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CINEMA
"Hiroshima" retrata cotidiano apático
Filme do uruguaio Pablo Stoll, do premiado "Whisky", é resposta ao suicídio de parceiro artístico e estreia em festival canadense
Produção dedicada a Juan Pablo Rebella, companheiro de uma década de projetos, é a primeira que o cineasta Pablo Stoll dirige sozinho
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE MONTEVIDÉU (URUGUAI)
Após cinco anos de silêncio,
Pablo Stoll, codiretor do uruguaio "Whisky" (2004), está de
volta com "Hiroshima", que
tem estreia mundial no Festival de Toronto, realizado no
Canadá até o dia 19 (não há previsão de estreia no Brasil).
O cabelo leonino, o olhar sereno e o andar tranquilo são os
mesmos. À primeira vista, nada
denuncia o mar revolto no qual
o realizador esteve navegando
desde 2006, quando o outro codiretor de "Whisky" e companheiro de uma década de projetos, Juan Pablo Rebella, suicidou-se em Montevidéu.
Afastado da direção de longas
desde então, Stoll, 34, dedicou-se a produzir filmes de parceiros de sua produtora, a Control
Z -de onde saíram títulos premiados, como "Gigante"-, e a
mergulhar em empreendimentos editoriais e televisivos vinculados ao humor.
"No começo foi algo tremendo, um momento horrível, que
não se acaba. Sair disso, não
creio que eu vá sair nunca. Mas
não me paralisou, não me fez
duvidar de nada. Trabalhar
com projetos de outra natureza
serviu para colocar as coisas em
perspectiva", diz Stoll à Folha.
"Hiroshima" é o desdobramento dessa opção por entornos amigáveis e terrenos conhecidos. A produção, de US$
100 mil, é baseada no cotidiano
insosso, algumas vezes irritante e outras tantas involuntariamente cômico de Juan Andrés,
um dos irmãos do diretor. "Vi
que ele possuía uma forma especial de se apresentar ao
mundo e que me interessava
como personagem."
No momento em que a narrativa flagra o protagonista, sua
existência se resume a fazer
um bico de madrugada em uma
padaria e a tocar de noite, esporadicamente, numa banda de
rock. No intervalo que se impõe entre uma atividade e outra, vaga por Montevidéu de bicicleta, cumpre afazeres domésticos e deixa que a vida
simplesmente passe, sem ambições ou angústias.
A indiferença do rapaz de 25
anos em relação ao seu universo se materializa na série de
cartazes à la cinema mudo que
pontuam a história e são os
únicos representantes dos diálogos do filme. Recorrer às inscrições foi a alternativa escolhida para "tratar cinematograficamente elementos como o
silêncio e a desconexão que
Juan Andrés tem com o mundo. E também para criar um
clima algo onírico, envolvente.
E com um lado lúdico", diz.
"Hiroshima" é o primeiro, e
talvez único, comentário que o
realizador se propõe a emitir
sobre seu passado recente, incluído aí o legado deixado por
Rebella em suas escolhas pessoais e profissionais. Não por
acaso, o filme é dedicado a ele.
E conta com duas músicas
compostas pelo ex-parceiro.
Apesar de ser o primeiro título que assina sozinho, Stoll
diz não haver se sentido pressionado para repetir o sucesso
ou os moldes de "Whisky". "Tenho esse projeto há muito tempo e, em algum momento, tinha que fazê-lo."
Um projeto de maior fôlego
já está em andamento. Trata-se
de "Três", cujo roteiro foi iniciado em parceria com Rebella.
As filmagens serão em 2010.
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