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LITERATURA
"Seres Imaginários" de Borges merecia ilustrações à altura
CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA
"O Livro dos Seres Imaginários", de Jorge Luis
Borges, está sendo reeditado pela
Globo, e isso é razão de alegria para os leitores do argentino: é todo
um clássico. Mas também de certo desapontamento -por que as
ilustrações da edição húngara?
Não que elas sejam más, mas
que tinha outras opções, isso tinha. No final do ano passado, por
exemplo, no Palácio de Belas Artes do México, foi inaugurada
uma exposição que percorreria 17
países com as pinturas do artista
mexicano Francisco Toledo inspiradas na "Zoologia Fantástica"
borgiana -o livro se chamava assim quando surgiu, em 1957, e
trocou de nome em 67 ou 68.
As pinturas de Toledo já haviam
ilustrado outra edição do livro de
1984, pelo mesmo Fundo de Cultura Econômica do México que
lançou a obra há mais de 40 anos.
Esse livro, felizmente, ainda está
disponível em algumas livrarias
brasileiras, em espanhol.
Por meandros do mercado editorial, a Globo, que detém os direitos de publicação do autor no
Brasil e que já lançou suas "Obras
Completas", optou pelas gravuras
da edição feita em Budapeste, sem
nenhum crédito do autor.
Menos mal que as traduções foram revistas e retraduzidos os
poemas citados por Borges no livro, escrito com sua amiga Margarita Guerrero. Nele, o escritor
elabora um compêndio dos seres
imaginários em diferentes partes
do mundo e em diferentes épocas,
na literatura ou fora dela.
Aí aparecem desde os "trolls" da
tradição escandinava até os dragões chineses; dos "nagas" do Industão (serpentes que assumem
forma humana) até o grego Minotauro; da egípcia esfinge ao "borametz" tártaro (espécie de cordeiro
vegetal). Espanta como os autores
"esnobam" os seres fantásticos da
mitologia americana. Apenas os
EUA têm a honra, no Novo Mundo, de fornecer verbetes para o livro, com personagens imaginados por lenhadores e com o "Haokah", o deus do trovão sioux.
Os cronistas das Índias, com
seus seres fabulosos, ou mesmo
os mitos e deuses pré-colombianos são ignorados. Da Argentina,
sai um verbetezinho, sobre a
"porca das correntes" -uma fêmea suína que, ao norte de Córdoba, arrastava correntes nos trilhos dos trens e desaparecia.
A ausência da América no livro
não chega, porém, a empanar seu
brilho. Borges destila erudição,
inspirado na tradição islâmica e
na Cabala, na literatura chinesa,
nos clássicos gregos e latinos, na
Idade Média e no Renascimento.
Impossível não considerar ótimo o relançamento, mas a Globo
fica devendo uma edição com
ilustrações mais à altura dos seres
relembrados por Borges.
O Livro dos Seres Imaginários
Autores: Jorge Luis Borges e Margarita
Guerrero
Tradução: Carmen Vera Cirne Lima
Editora: Globo
Quanto: R$19,50 (206 págs.)
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