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DISCO - LANÇAMENTOS
Tributo relê canções do dramaturgo Noël Coward
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
O álbum-tributo "Twentieth
Century Blues" registra o fascínio
que o dramaturgo, produtor, ator
e poeta inglês Noël Coward
(1899-1973) ainda exerce sobre várias gerações de artistas -como
cancionista.
Autor de comédias e musicais de
teatro que primaram por exprimir
as "agruras" da alta sociedade
-no Brasil, Fernanda Montenegro ("Gilda") e Paulo Autran
("As Regras do Jogo") o encenaram-, Coward as forrou de canções ora irônicas, ora satíricas, ora
francamente derramadas.
Tais canções -o tributo demonstra- encantam desde velhos românticos como Bryan
Ferry, Marianne Faithfull e Paul
McCartney até jovens neo-românticos, como Brett Anderson (Suede), Neil Hannon (Divine Comedy) e Damon Albarn (Blur).
Encantam, sobretudo, o cabeça
pensante da dupla pop Pet Shop
Boys, Neil Tennant, um dos produtores executivos do projeto. A
afinidade não é difícil de compreender: passa tanto pelo elã de
cabaré Broadway/Hollywood
quanto pelo glamour gay que Coward professava e que os Pet Shop
Boys são loucos por professar.
O engraçado em "Twentieth
Century Blues" é confrontar os da
antiga com os moderninhos. Aí se
percebe que são dois discos em
um -e que ambos refletem com
eficácia os humores de Coward e
de seu idólatra Tennant.
O primeiro reúne a ortodoxia tipo cabaré, aquela que é o próprio
espírito de Coward. Quem puxa a
caravana é Bryan Ferry, em leitura
dilacerada de "I'll See You
Again". Não à toa, aparece na sequência Marianne Faithfull, tornando áspera a picardia gay de
Coward em "Mad about a Boy"
("até mesmo dr. Freud não poderia explicar/ aqueles sonhos vexatórios/ que tive com o garoto").
Os outros velha-guarda são mais
(ir)regulares. Paul McCartney
("A Room with a View") é simpático, Elton John ("Twentieth
Century Blues") é -para variar- anedótico, Sting ("I'll Follow My Secret Heart") é -para
variar- insuportável.
O outro lado, "contemporâneo", do CD se desmembra em
dois subgrupos, ambos sintonizados com as linhas "eletropop"
dos anos 90.
Em "I've Been to a Marvellous
Party", o homem-banda Divine
Comedy incorpora o dândi que é
(e que Coward era) a uma batida
tecno como aquelas que Danny
Boyle usou para dar significado a
"Trainspotting". Supimpa.
O Space faz cabaré elétrico de
"Mad Dogs and Englishmen",
uma simpatia. Damon Albarn se
associa ao compositor erudito Michael Nyman, em "London Pride", belo instantâneo simbólico.
Outros novos caem no conto de
Neil Tennant, o que faz um quarto
do disco parecer um tributo aos
Pet Shop Boys -acontece com
Texas, Robbie Williams (ex-Take
That, socorro), Shola Ama (uma
gritaria só).
No meio do caminho ficam...
eles mesmos, os Pet Shop Boys.
Sua "Sail Away" é meio para cá,
meio para lá, não acontece muito.
Também meio nova, meio velha é
a "Mrs. Worthington" de Vic
Reeves, bem mais eficiente.
Os exemplos de transição acabam dando o tom de todo o projeto -chegam perto do que talvez
fosse Noël Coward em 98: um misto de Burt Bacharach e Jarvis Cocker (Pulp), de Henry Mancini e
David Bowie, de Carpenters e Madonna fase "Erotica". Música e
teatro, enfim.
Disco: Twentieth Century Blues - The
Songs of Noël Coward
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 18, em média
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