peças fora do lugar"
na cena do crime. "Esta sala é um
pesadelo do feng shui!", reclama.
Para ele, tudo precisa fazer sentido.
Por mais que, na vida cotidiana, essas minúcias quase o tornem incapaz, são elas que lhe dão vantagem
durante a investigação, convertendo suas fraquezas em forças.
Outro grande exemplo desse paradoxo é o detetive Columbo, da série homônima, a quem ninguém dá a
mínima porque é vesgo, malvestido,
descabelado e confuso. É justamente esse o seu método de solucionar
crimes: aproveitando-se da arrogância alheia.
Quanto mais poderoso o assassino, mais superior ele se sente e, assim, tenta didaticamente trazer o
pobre detetive à luz. É aí que Columbo, prestes a sair da sala e agradecer pelas informações -para alívio
do suspeito-, diz: "Só mais uma
perguntinha". E desmonta o caso.
Em suma, ambos são "o oposto
do Batman", têm olho de vidro ou
podem surtar diante de inofensivas
gaitas, mas, no final, levam a melhor. Com todas as peças do homicídio encaixadas, Adrian Monk pode,
enfim, descansar. "A menos que eu
esteja errado, o que, você sabe, eu
não estou..."
Texto Anterior: Franquia de "CSIs" desobedece ao tempo e complica detetives Próximo Texto: Coleção traz virtuosismo de Jacob do Bandolim Índice
|