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Gourevitch elogia diálogo entre jornalismo e literatura nos EUA
MARCOS STRECKER
ENVIADO ESPECIAL A PARATI
Jornalismo é o tema do dia
hoje na Flip. Mais especificamente, o "jornalismo narrativo" e os limites entre jornalismo e literatura vão ser discutidos por dois grandes nomes da
imprensa americana, a veterana Lillian Ross, da "New Yorker", e Philip Gourevitch, editor da "The Paris Review".
Ross transformou nos anos
50 uma série de reportagens
com o cineasta John Huston
em "Filme" (Companhia das
Letras), que já trazia o embrião
do que ficou conhecido mais
tarde como "new journalism" e
fez a fama de Truman Capote e
Tom Wolfe, entre outros. Gourevitch transformou várias reportagens sobre os massacres
de 1994 em Ruanda, produzidas para a mesma "The New
Yorker", no ótimo "Gostaríamos de Informá-lo de que
Amanhã Seremos Mortos com
Nossas Famílias", livro que está
sendo agora relançado no Brasil em edição de bolso (também
pela Companhia das Letras).
Gourevitch elogia a literatura americana que surgiu dialogando com as revistas literárias
e faz uma defesa enfática da influência da reportagem. "Isso é
uma forma específica de literatura feita nos EUA, nos últimos
50 anos", disse à Folha. "Não
tenho uma teoria, mas tem a
ver com atualidade, é uma forma americana marcada por nomes como Norman Mailer."
Gourevitch, que já percorreu
a África, a Ásia e a Europa, destaca aspectos essenciais para as
reportagens: a atenção aos detalhes, o registro em notas, a
checagem etc. Curiosamente,
Ross ficou famosa por nunca
tomar notas para suas reportagens e foi criticada por ficar
amiga dos entrevistados.
E o mundo literário, está virando uma indústria de celebridades? "Muitos escritores
adorariam que fosse assim", diz
Gourevitch. "Mas sempre foi
assim. Quando Dickens visitou
os EUA no século 19, já era assim", disse. "E há excelentes
bons autores que não querem
ser celebridades, como Philip
Roth", acrescenta.
O jornalista americano não
gosta de relacionar o seu livro
com outra famosa obra que trata do delicado tema do genocídio, também surgida de reportagens para a "New Yorker":
"Eichmann em Jerusalém", de
Hanna Arendt. Ele reconhece
que só leu as famosas teses sobre a banalidade do mal depois
de relatar os massacres coletivos em Ruanda.
Ironicamente, diz Gourevitch, "Ruanda pode ter levado
a Europa a impedir uma tragédia como a que ocorreu na Segunda Guerra". "Mas na África
isso pode voltar a acontecer."
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