PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Vai ao ar amanhã, pela Rádio Cultura AM, às 23h, o primeiro programa da série "Conversa de Botequim", que procura, por intermédio de música popular brasileira, conciliar os velhos inimigos "erudito" e "popular".
Conduzida pelo escritor e dramaturgo Hersch W. Basbaum, 60, o programa traz pensadores brasileiros de renome para discutir pautas diversas como política, filosofia, malandragem e preconceito, sempre sob a ótica da história da MPB.
"Não são discussões que pretendam tirar conclusões determinadas, mas acho que os programas acabam sendo informativos de forma agradável", diz Basbaum.
O esquema que ele armou baseia-se num roteiro pré-determinado de canções (leia as dos dois primeiros programas em quadro à esquerda). Basbaum introduz cada canção, deixa-a tocar e ensaia um diálogo/discussão que a canção possa suscitar.
O programa de amanhã, que discute a relação entre canção e política, traz como convidado o professor de ciência política da Unicamp, Leôncio Martins Rodrigues.
Ele discute canções que vão da ironia antigovernamental de "Onde Está a Honestidade" (Noel Rosa, 1933) e do enaltecimento getulista do trabalho de "O Bonde São Januário" (Ataulfo Alves-Wilson Baptista, 1940) à militância de "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (Geraldo Vandré, 1968) e às entrelinhas revoltadas contra o regime militar de "Apesar de Você" (Chico Buarque, 1970).
"Achei muito interessante participar como sociólogo e cientista político, embora meu conhecimento de MPB seja habitual, nada excepcional", afirma Martins Rodrigues. "O que fiz, à medida que as músicas entravam, foi tentar inseri-las em contextos políticos mais amplos."
Como Basbaum, Martins Rodrigues diz que as discussões não pretendem chegar a uma conclusão final. "A idéia original, penso, é dar ao público boa música brasileira, mas também olhando outros aspectos, tirando algumas ilações além da própria canção."
A série "Conversa de Botequim" será transmitida semanalmente, às 23h de cada domingo. Consiste, a princípio, de 12 programas (quase todos já gravados) de uma hora de duração -mas Basbaum quer que a série continue depois dessa primeira fase.
O segundo programa, apelidado "A Filosofia e o Senso Comum", traz a professora de filosofia da USP, Olgária Matos. "Ela fez um passeio maravilhoso pelas canções de Noel Rosa, Monsueto Menezes, Zé da Zilda, comparou Paulinho da Viola com Baudelaire", adianta Basbaum.
Seguem os programas "A Marchinha Carnavalesca" (com a professora de literatura Walnice Galvão), "O Processo de Urbanização (o arquiteto Geraldo Serra), "A Paixão e os Desencontros" (a socióloga Maria do Carmo Campello), "O Preconceito" (a psicanalista Sônia Azambuja), "A Malandragem" (o pesquisador Zuza Homem de Mello), "A Nostalgia e a Música" (o diretor teatral Aderbal Freire-Filho), "História do Brasil" (o historiador Fernando Novais) e "A Revolução de 30" (o historiador Boris Fausto).



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