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ARTES PLÁSTICAS
Yoko Ono, viúva do beatle, expõe em NY obra gráfica do músico
Mostra "festeja" 64 anos de Lennon
ALLAN KOZINN
DO "NEW YORK TIMES"
Não é um aniversário normalmente celebrado -não termina
em zero ou cinco. Mas John Lennon teria completado 64 anos no
sábado. E, já que um dos clássicos
do cancioneiro de Lennon e
McCartney é a canção "When I'm
Sixty-Four" (Quanto Eu Tiver 64),
Yoko Ono, viúva de Lennon,
achou que a ocasião merecia uma
celebração pública.
Ono preparou dois novos discos. O primeiro é uma versão remasterizada e expandida do álbum "Rock'n'Roll" (1975). O segundo, "Acoustic", traz 17 de suas
canções, em versões tanto conhecidas quanto inéditas. Os discos
saem no começo de novembro.
Para celebrar o aniversário em
si, Ono montou em galeria do SoHo "When I'm Sixty-Four", exposição dos desenhos, caricaturas e
esboços produzidos por Lennon.
"Não acredito que a maioria das
pessoas conheça o trabalho de
John como artista", diz Ono. "A
maior parte das pessoas conhece
a música dele, mas creio que essa
ainda seja uma sociedade estranha. Querem rotular as pessoas
-tem sempre quem diga que ele
era músico, mas pouca gente quer
saber que era também artista
[plástico]. No começo, era difícil
exibir o trabalho dele, porque as
galerias diziam que não trabalhavam com astros pop, e a conversa
se encerrava ali."
A arte de Lennon provavelmente é mais conhecida do que Ono
imagina. Quem acompanhou os
Beatles de perto nos anos 60 a encontrou nos livros de Lennon, "In
His Own Write" (1964) e "A Spaniard in the Works" (1965), com
estranhos desenhos cômicos,
prosa curta e poesia.
Desde o assassinato de Lennon,
em 1980, Ono publicou diversos
livros com seus desenhos e usou
sua arte em cartões para festas,
gravatas de seda e até mesmo na
capa de diversas coletâneas em
CD, incluindo a trilha da biografia
cinematográfica "Imagine: John
Lennon" e "Lennon Anthology",
uma compilação de faixas excluídas dos discos do compositor.
A mostra, que inclui manuscritos com letras de música (concluídas e em processo), além dos desenhos de Lennon, está em exibição há uma década, passando por
diversas cidades norte-americanas. Ono diz que muda algumas
peças em cada nova cidade e que
ainda tem desenhos que ninguém
deve ter visto.
"De vez em quando", diz, "descubro um desenho nas páginas de
um livro que ele estava lendo, como uma espécie de improviso rápido. Não tenho idéia do número
total de desenhos. Jamais produzi
um catálogo definitivo."
Lennon e Ono parecem ter
guardado todos os pedaços de papel em que ele garatujava. Ao vender esses desenhos em livros e
cartões, Ono os adocicou ligeiramente, acrescentando traços de
cor onde havia simples contornos. A idéia não foi dela, diz, mas
de consultores de marketing.
"Quando trouxeram os desenhos coloridos, achei um sacrilégio", disse. "Perguntei o motivo, e
responderam que as lojas não exibiam desenhos preto-e-branco
em suas vitrines. Objetei, como
artista. Mas, depois de viver com
John no mundo do rock, sabia
que às vezes a gravadora liga sugerindo isso ou aquilo, e que aceitávamos algumas idéias e rejeitávamos outras. É preciso ser prático. Aprovei as cores, mas só se eu
cuidasse do trabalho. As que eles
tinham proposto eram fortes demais, distorciam o trabalho de
John. Usei cores mais discretas,
para não atrapalhar a arte."
Tradução de Paulo Migliacci
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