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Bienal exibe curta de Akerman sobre o anoitecer em Xangai
Filme codirigido por Nuno Ramos também terá sessão hoje
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Cai a noite em Xangai. Navios deslizam num horizonte
líquido, desdobrados em reflexos que disputam a atenção com os painéis luminosos nas fachadas dos prédios. Um turbilhão amortecido de cores enche os olhos.
A cineasta belga Chantal
Akerman retrata no curta
"Tombée de Nuit sur Shangaï", que será exibido hoje na
Bienal de São Paulo, o anoitecer na metrópole chinesa.
Se na instalação que mostra no mesmo pavilhão no
Ibirapuera é Moscou que
aparece sem disfarces, Xangai aqui é um contraponto
longe do trauma e das memórias, mergulhada na cacofonia insossa da globalização.
Frequências do rádio se
misturam como trilha sonora. Música pop grudenta,
uma versão latina de "I Will
Survive", lounge. É a massa
amorfa de sons, que sublinha a indistinção atroz de um lugar como todos outros.
Cartuns, flores tridimensionais, vermelhos hemorrágicos e ideogramas em chuva
perpétua formam uma cortina para o anonimato.
Nesse, como noutros filmes da cineasta, nada parece
acontecer. Ela cerca um bloco qualquer do tempo para
enquadrar no espaço do fotograma. Ressalta o nada para
embelezar a vida como ela é.
É a mesma melancolia fluida de "Iluminai os Terreiros", filme de Nuno Ramos,
Eduardo Climachauska e
Gustavo Moura, que também
passa hoje. Na terra vermelha, mineiros dão cara a tragédias também anônimas.
Um velho explora um túnel que lembra uma gruta.
Leva na mão uma única lanterna, como Jonas no estômago da baleia. Vigas no teto
lembram uma espinha dorsal, poças de lama são o estofo orgânico dessa jornada.
Há menos pirotecnia no
terreiro, mas parece haver a
mesma busca sôfrega por algum sentido, uma luz no fim
do túnel mais específica do
que o nada, mais bela do que
o anoitecer publicitário no
"skyline" de Xangai.
TOMBÉE DE NUIT SUR SHANGA$ E ILUMINAI OS TERREIROS
ONDE 29ª Bienal de São Paulo (parque Ibirapuera - portão 3; tel. 0/xx/11 5576-7600)
QUANDO hoje, às 10h15 e às 15h)
QUANTO grátis
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