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RELÂMPAGOS
Voragem
JOÃO GILBERTO NOLL
"Senhores, senhoras, meus
compadres, meus irmãos..."
De onde saíra esse preâmbulo? Que curso seguiria? Ele só
sabia que estava ali, atrás da
mesa larga, diante de um auditório vazio. Convite desfeito? Uma história incompleta?
Não sabia, apenas repetia
aquele cumprimento dirigido
a fantasmas. E que nessas alturas quase o fazia adormecer, tamanha a dose hipnótica
desse solfejo sem nenhum
poder de intervenção. Olhou
as mãos. Sim, seguravam folhas. Brancas. De onde viria
sua palavra, se ela realmente
fosse obrigatória ali? Serviria
a um brado de resistência? A
uma louvação? Ou apenas a
um agradecimento, sofrido,
derradeiro, hein? Num átimo,
ruídos espalhafatosos se lançaram pelo salão. Numa fração de segundo, o auditório
lotou, gente sentada no chão.
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