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Para Sayad, modelo da TV é ultrapassado
Presidente diz que Cultura está "na metade do século 20" e quer mudança; conselho vê perigo de "regresso ao século 19"
Em sabatina, conselho questiona plano de renovação que usa "veteranos" como Marília Gabriela
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nem os maiores detratores
de Sayad -não são poucos-
desdenham da capacidade
de gestão deste doutor em
Economia na universidade
de Yale (EUA) e professor da
Faculdade de Economia da
USP, que ganhou respeito como secretário de finanças em
gestões petistas e tucanas.
Todos concordam que a
TV Cultura tornou-se um Jurassic Park. Os números são
fatais: 1.925 funcionários, sete estúdios de gravação que
produzem só 6 das 24 horas
diárias de programação. Na
reunião do conselho curador
da entidade, na última segunda, Sayad disse que o
modelo da emissora é da primeira metade do século 20.
RETROCESSO
"O problema é regressarmos para a segunda metade
do século 19", ironiza Jorge
da Cunha Lima, que ocupou
por nove anos a presidência
da emissora e por seis a presidência do conselho (hoje é
membro vitalício).
Não que Cunha Lima discorde da onda de mudanças
que Sayad almeja encabeçar.
A palavra-chave aqui é inovação, numa emissora que já
foi associada à inventividade
de seus programas, como
"Castelo Rá-Tim-Bum".
Para Cunha Lima e outros
membros do conselho, a pergunta é se a emissora vai conseguir se renovar trazendo
veteranos como Marília Gabriela, Maria Cristina Poli,
Alexandre Machado -nomes escalados por Sayad.
"Para a emissora se renovar, não basta trazer veteranos com grandes nomes. É
preciso encontrar uma nova
geração", afirma. O caso de
Marília Gabriela, que tem estreia prevista para o próximo
dia 30 à frente do "Roda Viva", divide opiniões.
"Roda Viva" é um tradicional programa da TV brasileira. Tinha a reputação de ser
um dos raros espaços provocativos da TV, com a propriedade de colocar os entrevistados contra a parede.
Mas ele vinha tornando-se
um bate-papo amigável entre jornalistas nem tão bem
preparados e entrevistados.
"Ninguém conseguia falar
mal de pessoas consagradas", afirma Cunha Lima.
Marília Gabriela tem carisma e respeito. Mas é mais conhecida como entrevistadora
do que como mediadora. Teme-se que a atração perca
sua essência e vire uma espécie de "talk show". Conselheiros ouvidos pela Folha
também torcem o nariz para
o fato de o programa, antes
ao vivo, passar a ser gravado.
Sayad afirma que esta é só
a primeira etapa de seu processo de renovação. "Precisava chamar nomes consagrados, para resgatar a credibilidade. Lançar novos programas, profissionais e formatos vem depois."
Há outras discussões em
voga. Paulo Markun, seu antecessor, notabilizou-se por
expandir as atividades da TV
para internet, a criação de
uma revista e sobretudo a
prestação de serviços, como
a produção da TV Justiça.
A receita dos serviços prestados em 2009 foi de R$ 100
milhões, quase 50% de todo
o dinheiro que entrou para os
cofres da fundação.
RECEITA
Sayad riscou do mapa esta
linha de receita, com o argumento de que o foco deve estar na TV Cultura, não em atividades que dispersam a
atenção dos profissionais e
implicam riscos trabalhistas.
Há ainda uma questão de
rentabilidade. A margem de
lucro com os serviços é de
10% ou 20%, considerada
pequena por Sayad. A emissora acumula neste ano déficit de R$ 10 milhões.
O próximo grande desafio
de Sayad deve ser selado nas
urnas. Se Geraldo Alckmin
(PSDB) for eleito governador,
sobe a cotação de Marcos
Mendonça para a Secretaria
da Cultura. Logo ele, que foi
afastado da presidência da
TV Cultura em 2007 por Sayad, à época secretário da
Cultura.
(MORRIS KACHANI)
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