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Coleção Folha lembra Charlie Parker
Livro-CD que chega às bancas no domingo retraça carreira de virtuose do sax
DA REPORTAGEM LOCAL
Se a improvisação faz parte
da essência do jazz, então poucos jazzistas foram tão essenciais quanto o saxofonista
Charlie Parker (1920-1955), genial improvisador que é o tema
do volume 4 da Coleção Folha
Clássicos do Jazz, que chega às
bancas neste domingo.
Com absoluto domínio técnico de seu instrumento, Parker
era um virtuose consumado,
que conseguia combinar a mais
complexa organização harmônica, rítmica e melódica com
uma clareza muito rara de encontrar em instrumentistas anteriores ou posteriores à sua
atuação.
Para Parker, improvisar não
era simplesmente tomar uma
melodia original e construir variações sobre ela. Quando o saxofonista pegava um tema
qualquer como base para criar,
o que o interessava não era a
melodia, e sim a harmonia. Era
o esqueleto harmônico do tema
original que ele utilizava como
ponto de partida e estímulo para suas digressões, nas quais
uma mescla cativante de garra
e fantasia constituía a regra.
Foi assim que, no pós-guerra,
ao lado do trompetista Dizzy
Gillespie (cuja obra será repassada no volume 16 da Coleção
Folha), Parker tornou-se um
dos fundadores do bebop, o novo estilo sofisticado com o qual
o jazz se tornaria definitivamente música "para ouvir",
substituindo a música "para
dançar" que havia sido a marca
das big bands dos anos 40.
Consumido pelo álcool e pelas drogas, Parker teve uma
existência breve e trágica, que
inspirou criadores como o escritor argentino Julio Cortázar
(que se inspirou nele para delinear o personagem central do
conto "O Perseguidor") e o cineasta Clint Eastwood (que recebeu seu primeiro Globo de
Ouro com o filme "Bird", de
1988, estrelado por Forest Whitaker, o qual, por sua vez, levou
o prêmio de melhor ator no
Festival de Cannes graças a este trabalho).
A biografia de Parker contabilizou duas tentativas de suicídio e uma longa internação em
um sanatório, antes de chegar
ao fim, aos 34 anos -o estrago
causado em seu corpo pela vida
desregrada era tão grande que o
legista atribuiu ao morto a idade de 53 anos.
O disco da Coleção Folha documenta o saxofonista no auge,
em gravações ao vivo no clube
Storyville, em Boston, em 1953.
Ao lado de instrumentistas do
naipe de Red Garland (pianista
que, mais tarde, tocaria com
Miles Davis) e dos bateristas
Roy Haynes e Kenny Clarke,
Parker está completamente à
vontade, improvisando com a
fluência e a desenvoltura que
eram suas marcas registradas.
A curiosidade é que essas
apresentações foram originalmente registradas por meio de
transmissões de rádio. Então,
no final de algumas faixas, ouve-se a voz do locutor da emissora, dando um toque especial
aos fonogramas.
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