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CINEMA/ESTRÉIA
"ESTRADA PARA PERDIÇÃO"
Sam Mendes estréia longa após cinco Oscar
"Filmar é como ter um "alien" no seu estômago"
PAOULA ABOU-JAOUDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
Cinco Oscar e dois anos depois,
estréia hoje no Brasil "Estrada para Perdição", novo longa do celebrado diretor inglês Sam Mendes.
Esse estilizado filme de gângster, estrelado por Tom Hanks,
Paul Newman e Jude Law, é apenas o segundo título da carreira
do cineasta de 37 anos, considerado um fenômeno dos palcos londrinos. Aos 24, o prodígio Mendes já comandava a atriz Judi
Dench em "O Jardim das Cerejeiras". Seu ingresso na elite hollywoodiana aconteceu em 1999, ao
dirigir "Beleza Americana", vencedor de cinco Oscar (filme, direção, ator para Kevin Spacey, fotografia e roteiro original).
"É claro que senti muita pressão
nos seis meses depois de ter recebido o Oscar, o que contribuiu
bastante para os dois extenuantes
anos dedicados a esse novo projeto", explica Mendes em entrevista
à Folha.
"Fazer um filme é como ter o
alienígena de Ridley Scott [de
"Alien, o Oitavo Passageiro'" dentro de você: um dia ele finalmente
vai sair voando de seu estômago,
mas vai deixar você caído no
chão, besuntado em sangue."
Baseado na novela em quadrinhos homônima criada por Max
Allan Collins, "Estrada para Perdição" foi um projeto oferecido a
Steven Spielberg. "Tudo é mostrado a ele primeiro. Só depois
que ele se recusa a fazer é que o
material é redistribuído para outros cineastas", explica Mendes.
Violência
Para criar a Chicago sob a Lei
Seca da década de 30, Mendes disse que assistiu a todos os filmes de
gângster dos anos 30 e 40, especialmente os estrelados por James
Cagney. "Ao rever esses longas,
não consegui acreditar no quanto
anti-sentimentais eles eram se
comparados com a safra atual.
"Inimigo Público" [clássico estrelado por Cagney, em 1931] jamais
poderia ser feito hoje em dia por
um grande estúdio. Não com
aquele final trágico."
Apesar de ser um filme de época, Mendes acredita que "Estrada
para Perdição" lida com temas
contemporâneos. "O principal é a
discussão de que, ao expor as
crianças à violência, o futuro delas
também será marcado por atos
criminosos. Pura bobagem."
O ator Tom Hanks, que há tempos sonhava em trocar a imagem
de bom moço pela de vilão, enxergou uma grande oportunidade no frio e calculista Michael Sullivan, gângster que pertence à família de John Rooney, interpretado por Paul Newman.
Já o septuagenário ator precisou
ser convencido em vários encontros com Mendes. "Paul tem alguns hobbies maravilhosos e não
precisa trabalhar", diz o diretor.
"Ele também gosta de ensaios e de
saber exatamente o que se quer
dele. Já Tom gosta mais de liberdade", continua.
Atualmente, Mendes assina a
direção de duas peças no Donmar
Warehouse, espaço teatral que ele
revitalizou em Londres: "A Noite
de Reis", de William Shakespeare,
e "Tio Vânia", de Tchekov, ambas
estreladas pelos atores Emily
Watson e Simon Russell. Em janeiro, ele faz sua primeira produção originada na Broadway: um
revival do musical "Gypsy", a ser
estrelado por Bernardette Peters.
Ao ser perguntado se as ilimitadas ferramentas ao seu dispor no
cinema o distanciam do teatro,
Mendes responde: "Não. Teatro é
ágil, instantâneo. Basta ter um
ator ensaiando numa sala para o
trabalho existir. Já filme é uma
coisa que não existe até você ter
colocado tudo junto. E eu sou um
cara que gosta de pensar rápido".
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