São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2010

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"Fizemos algo melhor que "Sgt. Pepper's"

Ian McCulloch, que volta ao Brasil com o Echo & The Bunnymen, diz não se identificar com disco dos Beatles

Grupo inglês toca hoje em São Paulo; líder da banda diz que show no Rio, em 1987, foi um dos melhores que já fizeram

PAULO RICARDO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1983, eu morava em Londres, trabalhando como correspondente, e recebia pacotes promocionais de lançamentos das gravadoras pelo correio.
Para um garoto brasileiro de 20 anos, um sonho. Num ano esplendoroso para o pop rock inglês, uma banda me chamou particularmente a atenção: Echo & The Bunnymen, com o álbum "Porcupine" e o single "The Cutter".
Um pós-punk glacial, na época, chamado de "cold wave", um riff oriental, uma canção direta, mas com clima épico, um refrão mortal.
Em 1987, passado o furacão "Rádio Pirata - Ao Vivo", eu servia de consultor ao nosso empresário, Manoel Poladian, para assuntos internacionais. Echo & The Bunnymen e The Cure fizeram parte da minha lista.
Sabia que o Echo não era tão popular quanto o Cure, mas naquele show no Canecão começava uma história de amor da banda com o país que perdura até hoje.
Quando a Ilustrada me pediu para conversar ao telefone com Ian McCulloch, confesso que tremi na base.
Grande cantor/compositor, referência na minha geração, esperava encontrar um inglês lacônico, blasé e que tratasse o Brasil como a periferia do mundo.
O que não foi absolutamente o caso, muito pelo contrário, como veremos nesta entrevista, onde ele, de Liverpool, fala de David Bowie e futebol.

Folha - Olá Ian, de volta a São Paulo! Ian McCulloch - Sim, apresentamos este show apenas em Londres, Liverpool e Nova York, então irmos a São Paulo é uma prova da sintonia que temos com a cidade. Em muitos aspectos, ela se parece muito com Liverpool (cidade natal da banda, de onde Ian falava).

À época de seu lançamento, "Ocean Rain" foi chamado de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" [disco dos Beatles] dos anos 1980. Definitivamente, "Ocean Rain" é o melhor álbum dos 1980 e "Heaven Up Here" [segundo álbum da banda], o segundo melhor. Ele é tão diferente de tudo o que se fazia na época, optamos por não usar sintetizadores e sim cordas de verdade. Não queríamos o som de plástico da época, e sim um verdadeiro álbum de rock. De certa forma, ele é até melhor que "Sgt. Pepper"s...", pois não há nenhuma bobagem do tipo "When I'm 64".

Mas sendo de Liverpool, você não diria que os Beatles foram uma grande influência? Na verdade, não. Quando eu era garoto, ouvia muito Bowie, Velvet Underground, Leonard Cohen, Roxy Music, este tipo de coisa. Nunca me identifiquei com "I Wanna Hold Your Hand" (faz voz de deboche).

A revista inglesa "Q Magazine" publicou uma lista com os cem maiores "frontmen" [líderes de banda] do mundo, você viu? Oh, sim, eu estava em 84º, mas, para ser sincero, eu acho que estou entre os 20 melhores. (risos)

Eu concordo. Muito obrigado (em português).

Eu fui um dos responsáveis pela vinda do grupo em 1987. Você tem alguma lembrança em especial daqueles shows no Canecão? Sim, me lembro de tudo! Foram alguns dos melhores shows que já fizemos, rodamos um clipe para a canção "The Game", nosso melhor vídeo. Um lugar incrível. Eu não conseguia ir embora, não queria voltar pra casa, ali havia se tornado uma espécie de casa espiritual. Eu mudei meu voo várias vezes.

A "Q Magazine" disse que você trouxe um toque de Frank Sinatra para o rock. Você se vê fazendo algo como o Robbie Williams fez, regravando o velho Frank? Com Sinatra não, mas adoraria fazer um álbum acústico apenas com canções de David Bowie, coisas como "Heroes", "Fantastic Voyage", "Changes"... talvez daqui a alguns anos. Bowie é um intérprete subestimado, mas é um grande cantor.

Grande ideia! Eu te mando uma cópia!

Algum recado para os fãs do Brasil? Vou confessar uma coisa: adoro música, mas meu sonho era ser centroavante do Liverpool F.C.! Da última vez que estive no Brasil, fui ver São Paulo x Palmeiras. Adoro o futebol brasileiro!


PAULO RICARDO é cantor e compositor

ECHO & THE BUNNYMEN
QUANDO hoje, às 21h30
ONDE Credicard Hall (Av. das Nações Unidas, 17.955; tel. 0/xx/11/4003-6464)
QUANTO de R$ 120 e R$ 250
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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