São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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Coleção Folha lembra Charlie Parker

Livro-CD que chega às bancas no domingo retraça carreira de virtuose do sax

DA REPORTAGEM LOCAL

Se a improvisação faz parte da essência do jazz, então poucos jazzistas foram tão essenciais quanto o saxofonista Charlie Parker (1920-1955), genial improvisador que é o tema do volume 4 da Coleção Folha Clássicos do Jazz, que chega às bancas neste domingo.
Com absoluto domínio técnico de seu instrumento, Parker era um virtuose consumado, que conseguia combinar a mais complexa organização harmônica, rítmica e melódica com uma clareza muito rara de encontrar em instrumentistas anteriores ou posteriores à sua atuação.
Para Parker, improvisar não era simplesmente tomar uma melodia original e construir variações sobre ela. Quando o saxofonista pegava um tema qualquer como base para criar, o que o interessava não era a melodia, e sim a harmonia. Era o esqueleto harmônico do tema original que ele utilizava como ponto de partida e estímulo para suas digressões, nas quais uma mescla cativante de garra e fantasia constituía a regra.
Foi assim que, no pós-guerra, ao lado do trompetista Dizzy Gillespie (cuja obra será repassada no volume 16 da Coleção Folha), Parker tornou-se um dos fundadores do bebop, o novo estilo sofisticado com o qual o jazz se tornaria definitivamente música "para ouvir", substituindo a música "para dançar" que havia sido a marca das big bands dos anos 40.
Consumido pelo álcool e pelas drogas, Parker teve uma existência breve e trágica, que inspirou criadores como o escritor argentino Julio Cortázar (que se inspirou nele para delinear o personagem central do conto "O Perseguidor") e o cineasta Clint Eastwood (que recebeu seu primeiro Globo de Ouro com o filme "Bird", de 1988, estrelado por Forest Whitaker, o qual, por sua vez, levou o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes graças a este trabalho).
A biografia de Parker contabilizou duas tentativas de suicídio e uma longa internação em um sanatório, antes de chegar ao fim, aos 34 anos -o estrago causado em seu corpo pela vida desregrada era tão grande que o legista atribuiu ao morto a idade de 53 anos.
O disco da Coleção Folha documenta o saxofonista no auge, em gravações ao vivo no clube Storyville, em Boston, em 1953. Ao lado de instrumentistas do naipe de Red Garland (pianista que, mais tarde, tocaria com Miles Davis) e dos bateristas Roy Haynes e Kenny Clarke, Parker está completamente à vontade, improvisando com a fluência e a desenvoltura que eram suas marcas registradas.
A curiosidade é que essas apresentações foram originalmente registradas por meio de transmissões de rádio. Então, no final de algumas faixas, ouve-se a voz do locutor da emissora, dando um toque especial aos fonogramas.


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