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Rosa Passos se dedica à intimidade em voz e violão
Apelidada de "João Gilberto de saias", baiana lança disco de clássicos e inéditas
Com voz doce e afinada, ela mostra parcerias guardadas desde o início dos anos 70; Sesc Pompéia marca volta ao Brasil após cinco anos
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nos últimos anos, ela tem andado distante dos palcos brasileiros, envolvida em freqüentes
turnês pelo mundo. Apadrinhada pelo violoncelista sino-francês Yo-Yo Ma, que a incluiu em seu álbum "Obrigado,
Brasil" (2003), Rosa Passos viu
sua carreira internacional crescer muito desde então.
O concerto no Carnegie Hall,
em fevereiro último, é um índice do prestígio da cantora baiana, que se apresentou no erudito palco nova-iorquino só com
seu violão. Foi também com
voz e violão que ela gravou "Rosa", seu novo álbum já lançado
nos EUA, que chega agora ao
mercado brasileiro.
"Este disco é a minha essência. Não dá para mentir num
trabalho como este, porque você está ali, sozinha com seu instrumento", diz a intérprete,
que já gravou faixas de trabalhos anteriores só com violão,
mas jamais tinha dedicado um
álbum inteiro a esse formato.
Passos sabe que um projeto
como este pode reforçar mais
ainda o rótulo "João Gilberto
de saias", que a persegue desde
o início da carreira, inclusive no
exterior. Porém, em vez de incomodá-la, essa comparação é
motivo de orgulho.
"Isso é uma honra para mim,
porque João Gilberto é uma referência no mundo inteiro", diz
ela, argumentando que gravou
"Rosa" no momento certo de
sua carreira. "Eu já tenho uma
discografia com diversas formações, e este disco vem para
completá-la."
Para selecionar as 15 faixas
do álbum, Passos gravou 35
canções, em três dias de estúdio. "Fui filtrando as músicas,
porque um disco deve ter um
perfil. Quero que as pessoas
continuem ouvindo esse trabalho daqui a 30 anos."
Com a voz doce e afinadíssima de sempre, ela recria alguns
clássicos da música brasileira,
como "Eu Não Existo sem Você" (Tom Jobim e Vinicius de
Moraes), "Até Quem Sabe"
(João Donato e Lysias Ênio) e
"Sentado à Beira do Caminho"
(Roberto e Erasmo Carlos).
O clima de intimidade que
marca todo o álbum já é antecipado pela etérea versão de
"Duas Contas" (Garoto). Passos decidiu cantá-la a capela,
sem acompanhamento. "Pensei que devia enfrentar esse desafio", explica a cantora.
Há também composições
inéditas dela, como "Detalhe" e
"Demasiado Blue" (parcerias
com Fernando de Oliveira),
que estavam guardadas desde o
início dos anos 70. Ou ainda a
delicada "Sutilezas" (com Sérgio Natureza), composta nos
anos 80.
"Como este disco é tão intimista, acho que a guardei para o
momento certo", diz ela, que
também canta o bolero "Desilusión" (parceria com Santiago
Auserón) e a romântica "Fusión" (de Jorge Drexler), em espanhol. Já a bossa "Jardim" (de
Zeidel e Biolay) é uma bem sacada versão de um sucesso do
francês Henri Salvador.
Classificada no exterior como "cantora de jazz brasileira",
Passos comenta que não enfrenta problemas por cantar
quase o tempo todo em português nas suas turnês. "Os críticos dizem que eu canto jazz
com brasilidade e suingue. Sou
sempre comparada a Ella Fitzgerald pela articulação rítmica", orgulha-se ela.
Há quase cinco anos sem fazer temporadas pelo país, a
cantora não esconde a ansiedade por voltar a se apresentar no
Brasil. Em São Paulo, o show de
lançamento do CD "Rosa" será
no Sesc Pompéia, nos dias 31 de
agosto e 1º de setembro. "Não
vejo a hora de dizer "boa noite"
para uma platéia de novo."
ROSA
Artista: Rosa Passos
Gravadora: Telarc/Universal
Quanto: R$ 35, em média
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