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MIX 2000
Projeção de "Olympia", que retrata exaltação ao nazismo, é criticada por liderança judaica e por movimento gay
Exibição de fita nazista polemiza festival
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Mix 2000, festival com temática homossexual que teve início
na última quinta, em São Paulo,
exibe hoje o filme "Olympia", da
alemã Leni Riefenstahl, uma exaltação ao nazismo por meio de
imagens da Olimpíada de 36, em
Berlim.
André Fischer, organizador do
evento, explica: "Escolhemos
"Olympia" porque também exibimos no festival o filme "Parágrafo
175", que retrata a perseguição do
nazismo ao gays. É também uma
maneira de questionar a apropriação pela cultura gay do culto
ao corpo".
Mesmo assim, Fischer solicitou
reforço na segurança do Centro
Cultural, onde será exibido o filme, para evitar complicações.
Da Espanha, onde participa de
um seminário sobre o Brasil, Luiz
Mott, secretário de Direitos Humanos da Associação Brasileira
de Gays, Lésbicas e Travestis, condenou a exibição. "O nazismo dizimou 300 mil homossexuais, a
projeção no festival contradiz
com o sofrimento dos gays no regime de Hitler", disse à Folha.
A crítica é partilhada pelo rabino Henry Sobel, presidente da
Congregação Israelita Paulista:
"Acho estranho que seja incluído
num festival dedicado à cultura
gay o filme "Olympia", que faz
apologia ao nazismo e à suposta
superioridade da raça ariana".
Sobel afirma que "Riefenstahl
era a cineasta predileta de Hitler".
"Quem traz tal "recomendação"
em seu currículo não cabe na
agenda cultural das vítimas de Hitler."
Já o escritor João Silvério Trevisan, autor de "Devassos no Paraíso", um estudo sobre homossexualidade no Brasil, não condena
a projeção. "É interessante resgatar a estética nazista para uma
análise que não seja dentro dos
conceitos pró-Hitler", diz. "Além
do mais, há um culto ao corpo na
cena gay que é narcísico e doentio
e pode ser revisto pelo filme."
A historiadora da USP Maria
Luiza Tucci Carneiro afirma que
"o filme deve ser interpretado
com limites, para que os valores
ideológicos não sejam ressaltados".
Mesmo assim, Maria Luiza
acredita que "tanto o filme como
a postura da cultura gay possuem
pontos em comum, como a teatralização do corpo e a busca da
perfeição física".
A professora, que participou da
Comissão Especial de Apuração
de Patrimônios Nazistas, em 1997,
aponta como exemplo a história
de um ex-filiado ao partido nazista que veio ao Brasil em 39. "Provavelmente ele veio para cá fugindo, porque era gay."
O filme citado por Fischer, que
no festival faz contraponto à
"Olympia" é "Parágrafo 175", de
Robert Epstein e Jeffrey Friedman, e será exibido amanhã e na
próxima terça. A produção recebeu o prêmio de melhor direção
de documentários no Sundance
Festival, este ano.
Com narração do ator Ruppert
Everett, o documentário apresenta depoimentos de cinco homossexuais perseguidos pelo nazismo. De maneira comovente, eles
relatam suas experiências desde o
descobrimento da homossexualidade até os sofrimentos em campos de concentração.
O filme apresenta um retrato da
Alemanha antes e durante o nazismo. Nos anos 20 e 30, era reconhecido o liberalismo da sociedade germânica, para onde convergiam gays de toda a Europa.
A produção também faz um
perfil de Ernest Röhm, um dos
mais importantes assistentes de
Hitler e gay reconhecido. Ele era o
comandante da SA (tropa de choque nazista), até julho de 34,
quando foi assassinado, num
massacre junto com vários outros
oficiais homossexuais. O parágrafo 175 era o instrumento legal que
permitia a condenação dos gays.
Olympia 2 - Celebração da Beleza
Direção: Leni Riefenstahl
Onde: Centro Cultural São Paulo (r.
Vergueiro, 1000, tel. 0/xx/11/3277.3611)
Quando: hoje, 15h e 19h
Parágrafo 175
Direção: Robert Epstein e Jeffrey
Friedman
Onde: Unibanco 1 (r. Augusta, 1.475, tel.
0/ xx/11.3048-7405)
Quando: dia 12, 18h; dia 14, 24h
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