São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2010

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Para Sayad, modelo da TV é ultrapassado

Presidente diz que Cultura está "na metade do século 20" e quer mudança; conselho vê perigo de "regresso ao século 19"

Em sabatina, conselho questiona plano de renovação que usa "veteranos" como Marília Gabriela


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nem os maiores detratores de Sayad -não são poucos- desdenham da capacidade de gestão deste doutor em Economia na universidade de Yale (EUA) e professor da Faculdade de Economia da USP, que ganhou respeito como secretário de finanças em gestões petistas e tucanas.
Todos concordam que a TV Cultura tornou-se um Jurassic Park. Os números são fatais: 1.925 funcionários, sete estúdios de gravação que produzem só 6 das 24 horas diárias de programação. Na reunião do conselho curador da entidade, na última segunda, Sayad disse que o modelo da emissora é da primeira metade do século 20.

RETROCESSO
"O problema é regressarmos para a segunda metade do século 19", ironiza Jorge da Cunha Lima, que ocupou por nove anos a presidência da emissora e por seis a presidência do conselho (hoje é membro vitalício).
Não que Cunha Lima discorde da onda de mudanças que Sayad almeja encabeçar. A palavra-chave aqui é inovação, numa emissora que já foi associada à inventividade de seus programas, como "Castelo Rá-Tim-Bum".
Para Cunha Lima e outros membros do conselho, a pergunta é se a emissora vai conseguir se renovar trazendo veteranos como Marília Gabriela, Maria Cristina Poli, Alexandre Machado -nomes escalados por Sayad.
"Para a emissora se renovar, não basta trazer veteranos com grandes nomes. É preciso encontrar uma nova geração", afirma. O caso de Marília Gabriela, que tem estreia prevista para o próximo dia 30 à frente do "Roda Viva", divide opiniões.
"Roda Viva" é um tradicional programa da TV brasileira. Tinha a reputação de ser um dos raros espaços provocativos da TV, com a propriedade de colocar os entrevistados contra a parede.
Mas ele vinha tornando-se um bate-papo amigável entre jornalistas nem tão bem preparados e entrevistados. "Ninguém conseguia falar mal de pessoas consagradas", afirma Cunha Lima.
Marília Gabriela tem carisma e respeito. Mas é mais conhecida como entrevistadora do que como mediadora. Teme-se que a atração perca sua essência e vire uma espécie de "talk show". Conselheiros ouvidos pela Folha também torcem o nariz para o fato de o programa, antes ao vivo, passar a ser gravado.
Sayad afirma que esta é só a primeira etapa de seu processo de renovação. "Precisava chamar nomes consagrados, para resgatar a credibilidade. Lançar novos programas, profissionais e formatos vem depois."
Há outras discussões em voga. Paulo Markun, seu antecessor, notabilizou-se por expandir as atividades da TV para internet, a criação de uma revista e sobretudo a prestação de serviços, como a produção da TV Justiça.
A receita dos serviços prestados em 2009 foi de R$ 100 milhões, quase 50% de todo o dinheiro que entrou para os cofres da fundação.

RECEITA
Sayad riscou do mapa esta linha de receita, com o argumento de que o foco deve estar na TV Cultura, não em atividades que dispersam a atenção dos profissionais e implicam riscos trabalhistas. Há ainda uma questão de rentabilidade. A margem de lucro com os serviços é de 10% ou 20%, considerada pequena por Sayad. A emissora acumula neste ano déficit de R$ 10 milhões.
O próximo grande desafio de Sayad deve ser selado nas urnas. Se Geraldo Alckmin (PSDB) for eleito governador, sobe a cotação de Marcos Mendonça para a Secretaria da Cultura. Logo ele, que foi afastado da presidência da TV Cultura em 2007 por Sayad, à época secretário da Cultura. (MORRIS KACHANI)


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