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FOTOGRAFIA
Cris Bierrenbach sussurra propostas para uma nova arte
EDER CHIODETTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Os anúncios de pessoas que
procuram parceiros em sites
de encontro serve de mote para o
trabalho "Através do Vidro de
Olhar", que a artista plástica Cris
Bierrenbach exibe na galeria Base7, em São Paulo, até o próximo
dia 15, dentro do programa "Sítio", no qual um artista por vez é
convidado a ocupar o espaço.
A obra, um site specific (obra
feita especialmente para um determinado lugar), se resume a
uma imagem do rosto da própria
artista plástica, gravada em vídeo,
projetada na porta de vidro da galeria para que as pessoas que passam em frente ao local possam ver
da calçada, de onde também é
possível ouvir a artista narrando
depoimentos retirados dos sites
de encontro em que mulheres se
apresentam e dizem o perfil que
buscam.
"O coração é o motor do meu
corpo/ não sou daquelas mulheres caçadoras/ bebo e fumo regularmente, me drogo ocasionalmente e adoro ser fotografada/
procuro alguém que seja companheiro, cavalheiro" são algumas
das frases que saem das caixas de
som enquanto o rosto da artista,
comprimido contra um vidro, vai
se deformando e oscilando entre
expressões de medo e deboche,
horror e súplica.
Auto-exposição
Descrever-se com o intuito de
seduzir alguém é algo que implica
trazer à luz a inconsistência da auto-imagem que cada pessoa tem
de si. Canal aberto para fantasias
de toda ordem e debates internos
de alta voltagem, essa auto-exposição na internet é reveladora das
inseguranças e apontam, muitas
vezes, para um vazio afetivo e
uma idealização da figura do outro, geralmente idealizado e intangível. "Sou sincera e carinhosa,
mas há quem me julgue sombria e
estranha... Procuro um homem
de bem com a vida e romântico",
diz uma das personagens virtuais
da qual Bierrenbach se apropriou
da frase.
Mas "Através do Vidro de
Olhar" avança para além dessa
questão dos sites de encontro e
coloca em xeque, também, o próprio "site" da arte: a sala de exposição. Ao dar as costas para o cubo
branco, o qual deveria abrigar
suas obras, a artista opta por se
expor na rua, ainda que nessa fuga ela seja interceptada pela porta
da galeria e permaneça ali prensada, asfixiada, desesperada.
Se é verdade que a obra de arte
só acontece de fato no espectador,
é preciso também ir na direção de
novos públicos, expor-se na calçada, chamar a atenção, mostrar a
cara para quem passa e sussurrar
propostas absurdas no seu ouvido. Boa questão para ser pensada
num momento em que o acesso
gratuito à Bienal Internacional de
São Paulo está sendo taxado de
populista por alguns críticos.
É certo que essa busca alucinada
por um outro espelha, no fundo, o
desencontro consigo próprio. Em
"Através do Vidro de Olhar" a
mesma busca é empreendida por
artistas em busca de um público
novo a ser seduzido pelas suas artimanhas estéticas. A arte contemporânea se extrapola para
além do cubo branco não para negá-lo, mas para ampliar suas possibilidades.
Através do Vidro de Olhar
Artista: Cris Bierrenbach
Onde: Base7 (r. Cônego Eugênio Leite,
639, SP, tel. 0/xx/11/3088-4530)
Quando: em cartaz de segunda a sexta,
das 10h às 18h; a mostra vai até o dia 15
de outubro
Quanto: entrada franca
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