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Exposição "Antes - Histórias da Pré-História", que começa amanhã no CCBB do Rio, examina o Brasil antes da chegada dos portugueses; mais de 300 peças, entre vasos, cerâmicas e urnas funerárias, mostram trabalho de antepassados brasileiros na primeira mostra do gênero no país
Divulgação
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Detalhe de arte rupestre encontrada na serra da Capivara (PI) |
Olhar pré-histórico
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A francesa Anne-Marie Pessis,
uma das curadoras de "Antes
-°Histórias da Pré-História", conhece profundamente as mais de
300 peças que estarão expostas a
partir de amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio, dentro das comemorações dos 15
anos do espaço. Mesmo assim, se
espanta diante de algumas.
"Se isso aparecer hoje, na Europa, em uma exposição de arte
contemporânea, todo mundo vai
dizer: "Oh!'", comenta, ao olhar
para um zoólito, uma escultura
em forma de peixe feita há centenas de anos.
A mostra é a primeira a reunir
tantos objetos do Brasil pré-Descobrimento. Eles vêm de dez instituições brasileiras e três do exterior. Em janeiro vai para o CCBB
de Brasília, mas não há previsão
de chegar a São Paulo.
A produção e as projeções são
de Marcello Dantas, e Pessis assina a curadoria ao lado de Niéde
Guidon, a maior arqueóloga do
país. As duas pesquisam a pré-história brasileira há 30 anos e são
responsáveis pela Fundação do
Homem Americano, no Piauí.
A beleza de obras como o zoólito exaltado por Pessis é um dos
atrativos da exposição. Mas, ao
componente estético, alia-se o da
divulgação científica: mostrar a
pessoas de hoje retratos da vida de
seus antepassados -dos índios
aniquilados pelos portugueses a
homens de até 11 mil anos atrás-
e acabar com uma inferioridade
crônica.
"A primeira sala mostra imagens da pré-história de outros
países para dizer: "É isso o que está
nos livros. Agora vamos entrar na
parte brasileira e ver que o que
aconteceu na Europa aconteceu
aqui também'", diz Pessis.
"O povo brasileiro conhece
muito pouco sua arqueologia. O
estereótipo do índio ainda é o do
vagabundo. Mas nós tivemos sociedades de um nível cultural alto,
que desenvolveram tecnologias e
criaram uma maneira de viver
bem, já que não havia fome e outros problemas de hoje. E foram
criadores na arte também. Temos
de rever a maneira como tratamos nossos primeiros povos",
acrescenta Guidon.
Para a arqueóloga brasileira, o
fato de astecas e incas terem suas
civilizações tão exaltadas, ao contrário dos índios brasileiros, está
ligado ao tipo de sociedade em
que se vive hoje.
"Nós valorizamos muito as manifestações exteriores de poder.
Astecas e incas deixaram de ser
apenas caçadores e coletores e
passaram para a agricultura, a
criação de animais. Daí criaram
uma sociedade de castas, em que
havia senhores e escravos. No
Brasil não houve essa passagem.
Os povos viveram em sociedades
igualitárias, em que todos precisavam trabalhar para sobreviver.
Por isso não se submeteram à escravidão", explica Guidon.
A exposição reúne objetos em
que se sobrepõem o valor estético
e o valor de uso. São vasos, urnas
funerárias, cerâmicas diversas,
tangas e peças feitas em pedra e
osso (como os zoólitos) que cumpriam funções, mas também
eram feitas com impressionante
esmero.
As pinturas rupestres, encontradas na serra da Capivara (PI) e
no Seridó (RN), são o que as arqueólogas chamam de "marcadores de memória": cenas da vida
cotidiana registradas como mensagens para o futuro.
"Todos se preocupavam em fazer uma transmissão de conhecimento para os que viriam", ressalta Pessis.
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