São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rosa Passos se dedica à intimidade em voz e violão

Apelidada de "João Gilberto de saias", baiana lança disco de clássicos e inéditas

Com voz doce e afinada, ela mostra parcerias guardadas desde o início dos anos 70; Sesc Pompéia marca volta ao Brasil após cinco anos


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nos últimos anos, ela tem andado distante dos palcos brasileiros, envolvida em freqüentes turnês pelo mundo. Apadrinhada pelo violoncelista sino-francês Yo-Yo Ma, que a incluiu em seu álbum "Obrigado, Brasil" (2003), Rosa Passos viu sua carreira internacional crescer muito desde então.
O concerto no Carnegie Hall, em fevereiro último, é um índice do prestígio da cantora baiana, que se apresentou no erudito palco nova-iorquino só com seu violão. Foi também com voz e violão que ela gravou "Rosa", seu novo álbum já lançado nos EUA, que chega agora ao mercado brasileiro.
"Este disco é a minha essência. Não dá para mentir num trabalho como este, porque você está ali, sozinha com seu instrumento", diz a intérprete, que já gravou faixas de trabalhos anteriores só com violão, mas jamais tinha dedicado um álbum inteiro a esse formato.
Passos sabe que um projeto como este pode reforçar mais ainda o rótulo "João Gilberto de saias", que a persegue desde o início da carreira, inclusive no exterior. Porém, em vez de incomodá-la, essa comparação é motivo de orgulho.
"Isso é uma honra para mim, porque João Gilberto é uma referência no mundo inteiro", diz ela, argumentando que gravou "Rosa" no momento certo de sua carreira. "Eu já tenho uma discografia com diversas formações, e este disco vem para completá-la."
Para selecionar as 15 faixas do álbum, Passos gravou 35 canções, em três dias de estúdio. "Fui filtrando as músicas, porque um disco deve ter um perfil. Quero que as pessoas continuem ouvindo esse trabalho daqui a 30 anos." Com a voz doce e afinadíssima de sempre, ela recria alguns clássicos da música brasileira, como "Eu Não Existo sem Você" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), "Até Quem Sabe" (João Donato e Lysias Ênio) e "Sentado à Beira do Caminho" (Roberto e Erasmo Carlos).
O clima de intimidade que marca todo o álbum já é antecipado pela etérea versão de "Duas Contas" (Garoto). Passos decidiu cantá-la a capela, sem acompanhamento. "Pensei que devia enfrentar esse desafio", explica a cantora.
Há também composições inéditas dela, como "Detalhe" e "Demasiado Blue" (parcerias com Fernando de Oliveira), que estavam guardadas desde o início dos anos 70. Ou ainda a delicada "Sutilezas" (com Sérgio Natureza), composta nos anos 80.
"Como este disco é tão intimista, acho que a guardei para o momento certo", diz ela, que também canta o bolero "Desilusión" (parceria com Santiago Auserón) e a romântica "Fusión" (de Jorge Drexler), em espanhol. Já a bossa "Jardim" (de Zeidel e Biolay) é uma bem sacada versão de um sucesso do francês Henri Salvador. Classificada no exterior como "cantora de jazz brasileira", Passos comenta que não enfrenta problemas por cantar quase o tempo todo em português nas suas turnês. "Os críticos dizem que eu canto jazz com brasilidade e suingue. Sou sempre comparada a Ella Fitzgerald pela articulação rítmica", orgulha-se ela. Há quase cinco anos sem fazer temporadas pelo país, a cantora não esconde a ansiedade por voltar a se apresentar no Brasil. Em São Paulo, o show de lançamento do CD "Rosa" será no Sesc Pompéia, nos dias 31 de agosto e 1º de setembro. "Não vejo a hora de dizer "boa noite" para uma platéia de novo."


ROSA
Artista:
Rosa Passos
Gravadora: Telarc/Universal
Quanto: R$ 35, em média


Texto Anterior: CDs
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.