São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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HQ expõe a dura tarefa de crescer

Segunda parte da série "Black Hole" confronta adolescentes norte-americanos com doença misteriosa

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando se é adolescente, as mudanças (entrar na faculdade, perder a virgindade, encarar as transformações pelas quais seu corpo está passando) podem provocar sensações intensas de desafio e medo.
O quadrinista Charles Burns usou esses sentimentos para criar "Black Hole", série lançada nos Estados Unidos em 12 capítulos, publicados de 1995 a 2005. No Brasil, as histórias foram divididas em duas edições: "Introdução À Biologia", lançada no ano passado, e "O Fim", que está sendo publicada agora.
No primeiro volume, o leitor foi apresentado a um grupo de adolescentes de Seattle (EUA) nos anos 70. Eles têm vontade de crescer, mas também medo de falhar. Além disso, há neles, e talvez na maioria dos adolescentes do mundo real, o pavor da rejeição. Ser excluído de uma turma ou ser preterido por um (a) garoto (a) são temores constantes e profundos, quase palpáveis.
No caso de "Black Hole", há um fator a mais. Uma doença misteriosa, não se sabe se fatal, está se espalhando entre os jovens da região. Ela é transmissível por meio de sexo sem preservativo e suas conseqüências são imprevisíveis. Pode nascer uma cauda, surgir uma pequena boca no pescoço ou deformar o rosto.
O fato é que o sentimento de exclusão e solidão, tão comuns a adolescentes, aumenta exponencialmente com essa mudança física -e que, na maior parte dos casos, não pode ser escondida. Mais do que apenas diferentes, esses jovens se sentem monstros ameaçadores.
O que será essa misteriosa doença, acompanhada tão de perto pela sensação de estar à margem da sociedade? Uma metáfora para a Aids? Para as transformações físicas que vêem com a puberdade? Para o amadurecimento de criança em adulto?
Não importa -pelo menos, não para os jovens protagonistas de "Black Hole". O fato é que essa doença está lá, ao redor deles. Se um jovem ainda não foi contaminado, certamente conhece alguém que já foi. Não adianta fingir que não existe. O clima de terror constante em "Black Hole" assemelha-se aos percalços inevitáveis da vida real: não há o que fazer, a não ser aprender a conviver com eles.
Entre as inseguranças, decisões, medos e atitudes corajosas dos seus protagonistas, "Black Hole" é uma história em quadrinhos que pode ser lida de muitas maneiras. Mas é difícil passar por ela sem refletir sobre essa dura tarefa do amadurecimento.


BLACK HOLE - O FIM
Autor: Charles Burns
Tradução: Daniel Pellizzari
Editora: Conrad
Quanto: R$ 34,90 (192 páginas)




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