São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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POLÍTICA CULTURAL

Profissionais de cinema defendem projeto de lei que cria Agência do Audiovisual, para regular também a TV

Ministério da Cultura obtém apoio e sai do isolamento

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O MinC (Ministério da Cultura) começa a deixar de ficar isolado na defesa de seu projeto de lei que cria a Ancinav (Agência Nacional do Cinema e Audiovisual).
O projeto, ainda não enviado ao Congresso, foi divulgado na semana passada, sob fortes críticas de setores atingidos pela previsão de novas taxas (distribuidores e exibidores de cinema) e pela possibilidade de submissão ao controle e fiscalização de conteúdos pela futura agência (caso das empresas de televisão).
Manifestações de apoio à proposta do ministério, sem excluir a necessidade de seu aperfeiçoamento, começaram a circular anteontem, em forma de notas oficiais e de mensagens nas listas de discussão de profissionais de cinema na internet.
"Apoiamos sobretudo os mecanismos que visam a garantir a distribuição mais democrática dos espaços e dos recursos -quer em relação às diversas regiões do país, quer em relação aos agentes do processo com menor capacidade financeira e menos trânsito na mídia", diz nota da Aprocine (Associação dos Produtores e Realizadores de Filmes de Longa-Metragem de Brasília).
O cineasta e montador Eduardo Escorel comenta na lista de discussão da Abraci (Associação Brasileira de Cineastas): "Se há detalhes que podem ser discutidos e aspectos que podem ser aprimorados, se a redação de certos artigos pode ser tornada mais clara, nada disso afeta o essencial: a substância do projeto é excelente, atende o interesse do cinema brasileiro e vem ao encontro de antigas reivindicações do setor".
O atendimento a reivindicações de parcela da indústria cinematográfica no país é também o aspecto destacado na nota divulgada por Geraldo Moraes, presidente do CBC (Congresso Brasileiro de Cinema): "A criação da Ancinav e a regulamentação do setor audiovisual representam uma histórica demanda do cinema brasileiro".
Moraes, no entanto, não tem autorização das 54 entidades associadas ao CBC para aprovar, em nome de todas, o texto do MinC. "Quem se manifestou foi o presidente do CBC. É a opinião de uma pessoa, assim como a do Cacá [Diegues] ou a do [Arnaldo] Jabor [cineastas contrários ao projeto]", diz Valmir Fernandes, presidente da Cinemark e da Abraplex (Associação das Operadoras de Multiplex), que integra o CBC.
Na semana passada, a Abraplex, em conjunto com a Feneec (Federação Nacional dos Exibidores de Cinema) e a Abracine (Associação Brasileira dos Exibidores de Cinema), divulgou nota em que "repudiam o brutal aumento de carga tributária [previsto no projeto de lei]" e condenam "o violento intervencionismo e a exagerada regulação em um segmento que tem dado provas de desenvolvimento nos últimos anos".
Moraes afirma que, junto com Fernandes, irá estudar "um sistema de consulta a todas as entidades" filiadas ao congresso, para que opinem sobre cada artigo do projeto de lei individualmente.
Hoje, o Sicesp (Sindicato da Indústria Cinematográfica de São Paulo) se reúne para avaliar se assinará conjuntamente com o Sicav (Sindicato da Indústria Cinematográfica e Audiovisual), do Rio de Janeiro, carta sobre o tema.
O cineasta Paulo Thiago, que preside o Sicav e preparou o documento depois de assembléia dos associados, diz que a intenção é de "diálogo com o governo".
"Ninguém está aqui nem para confrontos estudantis nem para adesismo. Não somos ingênuos de acreditar no "laisser-faire". Há 40 anos defendemos regulação. Mas queremos uma regulação que não seja um tiro no pé", diz.


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