São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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Exposição reúne os vencedores do Turner

Damien Hirst, Anish Kapoor e Antony Gormley estão na retrospectiva

Obras do prêmio criado para dar maior visibilidade aos novos artistas do Reino Unido fica em cartaz até janeiro em Londres


RAFAEL CARIELLO
DE LONDRES

A alma do negócio da arte contemporânea britânica está agora em exposição na Tate Britain, em Londres, um dos principais museus do país.
O Turner Prize, criado para dar maior visibilidade aos novos artistas do Reino Unido _e, conseqüentemente, maior valor financeiro para suas criações Ä, ganha sua primeira exposição retrospectiva. "The Turner Prize: A Retrospective" abriu suas salas ao público na semana passada e segue assim até janeiro de 2008.
Marcado por polêmicas e questionamentos do valor artístico das obras que seleciona, o prêmio anual organizado pela Tate e que tem como parceiro o jornal "The Guardian" conta entre seus ganhadores, desde 1984, artistas como o hoje já velho "enfant terrible" da arte britânica, Damien Hirst, o escultor nascido na Índia, Anish Kapoor, e o também escultor, autor de obras de grandes dimensões no Reino Unido, Antony Gormley.
A sensação que se tem ao percorrer as salas em que estão representados todos os vencedores do prêmio nos últimos 23 anos, no entanto, convida mais ao silêncio e à introspecção que a algaravia produzida anualmente pelo Turner. Entre os temas dos artistas escolhidos estão a morte (caso de Hirst), o vazio (Kapoor) e o silêncio (Gillian Wearing).
Simultaneamente ao Turner, boa parte dos artistas que ali aparecem _ caso de Hirst e de Wearing _, ganhou notoriedade _ e fez barulho _ nos anos 90 a partir de sua comercialização pela galeria Saatchi, que os batizou e vendeu sob o selo "Young British Artists".
Em 1989, a lista de finalistas incluía Lucien Freud e a portuguesa Paula Rego (que estudou no Reino Unido e é representada pela Saatchi), nomes consagrados de gerações anteriores à dessa turma. Em 1991, Kapoor foi o escolhido entre os quatro finalistas.
Sua obra vencedora apresenta ao visitante três semi-esferas com suas partes côncavas voltadas para um ponto central. Dali se vê seus interiores, pintados de azul escuro. É fácil perceber onde as bordas começam, mas, por causa da cor e da forma da concavidade, o olhar se perde ao tentar ver o fundo dos objetos, cada vez mais escuros. De frente, eles parecem um disco em que o centro desaparece.
Os curadores explicam a sensação criada pelo artista como a de um "não-espaço", e ele mesmo diz: "O vazio é realmente um estado interior; tem a ver com o medo e com a escuridão".
Está lá também a polêmica obra de Hirst "Mother and Child, Divided" _ uma vaca e um bezerro cortados ao meio, com suas metades contidas em grandes aquários de formal, de modo que o espectador pode vê-los em sua aparência exterior ou desde dentro, com as vísceras à mostra.
Ele afirma que usa esse tipo de recurso para tornar "aspectos da vida e da morte" novamente "visíveis".
A obra despertou nova polêmica antes mesmo da abertura da mostra, devido ao vazamento de parte do formol de um dos aquários. Hirst veio a público dizer que procura fazer a manutenção de seus objetos, mas que esperar que uma obra seja materialmente permanente é um erro.
O crítico de arte do "Guardian", parceiro da exposição, atacou o prêmio Turner na semana passada. Jonathan Jones disse que, sim, Hirst, por exemplo, é brilhante, mas que a escolha não tem critérios claros e parece reforçar uma das mais antigas idéias sobre arte no ocidente: a de gênios natos. "Quando você se livra de conquistas técnicas [como critério], da excelência na pintura ou na escultura como padrão de comparação, só lhe resta a crença messiânica no artista inspirado", escreveu Jones no seu jornal.
O interessante é que, seguindo sua lógica de publicidade, qualquer coisa que se diga sobre o Turner, mesmo que negativa, termina trabalhando a seu favor e à celebrização dos artistas que escolhe. A algaravia deve acontecer em dose dupla neste ano, já que, além da retrospectiva, na Tate, os finalistas do prêmio em si passam a ser expostos em Liverpool a partir do dia 19 deste mês.


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