São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA/ESTRÉIA

"ESTRADA PARA PERDIÇÃO"

Sam Mendes estréia longa após cinco Oscar

"Filmar é como ter um "alien" no seu estômago"

PAOULA ABOU-JAOUDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Cinco Oscar e dois anos depois, estréia hoje no Brasil "Estrada para Perdição", novo longa do celebrado diretor inglês Sam Mendes.
Esse estilizado filme de gângster, estrelado por Tom Hanks, Paul Newman e Jude Law, é apenas o segundo título da carreira do cineasta de 37 anos, considerado um fenômeno dos palcos londrinos. Aos 24, o prodígio Mendes já comandava a atriz Judi Dench em "O Jardim das Cerejeiras". Seu ingresso na elite hollywoodiana aconteceu em 1999, ao dirigir "Beleza Americana", vencedor de cinco Oscar (filme, direção, ator para Kevin Spacey, fotografia e roteiro original).
"É claro que senti muita pressão nos seis meses depois de ter recebido o Oscar, o que contribuiu bastante para os dois extenuantes anos dedicados a esse novo projeto", explica Mendes em entrevista à Folha.
"Fazer um filme é como ter o alienígena de Ridley Scott [de "Alien, o Oitavo Passageiro'" dentro de você: um dia ele finalmente vai sair voando de seu estômago, mas vai deixar você caído no chão, besuntado em sangue."
Baseado na novela em quadrinhos homônima criada por Max Allan Collins, "Estrada para Perdição" foi um projeto oferecido a Steven Spielberg. "Tudo é mostrado a ele primeiro. Só depois que ele se recusa a fazer é que o material é redistribuído para outros cineastas", explica Mendes.

Violência
Para criar a Chicago sob a Lei Seca da década de 30, Mendes disse que assistiu a todos os filmes de gângster dos anos 30 e 40, especialmente os estrelados por James Cagney. "Ao rever esses longas, não consegui acreditar no quanto anti-sentimentais eles eram se comparados com a safra atual. "Inimigo Público" [clássico estrelado por Cagney, em 1931] jamais poderia ser feito hoje em dia por um grande estúdio. Não com aquele final trágico."
Apesar de ser um filme de época, Mendes acredita que "Estrada para Perdição" lida com temas contemporâneos. "O principal é a discussão de que, ao expor as crianças à violência, o futuro delas também será marcado por atos criminosos. Pura bobagem."
O ator Tom Hanks, que há tempos sonhava em trocar a imagem de bom moço pela de vilão, enxergou uma grande oportunidade no frio e calculista Michael Sullivan, gângster que pertence à família de John Rooney, interpretado por Paul Newman.
Já o septuagenário ator precisou ser convencido em vários encontros com Mendes. "Paul tem alguns hobbies maravilhosos e não precisa trabalhar", diz o diretor. "Ele também gosta de ensaios e de saber exatamente o que se quer dele. Já Tom gosta mais de liberdade", continua.
Atualmente, Mendes assina a direção de duas peças no Donmar Warehouse, espaço teatral que ele revitalizou em Londres: "A Noite de Reis", de William Shakespeare, e "Tio Vânia", de Tchekov, ambas estreladas pelos atores Emily Watson e Simon Russell. Em janeiro, ele faz sua primeira produção originada na Broadway: um revival do musical "Gypsy", a ser estrelado por Bernardette Peters.
Ao ser perguntado se as ilimitadas ferramentas ao seu dispor no cinema o distanciam do teatro, Mendes responde: "Não. Teatro é ágil, instantâneo. Basta ter um ator ensaiando numa sala para o trabalho existir. Já filme é uma coisa que não existe até você ter colocado tudo junto. E eu sou um cara que gosta de pensar rápido".



Texto Anterior: Cinema/Estréia - "A Teia de Chocolate": Claude Chabrol explora as falsas aparências do mundo
Próximo Texto: Crítica: Filme só tem um sentido
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.