Mezzo-soprano americana é especialista no repertório do compositor francês, pouco executado no Brasil

A cantora se apresenta no Cultura Artística nos dias 18 e 19 deste mês, onde interpreta o ciclo de canções "Les Nuits d'Été"

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Chegou a hora de ouvir Berlioz como ele realmente merece. Na semana que vem, a mezzo-soprano norte-americana Susan Graham, uma das maiores intérpretes do repertório francês da atualidade, canta, no Cultura Artística, em São Paulo, o ciclo de canções "Les Nuits d'Été" (as noites de verão).
Orquestrador inspirado e radical experimentador do romantismo, o francês Hector Berlioz (1803-1869) é um compositor pouco executado no Brasil -por aqui, orquestras e regentes parecem só conhecer sua obra mais célebre, a "Sinfonia Fantástica", de 1830.
Formado por seis canções de melodismo sedutor, escritas entre 1838 e 1841, a partir de textos de Théophile Gautier (1811-1872), "Les Nuits d'Été" recebeu este título, alusivo aos "Sonhos de Uma Noite de Verão", devido à paixão de Berlioz pela obra de Shakespeare.
"A música francesa, no geral, é como a culinária: mais sutil, com sabores mais delicados.
Mas Berlioz, nesse cenário, seria uma exceção: seus sabores são pronunciados, com um forte impulso rítmico, cheios de drama e paixão", diz a cantora, que já interpretou praticamente toda a música vocal do compositor e que, em novembro, participa, no Metropolitan (Nova York), da montagem "A Danação de Fausto", adaptação de Berlioz para a obra de Goethe.
Graham veio ao mundo no Novo México, em 1960 -mesmo ano de nascimento da orquestra que a acompanha em São Paulo, a Filarmônica de Liége.
A iniciação musical foi na infância, ao piano, instrumento que a aproximou dos compositores francófonos.
"Naquela época, meus autores favoritos eram Ravel e Debussy, que, com muita sutileza, levavam a música a áreas harmônicas estranhas", conta. "Além disso, era muito elegante, no sudoeste dos Estados Unidos, eu fingir que era francesa."
Graham foi educada no Texas, onde sua família freqüentava a Primeira Igreja Metodista, a mesma da família Bush, da qual se tornou amiga. O gosto pelo idioma e pela música da França a fez referência nesse tipo de repertório.
Se "Les Nuits d'Été" ela já havia gravado pela Sony, Graham lançou, pela EMI, um álbum, com a Filarmônica de Berlim, regida por Simon Rattle, em que canta "A Morte de Cleópatra", de Berlioz. Em outubro, pela Onyx Classics, chega "Un Frisson Français", com canções de 22 compositores.
De origem francófona são também as obras instrumentais que complementam os programas das apresentações. No dia 18, haverá "Le Chasseur Maudit", de César Franck (1822-90), e "La Mer", de Debussy (1862-1918). No dia 19, "O Carnaval Romano", de Berlioz, e "Sinfonia em Ré Menor", de Franck.