São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2000

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MIX 2000
Projeção de "Olympia", que retrata exaltação ao nazismo, é criticada por liderança judaica e por movimento gay
Exibição de fita nazista polemiza festival

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL


O Mix 2000, festival com temática homossexual que teve início na última quinta, em São Paulo, exibe hoje o filme "Olympia", da alemã Leni Riefenstahl, uma exaltação ao nazismo por meio de imagens da Olimpíada de 36, em Berlim.
André Fischer, organizador do evento, explica: "Escolhemos "Olympia" porque também exibimos no festival o filme "Parágrafo 175", que retrata a perseguição do nazismo ao gays. É também uma maneira de questionar a apropriação pela cultura gay do culto ao corpo".
Mesmo assim, Fischer solicitou reforço na segurança do Centro Cultural, onde será exibido o filme, para evitar complicações.
Da Espanha, onde participa de um seminário sobre o Brasil, Luiz Mott, secretário de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis, condenou a exibição. "O nazismo dizimou 300 mil homossexuais, a projeção no festival contradiz com o sofrimento dos gays no regime de Hitler", disse à Folha.
A crítica é partilhada pelo rabino Henry Sobel, presidente da Congregação Israelita Paulista: "Acho estranho que seja incluído num festival dedicado à cultura gay o filme "Olympia", que faz apologia ao nazismo e à suposta superioridade da raça ariana".
Sobel afirma que "Riefenstahl era a cineasta predileta de Hitler". "Quem traz tal "recomendação" em seu currículo não cabe na agenda cultural das vítimas de Hitler."
Já o escritor João Silvério Trevisan, autor de "Devassos no Paraíso", um estudo sobre homossexualidade no Brasil, não condena a projeção. "É interessante resgatar a estética nazista para uma análise que não seja dentro dos conceitos pró-Hitler", diz. "Além do mais, há um culto ao corpo na cena gay que é narcísico e doentio e pode ser revisto pelo filme."
A historiadora da USP Maria Luiza Tucci Carneiro afirma que "o filme deve ser interpretado com limites, para que os valores ideológicos não sejam ressaltados".
Mesmo assim, Maria Luiza acredita que "tanto o filme como a postura da cultura gay possuem pontos em comum, como a teatralização do corpo e a busca da perfeição física".
A professora, que participou da Comissão Especial de Apuração de Patrimônios Nazistas, em 1997, aponta como exemplo a história de um ex-filiado ao partido nazista que veio ao Brasil em 39. "Provavelmente ele veio para cá fugindo, porque era gay."
O filme citado por Fischer, que no festival faz contraponto à "Olympia" é "Parágrafo 175", de Robert Epstein e Jeffrey Friedman, e será exibido amanhã e na próxima terça. A produção recebeu o prêmio de melhor direção de documentários no Sundance Festival, este ano.
Com narração do ator Ruppert Everett, o documentário apresenta depoimentos de cinco homossexuais perseguidos pelo nazismo. De maneira comovente, eles relatam suas experiências desde o descobrimento da homossexualidade até os sofrimentos em campos de concentração.
O filme apresenta um retrato da Alemanha antes e durante o nazismo. Nos anos 20 e 30, era reconhecido o liberalismo da sociedade germânica, para onde convergiam gays de toda a Europa.
A produção também faz um perfil de Ernest Röhm, um dos mais importantes assistentes de Hitler e gay reconhecido. Ele era o comandante da SA (tropa de choque nazista), até julho de 34, quando foi assassinado, num massacre junto com vários outros oficiais homossexuais. O parágrafo 175 era o instrumento legal que permitia a condenação dos gays.


Olympia 2 - Celebração da Beleza
Direção: Leni Riefenstahl Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1000, tel. 0/xx/11/3277.3611) Quando: hoje, 15h e 19h

Parágrafo 175
Direção: Robert Epstein e Jeffrey Friedman Onde: Unibanco 1 (r. Augusta, 1.475, tel. 0/ xx/11.3048-7405) Quando: dia 12, 18h; dia 14, 24h


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