São Paulo, Segunda-feira, 11 de Outubro de 1999
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SHOW CRÍTICA

Red Hot Chili Peppers faz, em SP, molecada dançar até cair

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

O Red Hot Chili Peppers fez 7.000 pessoas pularem até dizer chega na última sexta, no único show brasileiro da turnê do álbum "Californication". O público, na maioria formado por garotos deixados pelos pais no Credicard Hall, ficou rendido à fúria do quarteto, que tocou com gana e não deixou o pique cair em momento algum. Rock and roll com muito funk, sem parar.
O grupo só confirmou, mais uma vez, que o palco é sua verdadeira razão de ser. Quando você escuta um disco dos Peppers, as grandes canções estão ali, é verdade, mas falta um pitada a mais de energia. No palco, uau!
O Red Hot Chili Peppers é um estupendo baterista que toca como se quisesse vencer seu instrumento por nocaute, um guitarrista viajandão tocando como se estivesse em Woodstock (o original, em 69), um vocalista cheio de pose com um vozeirão e um baixista de cabelo roxo que guia a todos, músicos e platéia, no caminho do melhor punk funk do planeta.
Flea adora Jimi Hendrix e Miles Davis. E divide com eles uma característica inegável: tocar como se o instrumento fosse parte dele. Desde o primeiro acorde do show, ele agarra o baixo como um domador mostrando à fera quem manda. Flea balança a cabeça loucamente feito uma versão surfista de Angus Young, do AC/ DC.
Anthony Kiedis tem seu repertório de trejeitos. Nas músicas mais balançadas, pula tanto quanto Flea e lança gestos desafiadores. Quando a banda ataca canções mais lentas, ele pega o microfone com as duas mãos e cerra os olhos, soltando a voz numa posição de pastor em transe diante de seus fiéis roqueiros.
Bem distante do pique de Flea e Kiedis, John Frusciante é o típico "guitar hero" dos anos 70. Cabelão, roupa escura e ar blasé, é rápido e inventivo nos solos. O baterista Chad Smith vai com fluência da batida mais marcial ao sacolejo funk. Tecnicamente, a atual formação dos Peppers é irretocável.
E o repertório? Sai de baixo. Os caras têm tantas músicas poderosas para manter o público aceso que podem se dar ao luxo de "queimar" já na segunda música do show o hit racha-assoalho "Give It Away". Mas muitos outros viriam depois.
O ponto alto, claro, foi a baladona "Under the Bridge". Isqueirinhos acesos, todo o público cantando junto e uma performance demolidora da banda.
Afiado na música, o grupo também esbanjou carisma no contato com a platéia. Kiedis reclamou do calor, mas disse que o público deveria estar sofrendo mais do que os músicos. Flea dedicou música a Edmundo, disse que a banda adora o Brasil e não sabia como eles tinham conseguido ficar tanto tempo sem voltar -a banda tocou no Hollywood Rock, em 1993.
O show foi curto, menos de uma hora e meia, mas deixou a platéia satisfeita. Antes, o grupo porto-riquenho Puya tocou oito canções que misturam hardcore com ritmos latinos. Banda simpática, de pique, que lembra um Sepultura versão Mercosul.


Avaliação:     

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