São Paulo, sábado, 11 de julho de 1998

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Cineasta foi a maior estrela de seus filmes

da Redação

Num tempo em que os diretores de cinema eram apenas empregados de estúdio, Alfred Hitchcock (1899-1980) conseguiu a proeza de ser a principal estrela de seus próprios filmes.
Isso se deveu tanto ao sentido publicitário aguçado quanto à sua identificação com um gênero -o suspense- que cultivou desde seu terceiro filme, "The Lodger", de 1926.
Na época, Hitchcock já era conhecido por seu estilo diferente dos britânicos e pelo conhecimento técnico profundo.
Graças à série de sucessos obtida ao longo dos anos 30, embarcou para os EUA em 1939, contratado por David O. Selznick para filmar "Rebecca". O maquinário hollywoodiano o fascinou de imediato. Nele, Hitchcock viu a possibilidade de pôr em imagens todas as suas fantasias.
Os atores e atrizes de Hollywood também o fascinaram: eram capazes de interpretar personagens de carne e osso, sem afetação.
Logo Hitchcock livrou-se da tutela de Selznick e conseguiu cada vez mais independência.
Ao mesmo tempo em que amadureceu, até chegar a compor, entre os anos 50 e 60, uma série inesquecível de obras-primas, como "Janela Indiscreta", "Um Corpo que Cai", "Psicose" e "Os Pássaros".
Virtuose, sustentava que a técnica nunca deveria impor-se ao enredo, mas, colocá-lo em evidência.
Apesar dos sucessos, Hitchcock foi considerado apenas um diretor comercial até os anos 50, quando seu trabalho passou a ser estudado pelos redatores da revista francesa "Cahiers du Cinéma".
Esses trabalhos colocaram em evidência elementos que, até então, haviam passado despercebidos, como o catolicismo do diretor e sua problemática relação com a sexualidade (assuntos ignorados também nos textos de "Hitchcock por Hitchcock", embora o cineasta tenha escrito um belo artigo sobre seu ideal de feminilidade).
Essa é a trajetória que "Hitchcock por Hitchcock" retoma no chamado calor da hora, com artigos e entrevistas concebidos quando, por vezes, ainda não se sabia o destino de sua reputação futura.
Por vezes, Gottlieb foi longe. Tanto publica um conto da juventude de Hitchcock, escrito à maneira de Edgar Poe (porém pouco apaixonante), quanto um interessantíssimo diálogo, em que Hitchcock dá um baile num psiquiatra que combate a violência na TV. Dessa diversidade vem, também, o encanto do livro. (IA)



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