São Paulo, sexta-feira, 11 de novembro de 2005

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LITERATURA NO CINEMA

Divulgado por conta do documentário de Miguel Faria Jr., que estréia hoje, texto aborda a amizade

Poema inédito vem à luz com "Vinicius"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Avesso a elucubrações teóricas, "Vinicius", o documentário de Miguel Faria Jr. que estréia hoje, tem o afeto e a amizade como dois de seus protagonistas. Não por acaso, as duas palavras estão em "For Fred", singelo poema inédito que Vinicius de Moraes escreveu em 1974 para Fred Sill.
Panamenho de cidadania norte-americana, Sill trabalhou por 40 anos na multinacional do cinema Paramount, hoje UIP. Enviado pela empresa, morou no Rio entre 1963 e 67, quando se tornou amigo de Vinicius.
Transferido para Buenos Aires entre 68 e 71, recebeu o poeta e seu parceiro Toquinho várias vezes em sua casa. "Vinicius dizia que preferia dormir no chão do meu apartamento do que na suíte de um hotel, pois não gostava de ficar sozinho", conta Sill, 70, que se radicou em Copacabana depois de se aposentar nos EUA.
Em Londres, sua parada em 74, Sill voltou a abrigar Vinicius. Durante uma noite, o poeta bebeu uísque, ouviu música, viu um livro de fotos de Marilyn Monroe e, ao amanhecer, saiu deixando o agradecido bilhete em versos, em que se refere às coisas que fez e chama o alto e magro amigo de "caniço pensante".
"Quando Vinicius morreu, escrevi uma carta para a família dizendo que imaginava que muita gente tivesse poemas dele, mas que, se quisessem, eu tinha mais um. Não tive resposta, mas agora, depois de ver o filme, resolvi entregar o poema, que é mais uma lembrança pessoal", diz Sill, que por anos teve o manuscrito emoldurado ao lado de sua mesa de trabalho.
A pedido de Vinicius, Sill traduziu "Orfeu da Conceição" para o inglês, mas a peça nunca chegou à Broadway, como se cogitava nos anos 60. Ele, que acompanhou o amigo em várias noitadas boêmias ("Ele às vezes brincava: "Você é o único gringo que presta'", conta), diz que gostou do filme, mas que Vinicius talvez não gostasse de uma coisa. "No fundo, era um tímido, não gostava que todas as atenções estivessem voltadas para ele", diz, com humor.
Mas, no filme, Vinicius é alvo da atenção afetuosa de amigos, que dão depoimentos em um clima de informalidade, "um clima de bar", segundo Miguel Faria Jr..
"Fiz o filme pensando em que ele gostasse. Acho que ele não vai puxar meu pé", satisfaz-se Faria Jr., 60, que entrevistou Chico Buarque, Edu Lobo, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Ferreira Gullar, Antonio Candido e outros.
Segundo ele, a idéia inicial era fazer um filme de ficção, mas não lhe soava bem atores interpretando pessoas que estão vivas ou que morreram recentemente. Optou por um documentário entremeado por números musicais e poemas recitados pelos atores Camila Morgado e Ricardo Blat.
"Ao reler Vinicius agora, tomei um susto ao ver camadas e camadas que eu nunca tinha percebido. É uma obra que oferece muitas possibilidades diferentes", diz Faria, que foi casado com Susana de Moraes, filha do poeta, produtora e entrevistada do filme. A trilha de "Vinicius" já foi lançada em CD.


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