JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Gramado

Os dois longas-metragens exibidos anteontem na mostra competitiva do festival de Gramado comprovam o postulado de que não basta ter uma boa história para fazer um bom filme.
O brasileiro "Um Sonho no Caroço do Abacate" (de Lucas Amberg), baseado no livro homônimo de Moacyr Scliar, reduz um tema lindamente rico e complexo -os impasses afetivos, religiosos e políticos de um rapaz judeu na São Paulo dos anos 60- a uma telenovela adolescente do SBT, com direito à turma de meninos malvados, flashbacks em câmera lenta e música xaroposa.
A impressão televisiva é acentuada pela dublagem amadora das vozes dos atores norte-americanos Elliot Gould e Talia Shire, nos papéis dos pais do protagonista Mardo (Edward Boggiss).
Já em sua primeira cena, Shire parece ter-se enganado de filme, acreditando estar num dramalhão mexicano. Depois percebemos que quem se enganou fomos nós. Ela sabia muito bem onde estava.
Gould, por sua vez, não tem culpa da voz de seriado americano que colocaram em sua boca.
Tudo é suficientemente ruim para que o frescor e a beleza de Thaís Araujo (a "Xica da Silva" da TV) se destaque como uma das poucas coisas agradáveis do filme. Ela interpreta a militante de esquerda por quem Mardo se apaixona.
"Um Sonho no Caroço do Abacate", produzido pelo norte-americano Alan Amiel, talvez melhore na sua previsível versão em inglês, uma vez que poderá contar com as vozes verdadeiras de Gould e Shire e com uma dublagem mais decente dos atores brasileiros.
A comédia mexicana "De Noche Vienes Esmeralda", de Jaime Hermosillo, parte da história de uma enfermeira casada com cinco homens, entre eles um cantor de rock e um homossexual.
O humanismo da abordagem perde contundência pela falta de síntese do roteiro. Como uma piada que, de tão esticada, perde a graça, o filme desconhece a elipse e a contenção. Resultado: ri-se mais na tela do que na platéia.