São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2006

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Gourevitch elogia diálogo entre jornalismo e literatura nos EUA

MARCOS STRECKER
ENVIADO ESPECIAL A PARATI

Jornalismo é o tema do dia hoje na Flip. Mais especificamente, o "jornalismo narrativo" e os limites entre jornalismo e literatura vão ser discutidos por dois grandes nomes da imprensa americana, a veterana Lillian Ross, da "New Yorker", e Philip Gourevitch, editor da "The Paris Review".
Ross transformou nos anos 50 uma série de reportagens com o cineasta John Huston em "Filme" (Companhia das Letras), que já trazia o embrião do que ficou conhecido mais tarde como "new journalism" e fez a fama de Truman Capote e Tom Wolfe, entre outros. Gourevitch transformou várias reportagens sobre os massacres de 1994 em Ruanda, produzidas para a mesma "The New Yorker", no ótimo "Gostaríamos de Informá-lo de que Amanhã Seremos Mortos com Nossas Famílias", livro que está sendo agora relançado no Brasil em edição de bolso (também pela Companhia das Letras).
Gourevitch elogia a literatura americana que surgiu dialogando com as revistas literárias e faz uma defesa enfática da influência da reportagem. "Isso é uma forma específica de literatura feita nos EUA, nos últimos 50 anos", disse à Folha. "Não tenho uma teoria, mas tem a ver com atualidade, é uma forma americana marcada por nomes como Norman Mailer."
Gourevitch, que já percorreu a África, a Ásia e a Europa, destaca aspectos essenciais para as reportagens: a atenção aos detalhes, o registro em notas, a checagem etc. Curiosamente, Ross ficou famosa por nunca tomar notas para suas reportagens e foi criticada por ficar amiga dos entrevistados.
E o mundo literário, está virando uma indústria de celebridades? "Muitos escritores adorariam que fosse assim", diz Gourevitch. "Mas sempre foi assim. Quando Dickens visitou os EUA no século 19, já era assim", disse. "E há excelentes bons autores que não querem ser celebridades, como Philip Roth", acrescenta.
O jornalista americano não gosta de relacionar o seu livro com outra famosa obra que trata do delicado tema do genocídio, também surgida de reportagens para a "New Yorker": "Eichmann em Jerusalém", de Hanna Arendt. Ele reconhece que só leu as famosas teses sobre a banalidade do mal depois de relatar os massacres coletivos em Ruanda.
Ironicamente, diz Gourevitch, "Ruanda pode ter levado a Europa a impedir uma tragédia como a que ocorreu na Segunda Guerra". "Mas na África isso pode voltar a acontecer."


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