JOSIMAR MELO
COLUNISTA DA FOLHA

Não é fácil herdar um ponto onde funcionou um restaurante por muitos anos e prosseguir ali com o mesmo negócio tentando trilhar um caminho próprio, como começa a fazer agora o novo restaurante Miró. O extinto La Bourgogne, que ali funcionou por duas décadas, sofria de algumas mazelas resultantes do fato de estar instalado num edifício de flats, mas tinha uma história respeitável. Teve inicialmente a consultoria de um jovem e promissor chef argentino, Francis Mallmann -que anos depois voltaria ao Brasil como consultor na inauguração do Figueira Rubaiyat. Muito tempo depois, o ponto seria adquirido por Maurice Bibas, que lhe inseriu uma cozinha caprichada e uma carta de vinhos selecionada. Terminou fechando e agora renasce, depois de reforma, como Miró.
Continua ali no térreo do flat, timidamente recuado em relação a quem vem da rua. Mudou a decoração e a arquitetura. Mas tem um fio de continuidade com relação ao seu ocupante anterior: o chef de cozinha, Adilson José da Silva (o Jacaré), trabalhava no La Bourgogne. Ele foi mantido na equipe pelos novos proprietários, que se aproximaram do projeto de assumir a casa porque o empresário carioca Eden Ramos era cliente dali e foi seduzido pela idéia de comprar o ponto -o qual está nas mãos de sua irmã e de seu filho, Juti e Bruno Ramos.
A idéia inicial era fazer um restaurante espanhol (daí o nome, homenagem ao pintor famoso). Mas, como o chef sugeriu a introdução de pratos de outras nacionalidades européias, a coisa ficou eclética: receitas italianas, francesas e até um cuscuz como acompanhamento de carnes deram ao menu um ar mediterrâneo.
O cardápio não é extenso. Há entradas na tradição francesa como os escargôs cozidos e temperados com manteiga, alho e ervas. Entre os pratos principais, da Itália, são três massas (como fettuccine com anéis de lulas e molho rosé -ainda há quem sirva molho rosé!)- e três risotos (o de camarões é cozido num fumé bem feito, embora os camarões que o acompanham sejam insossos). Entre os pratos principais, o afrancesado pato com azeitonas é bem assado, macio, mas o molho não tem a tradicional presença das azeitonas -elas são quase um ornamento. É bem melhor o lombo de cordeiro, macio, com molho delicado de alho e acompanhamento de cuscuz. A sobremesa Tentação Miró (massa de nozes coberta de creme patissière envolto em morangos) tem uma apresentação quase grosseira, mais até no visual do que no sabor. A carta de vinhos é modesta -e a adega os mantém numa temperatura acima do desejado.