São Paulo, sexta-feira, 11 de setembro de 2009

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CINEMA

"Hiroshima" retrata cotidiano apático

Filme do uruguaio Pablo Stoll, do premiado "Whisky", é resposta ao suicídio de parceiro artístico e estreia em festival canadense

Produção dedicada a Juan Pablo Rebella, companheiro de uma década de projetos, é a primeira que o cineasta Pablo Stoll dirige sozinho


DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MONTEVIDÉU (URUGUAI)

Após cinco anos de silêncio, Pablo Stoll, codiretor do uruguaio "Whisky" (2004), está de volta com "Hiroshima", que tem estreia mundial no Festival de Toronto, realizado no Canadá até o dia 19 (não há previsão de estreia no Brasil).
O cabelo leonino, o olhar sereno e o andar tranquilo são os mesmos. À primeira vista, nada denuncia o mar revolto no qual o realizador esteve navegando desde 2006, quando o outro codiretor de "Whisky" e companheiro de uma década de projetos, Juan Pablo Rebella, suicidou-se em Montevidéu.
Afastado da direção de longas desde então, Stoll, 34, dedicou-se a produzir filmes de parceiros de sua produtora, a Control Z -de onde saíram títulos premiados, como "Gigante"-, e a mergulhar em empreendimentos editoriais e televisivos vinculados ao humor.
"No começo foi algo tremendo, um momento horrível, que não se acaba. Sair disso, não creio que eu vá sair nunca. Mas não me paralisou, não me fez duvidar de nada. Trabalhar com projetos de outra natureza serviu para colocar as coisas em perspectiva", diz Stoll à Folha.
"Hiroshima" é o desdobramento dessa opção por entornos amigáveis e terrenos conhecidos. A produção, de US$ 100 mil, é baseada no cotidiano insosso, algumas vezes irritante e outras tantas involuntariamente cômico de Juan Andrés, um dos irmãos do diretor. "Vi que ele possuía uma forma especial de se apresentar ao mundo e que me interessava como personagem."
No momento em que a narrativa flagra o protagonista, sua existência se resume a fazer um bico de madrugada em uma padaria e a tocar de noite, esporadicamente, numa banda de rock. No intervalo que se impõe entre uma atividade e outra, vaga por Montevidéu de bicicleta, cumpre afazeres domésticos e deixa que a vida simplesmente passe, sem ambições ou angústias.
A indiferença do rapaz de 25 anos em relação ao seu universo se materializa na série de cartazes à la cinema mudo que pontuam a história e são os únicos representantes dos diálogos do filme. Recorrer às inscrições foi a alternativa escolhida para "tratar cinematograficamente elementos como o silêncio e a desconexão que Juan Andrés tem com o mundo. E também para criar um clima algo onírico, envolvente. E com um lado lúdico", diz.
"Hiroshima" é o primeiro, e talvez único, comentário que o realizador se propõe a emitir sobre seu passado recente, incluído aí o legado deixado por Rebella em suas escolhas pessoais e profissionais. Não por acaso, o filme é dedicado a ele. E conta com duas músicas compostas pelo ex-parceiro.
Apesar de ser o primeiro título que assina sozinho, Stoll diz não haver se sentido pressionado para repetir o sucesso ou os moldes de "Whisky". "Tenho esse projeto há muito tempo e, em algum momento, tinha que fazê-lo."
Um projeto de maior fôlego já está em andamento. Trata-se de "Três", cujo roteiro foi iniciado em parceria com Rebella. As filmagens serão em 2010.


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