São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS

Yoko Ono, viúva do beatle, expõe em NY obra gráfica do músico

Mostra "festeja" 64 anos de Lennon

ALLAN KOZINN
DO "NEW YORK TIMES"

Não é um aniversário normalmente celebrado -não termina em zero ou cinco. Mas John Lennon teria completado 64 anos no sábado. E, já que um dos clássicos do cancioneiro de Lennon e McCartney é a canção "When I'm Sixty-Four" (Quanto Eu Tiver 64), Yoko Ono, viúva de Lennon, achou que a ocasião merecia uma celebração pública.
Ono preparou dois novos discos. O primeiro é uma versão remasterizada e expandida do álbum "Rock'n'Roll" (1975). O segundo, "Acoustic", traz 17 de suas canções, em versões tanto conhecidas quanto inéditas. Os discos saem no começo de novembro.
Para celebrar o aniversário em si, Ono montou em galeria do SoHo "When I'm Sixty-Four", exposição dos desenhos, caricaturas e esboços produzidos por Lennon.
"Não acredito que a maioria das pessoas conheça o trabalho de John como artista", diz Ono. "A maior parte das pessoas conhece a música dele, mas creio que essa ainda seja uma sociedade estranha. Querem rotular as pessoas -tem sempre quem diga que ele era músico, mas pouca gente quer saber que era também artista [plástico]. No começo, era difícil exibir o trabalho dele, porque as galerias diziam que não trabalhavam com astros pop, e a conversa se encerrava ali."
A arte de Lennon provavelmente é mais conhecida do que Ono imagina. Quem acompanhou os Beatles de perto nos anos 60 a encontrou nos livros de Lennon, "In His Own Write" (1964) e "A Spaniard in the Works" (1965), com estranhos desenhos cômicos, prosa curta e poesia.
Desde o assassinato de Lennon, em 1980, Ono publicou diversos livros com seus desenhos e usou sua arte em cartões para festas, gravatas de seda e até mesmo na capa de diversas coletâneas em CD, incluindo a trilha da biografia cinematográfica "Imagine: John Lennon" e "Lennon Anthology", uma compilação de faixas excluídas dos discos do compositor.
A mostra, que inclui manuscritos com letras de música (concluídas e em processo), além dos desenhos de Lennon, está em exibição há uma década, passando por diversas cidades norte-americanas. Ono diz que muda algumas peças em cada nova cidade e que ainda tem desenhos que ninguém deve ter visto.
"De vez em quando", diz, "descubro um desenho nas páginas de um livro que ele estava lendo, como uma espécie de improviso rápido. Não tenho idéia do número total de desenhos. Jamais produzi um catálogo definitivo."
Lennon e Ono parecem ter guardado todos os pedaços de papel em que ele garatujava. Ao vender esses desenhos em livros e cartões, Ono os adocicou ligeiramente, acrescentando traços de cor onde havia simples contornos. A idéia não foi dela, diz, mas de consultores de marketing.
"Quando trouxeram os desenhos coloridos, achei um sacrilégio", disse. "Perguntei o motivo, e responderam que as lojas não exibiam desenhos preto-e-branco em suas vitrines. Objetei, como artista. Mas, depois de viver com John no mundo do rock, sabia que às vezes a gravadora liga sugerindo isso ou aquilo, e que aceitávamos algumas idéias e rejeitávamos outras. É preciso ser prático. Aprovei as cores, mas só se eu cuidasse do trabalho. As que eles tinham proposto eram fortes demais, distorciam o trabalho de John. Usei cores mais discretas, para não atrapalhar a arte."


Tradução de Paulo Migliacci


Texto Anterior: Olhar pré-histórico: "Megafauna" determinava cotidiano dos antepassados
Próximo Texto: Conto inédito: Paula
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.