FRED MELO PAIVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM BUENOS AIRES

"Olê, olê, olê, olê, Pixies, Pixies!" É assim, estilo Boca Juniors, que se recebem as bandas na Argentina.
Na quarta-feira passada, quando os Pixies tocaram em Buenos Aires, uma nuvem de fumaça estacionou-se sobre nossas cabeças.
Aqui se fuma em qualquer lugar e se fuma uma maconha danada. Mas na tradicional casa de espetáculos Luna Park é proibido vender cerveja, só se bebe Coca-Cola.
Os Pixies abriram o primeiro show da banda na Argentina com "Bone Machine" e "Broken Face". São clássicos do disco "Surfer Rosa", de 1988, que os tornou famosos.
O vocalista e guitarrista Frank Black parece o escritor mato-grossense Joca Reiners Terron. Kim Deal, a baixista e também vocalista, seria uma Fernanda Takai se esta tivesse cabulado um semestre de aulas, quiçá três, na academia de ginástica.
Da sexta música em diante, Black, Deal, Joey Santiago (guitarra) e David Lovering (bateria) destrincham o disco "Doolittle" (1989), o motivo da turnê, que desde o ano passado celebra os 20 anos do melhor álbum da banda.
A partir de "Debaser", as músicas são tocadas na ordem original. Ficam de fora apenas três.
Nos primeiros acordes de "Here Comes Your Man", Black sacoleja sua cabeça careca, como a resignar-se com o fato de ter feito tanto barulho para, no fim, ser lembrado mesmo por aquela baladinha que só perde em inocência melódica para "La La Love You", apropriadamente cantada por Lovering.
Enquanto os Pixies devolviam nosotros aos acnes dos anos 80, fãs fustigados pela marijuana bocejavam prontos para uma soneca.
Mas o final foi de levantar Evita na Recoleta, com "Gouge Away" fazendo sacudir os pelos avantajados dos nossos vizinhos. "Planet of Sound", canção do derradeiro "Trompe Le Monde" (1991), encerrou o segundo e último bis.
Resume a ópera dos Pixies: ora punk, ora uma envolvente melodia. Lembra Stooges, que veio antes, mas também Nirvana e Radiohead, que vieram depois. Argentinos cabeludos e enlouquecidos. E a Coca-Cola rolando solta.