|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
IMPRENSA NOS EUA
Disney leva
diretora da
"New Yorker'
AMIR LABAKI
de Nova York
Num golpe de mestre, a polêmica jornalista britânica Tina Brown,
44, surpreendeu a todos anteontem, anunciando que troca a direção da prestigiada revista semanal
"The New Yorker" por um ambicioso projeto com a Miramax, a
distribuidora de filmes de arte da
Walt Disney Company.
A ida de Brown a Hollywood encerra uma colaboração de 16 anos
com o grupo editorial Newhouse,
detentor de jornais, canais a cabo e
revistas como "Vanity Fair".
Tina Brown vai coordenar uma
nova companhia, que deve desenvolver uma revista mensal, uma
editora de livros, projetos de filmes e de especiais de TV.
"Essa parceria com a Miramax é
uma grande oportunidade para a
criação e para negócios", disse a
jornalista em nota oficial. Brown
classificou a proposta como "tentadora demais", tanto pela colaboração com a cultuada distribuidora dos irmãos Weinstein quanto
pela retomada da dupla com Ronald A. Galotti, com quem trabalhara antes na "Vanity Fair" e
que deixa o atual cargo de "publisher" de "Vogue", também
do grupo Newhouse.
A transferência tem sabor de
vingança para Brown. Há seis anos
ela foi esnobada em Nova York ao
trocar o cargo de editora-chefe de
"Vanity Fair" pela direção de redação da "New Yorker". Era mulher, jovem, inglesa, bem-sucedida e vinculada à cultura pop. O
que vinha fazer na mais elitista das
publicações literárias americanas,
fundada por Harold Ross e Raoul
Fleischmann em 1925?
Brown respondeu logo. Arejou
graficamente a revista, abrindo-a
até para ensaios fotográficos. Renovou o time de articulistas, bancando novas estrelas como Adam
Gopnik, Anthony Lane, David
Remnick e Henri Louis Gates. A
venda em bancas cresceu 145% em
sua gestão. A revista reconquistou
prestígio, vencendo 14 prêmios.
Ainda assim, as contas não fecharam. Desde que teve o controle
assumido pelo grupo Newhouse,
em 1987, "The New Yorker" acumulou um prejuízo estimado entre US$ 112 milhões e US$ 135 milhões. Apesar da recuperação com
Brown, só no ano passado o balanço foi negativo em US$ 11 milhões.
As tensões cresceram, e desde o
ano passado falava-se que a cabeça
de Brown estava a prêmio. Ao renitente prejuízo somava-se a resistência dela aos planos centralizadores da Condé Nast, a companhia da Newhouse dedicada a revistas. Planeja-se mudar a "New
Yorker" para a sede única do grupo, em construção na Times Square, retirando-a do célebre endereço na rua 43 oeste. Outro ponto de
atrito seria o projeto de venda de
anúncios em pacote para "The
New Yorker" e as demais publicações do selo Condé Nast.
Volta por cima
Com a demissão voluntária, Tina Brown deu a volta por cima. O
preconceito face à sua gestão esfumou-se e ela só tem colhido elogios desde o anúncio de sua saída.
O maior problema sobrou nas
mãos de Samuel I. Newhouse Jr., o
milionário diretor-geral do grupo.
Uma porta-voz disse que a sucessão de Brown será logo definida.
Ela deixa o cargo em agosto.
Não há um herdeiro óbvio. Se a
intenção for manter o projeto Tina
Brown, estão cotados seus pupilos
Kurt Andersen e David Remnick.
Se a idéia for aproximar a revista
do grupo, fala-se em James Truman, executivo da Condé Nast, e
em Graydon Carter, editor da
"Vanity Fair".
A Newhouse sabe que não pode
repetir o erro cometido ao assumir
há 11 anos o controle da revista,
adquirido dos fundadores, a família Fleischmann. Sem o menor tato, afastaram da direção William
Shawn (1907-1992), funcionário
da casa havia 55 anos e no cargo
desde 1952, substituindo-o pelo
editor de livros Robert A. Gottlieb.
A circulação cresceu um pouco,
mas a revista perdeu prestígio e
publicidade. O baixo lucro do final
da era Shawn virou prejuízo. Em
junho de 1992, Gottlieb era substituído por Tina Brown.
Num livro recente (leia texto
nesta página), a jornalista Lillian
Ross narra a simpatia com que
Shawn recebeu as reformas de
Brown na "New Yorker". Ross
chegou a marcar um encontro entre Shawn e Brown, inviabilizado
pela repentina morte do editor.
A passagem de bastão se deu
simbolicamente por meio do livro
de Ross. Nos últimos dois dias, a
mídia americana tem feito "mea
culpa" e celebrado a breve gestão
de Tina Brown. É o reconhecimento que faltava: até o último
suspiro, ninguém mais que William Shawn soube o que era melhor para "The New Yorker".
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|